Por Névio Primon de Siqueira 1
Muito conhecida, porém ainda não devidamente combatida, a Brucelose permanece fazendo estragos e trazendo prejuízos nos rebanhos nacionais.
Conhecida por causar abortos no terço final da gestação, continua sendo doença freqüente nos rebanhos, tanto de leite como de corte, devido a falta de controle sanitário dos rebanhos. Por motivos “econômicos” ou por falta de interesse de alguns produtores, os rebanhos acabam sendo vítimas da doença, que na verdade causa maior prejuízo do que custaria o seu controle, pois a mesma se perpetua na propriedade, causando perdas ao longo do tempo.
Abortos
A brucelose tem como principal sintoma, o aborto no terço final de gestação, em geral no sétimo mês, gerando perdas econômicas pelo simples fato da perda da cria, que no caso de gado de corte é o produto principal e no gado de leite, caso seja fêmea, seria animal com valor comercial que acabou sendo perdido. Em alguns casos, as vacas podem com o tempo não apresentar mais o aborto, vindo a parir natimortos ou bezerros fracos, porém acabam infectando as pastagens e disseminando a doença.
Repetição de cios
Os cios repetidos são grande problema nos rebanho, pois com eles vêm o aumento do intervalo entre partos, que também causa grandes prejuízos em qualquer tipo de exploração de rebanhos bovinos. No caso do leite, gera maior tempo de período seco nas vacas e no rebanho de corte acarreta menor número de bezerros disponíveis para venda ao longo do ano. Nos casos em que se usa a inseminação artificial, o prejuízo aumenta, devido ao maior número de doses de sêmen por prenhez.
Retenção de placenta e metrite
São muito comuns a retenção de placenta e a metrite tanto nos partos como nos abortos brucélicos, ocasionando gastos com tratamentos, medicamentos, e que também causam um período de descarte de leite no caso de rebanhos leiteiros devido ao uso de antibióticos.
Novilhas que apresentam a doença na fase de reprodução
Várias novilhas de reposição de plantel, que são recriadas e inseridas no rebanho de matrizes do plantel, acabam apresentando a doença, apresentando aborto, recontaminando o ambiente e sendo descartadas precocemente sem que sua produção seja suficiente para cobrir os seus custos de criação.
Queda na produção de leite
Somando-se todos os fatores acima, temos uma queda na produção de leite da propriedade, pois com aborto alguns animais produzem leite, mas a produção nunca é a mesma e geralmente o período de lactação é mais curto. Devido aos abortos, cios repetidos, retenção de placenta e metrites, existe também um aumento no intervalo entre-partos, gerando um número maior de vacas secas no rebanho, caindo o número de vacas em produção, além do leite descartado devido aos animais em tratamento.
Aumento no número de animais de descarte
Como os animais passam a apresentar problemas reprodutivos, muitos deles são descartados precocemente do plantel, gerando perdas como custo de compra de animais de outros rebanhos ou de um maior número de bezerras sendo recriadas para reposição de matrizes.
Problemas de comercialização de animais
Sempre que a uma propriedade vende animais doentes, as notícias acabam ficando públicas no meio em que se encontra, tornando assim mais difícil a comercialização de animais e sua desvalorização, além do que, atualmente a propriedade pode estar sujeita até a sua interdição, sendo vetada a saída de animais até que se regularize a situação.
Perda de material genético
Para aqueles que investem algum numerário em animais geneticamente superiores, as perdas por descarte de alguns animais refletem até no encerramento de atividades por não ter como repor as perdas causadas pela brucelose quando atinge animais de alto valor econômico.
Como podemos perceber, agora é a hora de limpar as propriedades dessa enfermidade e adequar-se ao PNCEBT. Os custos de se manter a sanidade de um rebanho são bem menores do que as perdas que a doença acaba gerando, sem que o produtor perceba a sangria que existe em sua atividade.
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1 Névio Primon de Siqueira é médico veterinário, consultor em propriedades de leite e carne, atuando no Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT) com habilitação do MAPA.
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Prezado Dr. Névio,
Mais uma vez o governo no seus desacertos nos dá um ligeiro “pontapé no traseiro” e nos faz caminhar. Assim como a IN 51, o PNCEBT nos força, digo nós brasileiros com ética e dignidade, a exercer um papel de Escudeiros da Qualidade.
Não fosse o PNCEBT nós, perdoe-me por ser repetitivo, brasileiros com ética e dignidade, estamos cada vez mais incentivando o descarte de animais positivos aos exames e com isso melhorando a qualidade do nosso rebanho.
Eliminar, descartar, sacrificar é sempre duro, muitas vezes corremos o risco de até perder um cliente, mas é o papel que nossos diplomas exigem e que nossa dignidade requer para continuar existindo. Pena que nem sempre o governo faz a parte dele.