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Pedro Monteiro Lopes: temos que aprimorar as pessoas, pois elas são muito importantes para aproveitarmos as tecnologias da pecuária

No dia 5 de abril foi realizado o Beef Summit Sul, em Porto Alegre – RS. O evento foi organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). O Beef Summit Sul reuniu nomes de sucesso do agronegócio para discutir e debater os rumos da pecuária de corte no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

No dia do evento, o BeefPoint homenageou as pessoas que fazem a diferença na pecuária de corte no Sul do Brasil através de um prêmio. Houve vários finalistas, em 19 categorias diferentes.

Os nomes foram indicados pelo público; em uma primeira etapa, através de um formulário divulgado pelo BeefPoint. Na segunda etapa, o público escolheu através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor essas pessoas, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.

Confira abaixo, a entrevista com Pedro Monteiro Lopes, um dos ganhadores do Prêmio BeefPoint Edição Sul na categoria Produtor de elite – Hereford e Braford. Ele também concorria na categoria Liderança pecuária.

PEDRO LOPES

Pedro Monteiro Lopes mora em Itaqui – RS. Pedro sempre esteve ligado ao campo, é técnico agrícola e advogado. Sempre esteve presente em entidades de classe, trabalhando em vários setores. Foi presidente e vice-presidente da Federação de Agricultores do RS. É diretor do Grupo Pitangueira.

Entre suas atividades, o Grupo Pitangueira produz arroz, que beneficia inclusive o interior de São Paulo. Sua criação de gado teve início com a raça Nelore. Foi fundador e presidente da Associação de Nelores do RS. Há aproximadamente 30 anos, iniciou a criação de Braford e já ganhou dez vezes consecutivas o ranking nacional.

Pedro acredita que um de seus maiores méritos é que o Grupo Pitangueira possui profissionais que gostam da atividade, gostam da raça. É graças a essas pessoas que eles alcançaram sucesso no criatório de Braford no Brasil.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do sul do Brasil hoje?

O maior desafio é prepararmos um tipo ou vários tipos de carnes aceitáveis, já que somos uma das poucas regiões que podem ter raças britânicas puras ou cruzadas. O desafio é fazer um tipo de carne que o mercado internacional queira, essa carne é mais usada para exportação. O grande berço genético dessas raças está aqui no Sul. Temos um compromisso muito grande, pois o cruzamento não é uma mistura, é cruzar as raças com tecnologia, criando uma terceira raça, de excelente qualidade e é isso que o mercado quer. Com isso, nós estaríamos melhorando a fama da carne do Brasil no mundo.

BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro no sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Em primeiro lugar, há várias empresas trabalhando nisso, mas em especial a Conexão Braford (um grupo de produtores que se reuniu para desenvolver tecnologia) e a EMBRAPA, que vem fazendo um bonito trabalho de cruzamento. Na nossa região temos técnicos muito bons, com um bom desenvolvimento tecnológico, por isso temos trabalhado principalmente com cruzamento de raças britânicas e Nelore, cruzando principalmente Braford com Nelore. Admiro essas empresas pois elas estão ponteando tecnologicamente esses setores.

BeefPoint: Como podemos vender a carne do sul do Brasil de forma diferente e especial, em outras regiões do Brasil e no exterior?

A carne do sul já pode substituir as importações da Argentina e do Uruguai, pois temos qualidade. Poderia faltar um pouco de constância no mercado, mas isso já está sendo suplantado pelo trabalho dos confinamentos que estão sendo feitos no centro do estado de São Paulo e Paraná. Muitos estão pegando animais novos aqui e terminando-os na região de São Paulo, com qualidade excelente, já que o Nelore é considerado a rainha das raças.

Uma vez que consigamos ter raças britânicas que melhorem essa carne, junto com a terminação que está sendo usada nessa região, acho que isso pode atender perfeitamente os paladares mais exigentes, ter qualidade. E o que sobrar, pode ser perfeitamente usado para exportação. Não é só exportar volume, temos que exportar qualidade… E esse tipo de produto poderá com certeza melhorar a qualidade da carne brasileira, aproveitando a excelente matriz Nelore e assim, obtermos um terceiro produto que sem dúvida irá satisfazer as exportações do mercado brasileiro.

BeefPoint: Qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?

A reprodução, a área de inseminação, transplante de embriões… São coisas excelentes, inovações muito importantes, são muitas coisas novas que surgiram nos últimos 10 anos para aprimorar a pecuária. Precisamos inclusive, desenvolver um setor para aproximar mais as universidades do campo, nós temos que aprimorar as pessoas, pois elas são muito importantes para absorvermos e aproveitarmos as tecnologias desenvolvidas por nós e por outros países também. O que ainda nos cerca é o preparo de pessoas no campo. Temos pesquisa, mas problemas na extensão.

BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar sua competitividade no sul do Brasil?

Nós aqui no Sul precisamos primeiro desse desenvolvimento de pessoas. Uma maior concorrência entre os frigoríficos, uma maior valoração dos animais de melhor qualidade, ter um diferencial maior de preços. Um animal rastreado, que é criado com uso de tecnologia, com qualidade, com alimentação diferenciada, tem que ter um preço diferente sobre outros animais que não tiveram esse tratamento, para que haja essa preocupação em criar animais de qualidade, para que valha a pena esse tratamento.

BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua atividade em 2012?

Tenho tentado desenvolver Recursos Humanos e cuidado com a natureza. Nosso slogan é “Produzir preservando” e queremos fazer isso sem demagogia, pois o país não é dos ditos ambientalistas, ele é de todos nós… É uma coisa que está no coração de todos, ninguém precisa nos ensinar a fazer isso. Só pelo fato de nossos netos e filhos terem uma vida tranquila, isso mais do que justifica nossas ações, não é necessário que ninguém nos ensine ou venha a fazer demagogia pré-eleitoreira. É possível fazer as duas coisas, sem radicalismos.

BeefPoint: O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?

O que me deu maior resultado: melhoria na qualidade da alimentação e correção de solos. Nós aprimoramos bastante a qualidade da alimentação, já que tínhamos uma genética razoável. Fizemos isso para otimizar essa genética, pois não adianta ter um carro de corrida e uma estrada ruim… Então nós tentamos complementar a genética com uma alimentação boa, saudável, de qualidade e bastante ligada ao pasto. Ainda temos muitas coisas para complementar, mas estamos no caminho, já que o tipo de pastagem aqui é diferenciado, temos inverno e verão, o que não acontece no Brasil central.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013? E porque?

Nós já temos há 15 anos uma carne Pitangueira, aqui no frigorífico e no matadouro que possuímos. Nós pretendemos melhorar esse setor em pequena escala, pois não compramos e não terceirizamos nada. Nosso objetivo é otimiza-la e fazer uma carne de melhor qualidade, empacotada, tudo feito em um matadouro excelente. Nós temos apenas produção própria e um dos nossos objetivos é fazer toda a nossa linha de produção com mais qualidade.

BeefPoint: Qual sua mensagem para os pecuaristas?

Eu diria para os pecuaristas que não esperem que o governo os enxergue. Ao invés de esperar que nos olhem, devemos fazer movimentações para que sejamos vistos. Devemos trabalhar mais com a política, apesar de ela estar com uma imagem ruim no momento, ela é necessária, ela é importante. Precisamos ter mais presença, dar exemplos de perseverança, dedicação. Precisamos nos dedicar mais à politica, participar mais.

BeefPoint: Qual sua mensagem para a industria frigorífica e varejo?

Eu diria para eles que entendam que nós somos a matéria prima deles, deve haver uma distribuição mais harmoniosa nessa cadeia e diria também que nós estamos na mesma linha.

Para o varejo: cada vez que uma grande cadeia é aberta ou um supermercado gigante, é dito “centenas de empregos diretos foram criados”, mas em compensação, vários açougues e supermercados foram fechados ultimamente e as pessoas perderam seus empregos.

Acho que é importante ter cuidado em grandes concentrações de varejo. Primeiro abaixam os preços. Depois de se consolidarem, não é bem isso que acontece. Alguns países até proibiram redes de supermercados de abrirem lojas em certas áreas das cidades. Essa concentração, em qualquer atividade, é muito perigosa. Fala-se muito do campo e dos latifúndios, dos seus problemas, mas o varejo também tem problemas e defeitos. É preciso que a sociedade observe isso e que eles tenham cuidado com isso. Esse gigantismo é muito perigoso.

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