Por Lucas José Mari1 e Luiz Gustavo Nussio2
1. INTRODUÇÃO
Silos horizontais (i.e. trincheira ou superfície) são geralmente atrativos em razão da maior economia no armazenamento de forragens sob a forma de silagem. Entretanto, sua conformação determina grande superfície de exposição e de troca com o ambiente. Além disso, segundo Pitt (1990), outros fatores influenciam nas perdas de superfície nesse tipo de silos, como: teor de matéria seca (MS) da forragem ensilada, permeabilidade das paredes dos silos trincheira, superfície exposta à aeração durante o enchimento, tempo de armazenamento, taxa de retirada durante a alimentação dos animais e eficiência de vedação.
Em se tratando de perdas, o fator mais importante é, sem dúvida alguma, o grau de anaerobiose alcançado durante o processo fermentativo (Woolford, 1990; McDonald et al., 1991). Quando a vedação do silo não for adequada, o oxigênio e a umidade externa podem adentrar ao silo e afetar tanto o processo de ensilagem quanto a qualidade da mesma durante a estocagem e/ou fornecimento.
A espessura da lona plástica tem sido a característica física mais valorizada para a escolha do filme (PVC ou polietileno). A proteção da lona contra danos resultantes da radiação direta depende das propriedades físicas da lona, que por sua vez, podem variar durante a fase de estocagem (Savoie, 1988).
2. RESULTADOS DE PERDAS EM SILOS HORIZONTAIS
De acordo com Ashbell & Kashanci (1987), as perdas de superfície são maiores nas faces laterais, próximas às paredes (76%) e menores ao centro (16%). McLaughlin et al. (1978) reportaram perdas de MS da ordem de 60% nos estratos superficiais dos silos (25 cm superiores) e as perdas foram reduzidas para 22% da MS no estrato compreendido entre 25 e 50 cm de profundidade dos silos.
Em um trabalho de pesquisa que durou 4 anos e que visava avaliar as perdas superficiais de silos horizontais a equipe da Universidade de Kansas, liderada pelo Professor Keith Bolsen, avaliou-se amostras retiradas em três pontos do perfil dos silos. O modelo utilizado foi a equação proposta por Dickerson et al. (1992), que é observada a seguir:
Csp: teor de cinzas na silagem preservada;
MO sp: teor de matéria orgânica na silagem preservada;
Csd: teor de cinzas na silagem deteriorada;
MO sd: teor de matéria orgânica na silagem deteriorada.
Essa relação acima descrita tem boa correlação com as perdas observadas em painéis de silos, uma vez que na deterioração da silagem, a matéria orgânica (MO) é consumida em fermentações indesejáveis e combustão, mas a quantidade absoluta de cinzas (ou minerais) permanece pouco variável, como pode ser observado na Figura 1. A elevação no teor de cinzas em silagem deteriorada pode representar um grande aumento de perdas em matéria orgânica. Por exemplo, assumindo que em 100 g de silagem bem preservada houvesse 5% de cinzas e 95% de matéria orgânica, após a deterioração a amostra se reduziria a metade, ou seja, 50 g, com os mesmos 5 g de cinzas. Assim, a amostra preservada conteria 95 g de MO e a deteriorada 45 g de MO, então 45/95 = 47,4% de MO recuperada, sendo que 52,6% de MO teria sido perdida.
3. PRÁTICAS DE MANEJO EM SILOS HORIZONTAIS
De acordo com Bolsen (2002), existem quatro práticas que podem e devem auxiliar o manejo de silos horizontais. Essas práticas consistem em:
1. Alcançar alta densidade da silagem;
2. Vedação eficiente;
3. Manejo de retirada adequado;
4. Descarte da silagem deteriorada.
3.1 Alcançar alta densidade da silagem
A densidade e o teor de MS da cultura determinam a porosidade da silagem e esta afeta a taxa com que o oxigênio pode penetrar na massa ensilada. Além disso, a alta densidade reduz o custo de estocagem da forragem, por amortização da estrutura e redução das perdas por deterioração, como pode ser observado pela Tabela 1.
Tabela 1 – Perdas de MS em função da densidade de silagens de alfafa.
3.2 Vedação eficiente
Em silos do tipo trincheira ou mesmo de superfície não cobertos as perdas no primeiro metro de profundidade podem exceder os 60-70% (Bolsen et al., 1993). O material mais comumente utilizado para cobertura de silos é o polietileno, sendo outro aspecto importante a proteção do mesmo contra raios ultra-violetas. A cobertura com terra ou pneus apresenta bons resultados na proteção da lona plástica e no auxílio da vedação, mas certamente representa grande demanda de mão-de-obra em sua execução.
3.3 Manejo de retirada adequado
A retirada de silagem para fornecimento aos animais deve ser tal que o painel permaneça perpendicular para minimizar a área exposta ao ar. A taxa de retirada deve ser suficiente para evitar a deterioração e o superaquecimento da massa. A recomendação comumente observada é de 15 a 30 cm de retirada do painel por dia. Entretanto, em condições de alta umidade e/ou temperatura elevada a camada deve ser maior (40 cm/dia) para se evitar a deterioração aeróbica, sobretudo em silagens conservadas sob alta umidade (silagens de grãos-úmidos). Pitt & Muck (1993), mostraram que a retirada de uma camada mais espessa do painel levou a queda no percentual de deterioração da massa ensilada, como observado na Tabela 2.
Tabela 2 – Perda e MS em função da camada de silagem retirada.
Muitas vezes depara-se em propriedades com situações como a ilustrada na Figura 2.
Pode-se concluir que ao oferecer silagens deterioradas impõe-se sobre o animal uma importante limitação na ingestão de energia, parte pelo menor consumo e também pela baixa digestibilidade da porção ingerida.
Tabela 3 – Efeito do percentual de silagem de milho deteriorada sobre a ingestão de MS e a digestibilidade de nutrientes.
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1 Médico Veterinário, Mestre, Doutorando em “Ciência Animal e Pastagens” – USP/ESALQ.
2 Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia – USP/ESALQ – Piracicaba, SP.