Pedro Monteiro Lopes: pelo isolamento do homem do campo, ele normalmente responde muito bem ao tratamento diferenciado

Para conhecer melhor o tema do nosso Workshop de agosto, o BeefPoint preparou uma série de entrevistas sobre o tema Gestão de Pessoas na Pecuária de Corte, com pessoas que têm se destacado nessa área.

Confira abaixo a entrevista com Pedro Monteiro Lopes, diretor do Grupo Pitangueira.

Pedro Monteiro Lopes sempre esteve ligado ao campo, é técnico agrícola e advogado. Foi presidente e vice-presidente da Federação de Agricultores do RS. É diretor do Grupo Pitangueira, em Itaqui – RS.

BeefPoint: Fale um pouco sobre o trabalho de gestão de pessoas que você vem desenvolvendo.

Pedro Monteiro Lopes: No Grupo Pitangueira, procuramos um tipo de administração mais próxima e interativa. Buscamos mais parceiros e colaboradores do que funcionários crachás.

Optamos em distribuir, como vulgarmente é chamada, participação nos eventuais lucros.

Pregamos um sistema mais humano, participativo e democrático, embora tenhamos que usar psicólogos para selecionar pessoas que respondam à esses estímulos.

BeefPoint: Há muita gente boa em gestão de pessoas, mas que não conhece esse termo. É bom em lidar com gente, tem uma equipe de alta performance, baixa rotatividade de pessoal, etc. Desde quando você se interessa sobre o tema gestão de pessoas?

Pedro Monteiro Lopes: Interesso-me por gestão de pessoas porque nossa atividade difere em muito das demais, temos dificuldade em ter contato com os nossos colaboradores. No comércio e na indústria, por exemplo, com um mega-fone ou equivalente, consegue-se falar e ser ouvido por grande parte das pessoas.

Urge que sejamos mais coniventes e parceiros do que patrões. Temos melhorado isso com mais afeto e interação.

BeefPoint: O que você considera mais importante para fazer uma boa gestão de pessoas em uma fazenda de gado de corte?

Pedro Monteiro Lopes: A verdade. Ter uma administração leal e transparente, com ética e bons princípios. Convidar os colegas para competir contra um adversário comum, criar espírito de competição e “desafios”.

BeefPoint: Qual o exemplo de gestão de pessoas na pecuária, no Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Pedro Monteiro Lopes: Acredito no trabalho do Carlos Viacava, no uso de medições e índices no Nelore.

E, apesar de não tê-lo conhecido mais pessoalmente, admiro o Claudio Sabino Carvalho, que desenvolveu um excelente trabalho.

BeefPoint: Qual o maior desafio da gestão de pessoas na pecuária brasileira hoje?

Pedro Monteiro Lopes: Uma legislação trabalhista arcaica e mal intencionada, que teve sua época, mas, hoje mais prejudica do que ajuda ambas as partes.

Principalmente empresas e seus colaboradores, que ficam impedidos de serem mais felizes e desarmarem os espíritos. Falar em amor, amizade e premiar os melhores é vedado e perigoso.

BeefPoint: Em relação a gestão de pessoas, qual inovação na pecuária de corte você mais gostou nos últimos anos? O que estamos precisando inovar?

Pedro Monteiro Lopes: Houve melhoria da qualidade de cursos do “SENAR” e outros. Estamos precisando de mais valorização do campo e seus agentes. A sociedade urbana deve respeitar quem lhes alimenta.

Inovação seria distribuir o crédito rural e juro diferenciado para quem for mais eficiente; produzir devidamente controlando pela relação GTA x área de campo + produtividade. Além de tudo, evitaria eventual sonegação.

BeefPoint: O que você implementou de diferente em gestão de pessoas em 2012-2013? O que você fez em 2012-2013 que te trouxe mais resultados?

Pedro Monteiro Lopes: Uso maior dos meios de intercomunicação com os clientes internos. O que deu bom resultado foi instituir um departamento de vendas e pós-vendas.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013-2014, em gestão de pessoas? E porquê?

Pedro Monteiro Lopes: Aprimorar a participação nos lucros, ter mais reuniões e mais premiações. Pelo isolamento do homem do campo, ele normalmente responde muito bem ao carinho e ao tratamento diferenciado.

BeefPoint: O que o setor poderia fazer para melhorar a gestão de pessoas na pecuária no Brasil?

Pedro Monteiro Lopes: Nós temos procurado criar um clima mais aprazível nas agrovilas; com casas melhores, acesso à escola, respeito ao meio ambiente… Não como bandeira política.

O governo que tanto soube punir, executar, multar, pare um pouco e repense esse modelo falido e comece a premiar quem atinge objetivos, pregar mais união entre o povo e o estado para diminuir protestos. Crie uma relação pró-ativa e não isso que está aí.

BeefPoint: Qual seu recado para produtores de gado de corte, em especial os interessados em gestão de pessoas?

Pedro Monteiro Lopes: Não temos pretensão de dar conselhos de como gerir pessoas, mas faça ao contrário do que o governo tem feito, que você não precisará reforçar a guarda pessoal. O Papa Francisco deu um bom recado em sua estadia aqui no Brasil: “humildade”.

Seja autêntico, procure ser um exemplo, para ser respeitado e poderemos gerir com justiça. Na área técnica, por sorte o Brasil é mais forte do que realmente é avaliado, temos bons criativos e eles amam o que fazem, são vocacionados. Nós somos graças à eles, o que somos no mundo da carne.

Produtores muitas vezes invadidos e sem segurança conseguem ser o fator importante na “balança”. Ao exportar produtos, não estamos cometendo nenhum crime, pois hoje, produzir com competência exige muita tecnologia e agrega valores.

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