O Prêmio BeefPoint – Edição Confinamento vai homenagear quem faz a diferença nos confinamentos do Brasil. Essa é uma iniciativa do BeefPoint, e tem a Assocon como parceira. A premiação será feita durante o Interconf 2013, evento da Assocon que acontecerá nos dias 9 a 12 de setembro de 2013, em Goiânia/GO e que o BeefPoint está fazendo a curadoria de conteúdo.
Para conhecer melhor os finalistas, o BeefPoint preparou uma série de entrevistas que mostram o que eles têm feito para se destacar na pecuária de corte.
Confira abaixo a entrevista com Pedro Merola, um dos finalistas na categoria Carne de Qualidade em Confinamento.
Pedro Merola é formado na ESALQ-USP. É CEO da Fazenda Santa Fé e CEO da Bonsmara Beef. Nos últimos 6 anos, vem tentando levar o que há de melhor na fazenda para o consumidor final.
BeefPoint: O que você considera mais importante em um confinamento de gado de corte?
Pedro Merola: Em linhas gerais, o mais importante é você saber administrar o spread que existe entre: custo do boi magro + custo da arroba produzida = Custo total VS Preço de venda.
Tudo se resume a essa equação. Independente se você compra o boi magro, recria os animais ou faz o ciclo completo, o custo do boi magro na entrada do confinamento é o de maior peso na planilha de custos. É através da arroba produzida que o confinamento se diferencia dos demais e é possível saber a real eficiência do mesmo. Independentemente de o confinamento ser grande ou pequeno, existe um grande espaço de diferenciação dos demais, os melhores operadores que eu conheço são excelente nesse ponto.
O preço de venda você não comanda e não domina. Para mim, é um fator de risco que tem que ser minimizado pelo gestor, sendo através da BM&F ou venda a termo.
Quando você faz parte de um programa de qualidade de carne, essa equação é a mesma, só que você aumenta a exigência técnica necessária para ter sucesso na engorda e na entrega da carcaça ao programa, mas consequentemente a sua margem na operação é muito mais alta. No nosso caso, a margem aumenta em mais de 50%.
BeefPoint: Qual o maior desafio dos confinamentos no Brasil hoje?
Pedro Merola: Não saberia eleger somente um, estamos passando por uma fase de amadurecimento da cadeia como um todo, tanto os players que possuem confinamento como a cadeia frigorífica no Brasil. Mas para enumerar alguns:
1. Necessidade de se medir tudo que é importante: comprar animais no peso e conferir a quebra de peso da sua compra, medir o consumo de ração, conversão alimentar, rendimento de carcaça, perdas no processo de alimentação, etc.
2. O número de frigoríficos está muito baixo e infelizmente são poucos que possuem segurança financeira para o produtor poder comercializar com baixo risco.
3. O custo da tecnologia e de equipamentos para a indústria de confinamento está muito caro, o setor deveria ter acesso à importação de produtos sem tarifação, ou pelo menos, que seja a minimizada. Isso reduz a capacidade de investimentos e posterga a utilização de tecnologia.
BeefPoint: Qual projeto de confinamento você teve contato ou implementou nestes últimos anos, que considera um case de sucesso? Por quê?
Pedro Merola: A Fazenda Santa Fé, pois nos últimos 6 anos conseguiu sair de um modelo de confinamento onde era o maior player para um modelo onde os parceiros são os maiores players. Juntos, conseguem alcançar resultados financeiros maiores, baratearam a utilização de tecnologia, conseguiram dar à indústria uma maior previsibilidade, gerando uma premiação dos animais. Ganharam escala de qualidade, e os números gerais subiram muito.
BeefPoint: O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?
Pedro Merola: Como me sugeriram para o para o Prêmio de Carne de Qualidade em Confinamento, vou responder nesse tema.
Em 2012, com a compra das ações dos meus ex-sócios, que nos ajudaram a montar a Bonsmara Beef, eu pude dar início ao processo de preparação da empresa para atender o mercado de pessoa física em São Paulo. Essas ações foram: aumentar a quantidade de fornecedores com a mesma qualidade dos anteriores; aumentar a quantidade de frigoríficos parceiros para distribuir melhor os abates; criarmos uma outra carne para atender restaurantes, sendo a mesma de alta qualidade e nos mesmos processos da Bonsmara Beef.
Construímos todo o plano de negócios/marketing para implantarmos em 2013.
BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013? E por quê?
Pedro Merola: Lançar todo o plano de marketing que foi construído para a Bonsmara Beef e dobrar o volume de abates para 2014.
BeefPoint: Qual mensagem gostaria de deixar para os confinadores no Brasil?
Pedro Merola: O Brasil vai passar por um movimento gigantesco em confinamentos nos próximos 10 anos, eu imagino que sairemos dos 4,2MM de animais abatidos a cocho (uma estimativa é claro) para algo entre 40 a 60% dos animais abatidos ao ano no Brasil. Isso porque não faz sentido econômico terminarmos bois a pasto em regiões que o acesso a grãos está consolidado. Sempre vai existir regiões onde o gado vai descer para os grãos, regiões onde já existem grãos suficientes para abastecer o confinamento a um custo bastante competitivo e regiões que ainda vai ser interessante terminar os animais a pasto mesmo. Mas o movimento de confinar os animais o ano todo e usarmos os pastos principalmente para cria e recria vai se fortalecer muito.
Isso ocorrendo como eu imagino, precisamos urgentemente:
Profissionalizar: controles, custos e desempenho, pois são a chave da nossa sobrevivência e competitividade com o resto do mundo. Nosso problema não é o vizinho e sim como a nossa indústria vai se comportar contra às dos outros países.
Diálogo: precisamos melhorar ou criar, dependendo do caso, um diálogo muito melhor com os nossos pares, aprendermos mais com os nossos negócios e evoluirmos como cadeia mesmo. O diálogo com a indústria frigorífica precisa existir. O governo tem que nos compreender como uma parte da cadeia pecuária, mas que é muito diferente dela. Precisamos ser ouvidos e defendidos pelo nosso governo.
Transparência: desde o fornecedor de bezerros/bois magros até a qualidade da carne entregue na indústria frigorífica. Não dá para construir qualidade se continuarmos chamando o nosso produto de boi ou de vaca. Precisamos ter critérios muito transparentes e passíveis de serem auditados por terceiros nas relações comerciais da nossa cadeia. Exemplo: se um produtor produzir uma carne de Nelore, com 20 meses e gordura mediana, ele tem como ofertar isso aos frigoríficos e ser precificado por isso que ele está entregando.
Não precisamos complicar muito, basta copiar o que de melhor foi feito nos outros países e através da indústria e do governo, nós chegamos a uma conclusão do que queremos. Desse momento em diante, os preços serão referenciados na qualidade do que estamos ofertando, e não mais “boi” e “vaca”.
Confira a Programação do Interconf 2013
Lembramos que todos os finalistas do prêmio são convidados vip cortesia do Interconf 2013.