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Perspectivas da pecuária de cria no Brasil: mais reflexões

A repercussão do artigo "Preços do bezerro e o futuro da atividade de cria" foi muito boa. Recebi inúmeros comentários que complementaram e melhoraram o texto. Esses pontos me ajudaram a uma reflexão mais aprofundada da pecuária de cria, tema que anda meio esquecido no Brasil. A pecuária de cria é a base da cadeia da carne, e vem ganhando maior importância e atenção com a mudança de ciclo na pecuária e consequentes preços mais altos. Há muito que pode e precisa ser discutido na pecuária de cria: técnicas produtivas, de gerenciamento e tendências do mercado. Acredito que em breve esse tema ganhará mais destaque, inclusive por aqui.

A repercussão do artigo “Preços do bezerro e o futuro da atividade de cria” foi muito boa. Recebi inúmeros comentários que complementaram e melhoraram o texto. Esses pontos me ajudaram a uma reflexão mais aprofundada da pecuária de cria, tema que anda meio esquecido no Brasil. Acompanhe abaixo, uma continuação do interessante debate sobre a cria no Brasil hoje e suas perspectivas.

Mais produtividade e menos área

A produtividade deve continuar aumentando nos próximos anos, graças ao uso de tecnologias que aumentam a eficiência: genética melhoradora, IATF, manejo de pastagens, suplementação na seca, etc. Essa maior produtividade é uma aposta bastante certeira e deve repetir o que observamos nos últimos anos, com mais velocidade. Vários comentários do artigo anterior indicavam uso dessas técnicas e satisfação dos produtores em adotá-las.

Uma das apostas mais frequentes é o retorno do cruzamento industrial. Os dados da Asbia mostram um percentual de crescimento maior nas vendas de sêmen da raça Angus (Red e Black) do que da raça Nelore (padrão e mocho) em 2007-08. Não é suficiente para comprovar uma mudança de tendência, mas indica uma maior recuperação na vendas da principal raça européia de gado de corte em relação a principal raça zebuína. Há também um aumento do mercado de genética superior e provada, seja de zebu ou europeu.

Por outro lado, é provável que a área disponível para a pecuária, em especial de cria, se reduza. A cria está tradicionalmente em áreas de terras baratas, em especial fronteiras agrícolas. Teremos cada vez menos abertura de novas áreas. A defesa do desmatamento zero na Amazônia (mesmo com restrições) já é um consenso, sendo defendido por frigoríficos, produtores e varejo. Contando ainda com forte pressão de ONGs. Com isso, não é de se esperar que sejam abertas novas áreas para pecuária. Por outro lado, é provável que a agricultura continue se expandindo no Brasil, em produtividade e área. Aos poucos, mais áreas de pecuária devem ser convertidas em agricultura. A integração lavoura pecuária é uma técnica que deve continuar sua expansão e que pode amenizar um pouco essa situação. Tudo isso irá pressionar por eficiência e produtividade.

Aceleração da pecuária

Se a intensificação e aumento da eficiência na fase de engorda ajudou a “acelerar” a pecuária, diminuindo a idade ao abate e dando eficiência a cadeia (mais kg de carne por ha ano), a intensificação da cria irá acelerar muito mais. A cria é a etapa mais longa e cara de todo o processo produtivo. Ao se aumentar a eficiência de cada uma das etapas (% prenhez, % desmama, GDP pré-desmama, etc) a aceleração do ciclo completo será muito maior. Será possível produzir muito mais quilos de carne por ha por ano. Interessante que o aumento da produtividade na recria-engorda é muito comentado, mas o impacto da cria será ainda maior. E isso é fundamental para a manutenção da competitividade da cadeia da carne brasileira e da força do Brasil no mercado internacional.

Controle de custos

Um dos comentários mais interessantes que recebi sobre o artigo foi a questão da medição do custo de produção e seu consequente impacto no interesse do pecuarista em criar, ou mudar de ramo, partindo para recria-engorda, ou fazendo ciclo completo. Mais gente controlando custos implicaria em menos gente criando e vendendo bezerros desmamados.

Ninguém discordou da rentabilidade da cria ser mais baixa que a recria-engorda, na grande maioria das vezes. No entanto, não temos dados objetivos do percentual de produtores que fazem um controle efetivo de custos. Se esse percentual for muito pequeno, um aumento de 100% nesse número causaria uma mudança muito pequena. A conclusão que tirei foi de que o controle de custos tende a desestimular a cria exclusiva, mas que isso deve ocorrer de forma mais lenta do que ficou implícito no primeiro artigo.

Modernizando a comercialização

A comercialização de animais de reposição deve se profissionalizar daqui em diante. É muito provável que se adote cada vez mais a venda de animais baseada em preço por quilo do que por cabeça. Espera-se que aumentem as diferenças de preço entre animais de qualidade e peso diferenciados. É possível inclusive que comece a existir negócios que adotem certificação de processos produtivos, como vacinação, controle de verminoses, paternidade conhecida de touros melhoradores.

Com o mercado demandando mais qualidade é de se esperar também que outros mecanismos de comércio sejam adotados. Formas de contrato e parceria que negociam bezerros que ainda não nasceram devem aumentar, visando garantia de fornecimento de animais especiais. Por outro lado, é muito provável que os tradicionais intermediários, que compram e vendem bezerros e garrotes tende a diminuir. No passado, esse segmento conseguia muitas vezes uma alta rentabilidade, basicamente operando diferenciais de compra e venda, mas sem agregar produção (ou seja, o animal não crescia/engordava, era apenas transacionado).

E a recria?

Outra tendência é um encurtamento cada vez maior da fase de recria. O Brasil não deve adotar um sistema de produção similar ao dos EUA, com confinamento na sequência da desmama. Mas é de se esperar que a recria seja cada vez mais profissional, colocando mais peso em menos tempo. Uso de melhores pastagens, suplementação estratégica e genética superior vão encurtar a recria, aumentando ainda mais a eficiência de toda a cadeia e também a qualidade da carne produzida (abate de animais mais jovens).

Preços no médio prazo

Muitos comentaram que o invernista terá “saudades” do bezerro de R$700/cabeça. Talvez seja uma força de expressão, mas é fato que o invernista está menos interessado em iniciar a produção de bezerros, do que o inverso. O criador olha com melhores olhos a ampliação de sua atividade, partindo para ciclo completo, ou também recriando. Ao invés de vender bezerros, passaria a vender garrotes para terminação, em especial confinamento, ou mesmo boi gordo para frigoríficos.

Isso é ainda mais evidente junto a pecuaristas que produzem bezerros de qualidade diferenciada. Quem produz bezerros bons e pesados avalia com muito cuidado suas opções. Entre os criadores, são esses os que mais avaliam custos de produção e alternativas de comercialização. Vale lembrar que produzir bezerros bons e pesados é caro, difícil e demorado. Não é sensato estimar preços baixos para o bezerro, principalmente os de melhor genética e maior peso.

Segmento “esquecido”

Uma outra observação interessante sobre a atividade de cria é que ela é considerada “esquecida” por muitos pecuaristas. Parece ser um tema muitas vezes relegado, com menos destaque e atenção. Foram vários comentários nesse sentido, que me surpreenderam. A pecuária de cria é a base da cadeia da carne, e vem ganhando maior importância e atenção com a mudança de ciclo na pecuária e consequentes preços mais altos. Há muito que pode e precisa ser discutido na pecuária de cria: técnicas produtivas, de gerenciamento e tendências do mercado. Acredito que em breve esse tema ganhará mais destaque, inclusive por aqui.

E você, qual sua opinião sobre as perspectivas futuras da pecuária de cria no Brasil? Envie seus comentários, concordando, discordando ou complementando as informações aqui apresentadas.

0 Comments

  1. jeferson moreira correa disse:

    A respeito de criar ou nao criar tem que levar em conta que a maioria das propiedades nao tem aptidao para engorde,pastos naturais,antigos,degradados, super lotados no qual poucos produtres terian condisoes de mudar de cria para engorde,mas acredito em um forte investimento em genetica afin de melhorar sua produsao para obter uma melhor remunerasao,entendo assin que a cria continuara sendo um forte pilar da pecuaria.

  2. Felipe Cordeiro disse:

    Olha Miguel, mais uma vez parabéns pela matéria, é de suma importância o que descreves aqui, devido ser uma análise de importante relevância para quem deseja investir no setor pecuário.

    Eu acredito que as duas atividades são lucrativas, desde que se tenha um bom controle e gerenciamento da produção, pois conheço diversos pecuaristas criadores de bezerros de excelente qualidade que inclusive produziram um bezerro custando entre R$ 200,00 a R$ 300,00 reais e venderam o mesmo a R$ 1.000,00 na desmama, porém, não sei que critério de contas eles utilizaram para chegar nestes custos e nem tão pouco conheço a realidade deste valor de venda, mas é fato que grandes agropecuárias no estado de SP venderam seus bezerros de grande qualidade (cruzamentos) nestes preços, desta forma, não tem nem o que discutir, a cria é muito mais rentável do que a engorda, pois desmamar um bezerro desses por ano a R$ 1.000,00 reais era 55% do valor de venda de um boi considerando a arroba naquela época… aproximadamente era isso… mas como sabemos que não é esta a realidade, eu sou a favor do que escreveu aqui, inclusive optei para fazer recria e engorda também, devido alto custo de criar um bom bezerro desmamado. Acredito que cada vez mais a pecuária brasileira irá se profissionalizar, chegando inclusive a ficar como nos Estados Unidos, devido o giro rápido que é dado naquele País, nossa atividade ainda é muito longeva dai a necessidade e a implantação de toda esta tecnologia disponível e comentada por você para acelerar o processo produtivo, aumentando a produtividade e o lucro, onde então, o gargalo passa a ser a administração do negócio.

    Parabéns pela matéria mais uma vez.

    Abraços!!

  3. Fábio de Souza Fonseca disse:

    É um engano dizer que a pecuária de cria é menos rentável que a de recria/engorda. A cria bem conduzida com seleção bem dirigida e suplementação estratégica e bom manejo de pastagens, é mais rentável que a recria/engorda principalmente quando o preço do Kg do boi de 10@ é semlhante ao do bezerro e o preço da arroba do boi gordo é manipulado pela indústria de carne e ainda pelo menos uma @ de carcaça “desapareçe” dentro da indústria.

  4. Louis Pascal de Geer disse:

    Olá Miguel,

    Parabéns pela matéria, um outro aspecto é a formação do preço; o criador tem que ganhar, mas geralmente é pouco e aí vem o recriador que ficava com a faca e queijo na mão e depois o engordador que ficava exposto aos frigorificos e mercados.

    É uma estrutura de alto custo e com um divisão desproporcional e injusta entre o risco, o trabalho e a recompensação financeira de cada segmento.

    Houveram várias épocas onde o pessoal da cria praticamente faliu e esta cultura de exploração quase abusiva praticada entre os segmentos de produção enfraquece a cadeia produtiva como um todo.

    Com as exigências da rastreabilidade e a noção por parte dos criadores que eles não estão sendo renumerados de acordo com o trabalho e riscos a situação pode mudar significativamente e já tem frigorificos premiando gado oriundo das fazendas integradas cria-recria-engorda onde a identificação individual dos animais já está funcionando há tempo e bem mesmo em grande escala.

    O mercado vai forçar cada vez mais os recriadores para fora do esquema e vamos ver que preços menores ainda podem deixar bem mais lucro para o produtor integrado sendo o criador e a engordador ao mesmo tempo.

    Um abraço,

    Louis.

  5. Walter Magalhaes Junior disse:

    Como administrador de empresas, especializado em finanças, e com considerável experiência em estruturação de custos e formação de preços de venda, gostaria de dizer que, a despeito de ser uma atividade de indiscutível importância no processo de gestão, o controle de custos no setor agrorural, no estágio de desenvolvimento em que se encontra, ainda é algo que deve ser olhado com um certo cuidado e atenção.
    A despeito de todo esforço que tem sido feito no sentido de se alcançar uma forma definitiva e única de custeio a ser utilizada pelo setor agropecuário, esforço este empreendido, muito principalmente, por profissionais oriundos das áreas agrárias, o produto apresentado pela grande maioria dos estudos disponíveis no mercado, tanto acadêmico como profissional, ainda carece de muita discussão conceitual para atingir a finalidade primordial a que se destina. O maior risco que o sistema pode oferecer, a despeito de propor exatamente o contrário, é induzir ao erro, como resultado das decisões tomadas.
    O ponto central do problema não é simplesmente fazer o que se acha certo mas,sim, o que é correto. E para tanto não é necessário se criar nada, pois a fórmula já está criada e amplamente aplicada na área de administração profissional.
    Conceitos, tais como, custos variáveis e custos diretos, ainda são, em muitos casos, utilizados como sinônimo, o que representa, dentro de um programa efetivo de custeio, um equívoco brutal. O mesmo ocorre com os custos fixos e os custos indiretos.
    Os custos de depreciação também são algo que requerem uma profunda reflexão a respeito da forma com que tem sido tratado. Entendendo-se como ela funciona e qual o seu papél em um demonstrativo de resultado, certamente, a importância que lhe é dada hoje talvez fosse revista.
    Custos de oportunidade têm sido tratados com grande relevância em quase todos os trabalhos e estudos existentes, demonstrando uma certa ingenuidade técnica do autor quando, no mínimo, confunde conceitos financeiros com conceitos econômicos, misturando-os.
    Não quero com essas observações desmerecer todo o material que se encontra publicado, muito pelo contrário. O meu objetivo com essa participação é atender a provocação do autor do artigo acima apresentado, elaborado pelo articulista Miguel Cavalcanti, por quem, apesar de não conhecer pessoalmente, tenho particular apreço pela contribuição que tem dado para o desenvolvimento agropecuário do nosso País.
    Adicionalmente gostaria de dizer que realizamos uma avaliação de 11 atividades da pecuária, setor no qual estamos envolvidos. As avaliações são de carater financeiro, compreendidas pela análise do Valor Presente Líquido (NPV) e Taxa Interna de Retorno (IRR), num horizonte de 10 anos, de cada uma delas. O processo é dinâmico e se altera de acordo, principalmente, com o comportamento das variáveis contidas no trabalho. Mas, dentre todas 11 atividades avaliadas, as 6 melhores passam pela cria. Na sequência encontram-se as que exigem a reposição.

  6. Lincoln Correia disse:

    As atividades de cria e recria profissionalizadas darão rentabilidade para o pecuarista, sendo que ele poderá confinar os animais com peso acima da média, produzindo um animal precoce e com bom rendimento de carne. Consequentemente aumentará a sua rentabilidade, isto é, poderá vender bezerros desmamados, garrotes para engorda e bois gordos, estando entretanto acompanhando sempre o mercado daquele determinado ano.

    P.S. Se matar as femeas, não consegue mais formar um rebanho de cria.

  7. José Romero Vilas Bôas de Aguiar disse:

    Acho muito legal a enquete e concordo já está sendo valorizado e ganhará mais valor a pecuária de cria no brasil, pois vários pecuaristas deixaram a cria para partir para a recria e engorda, faltando bezerros no mercado.

  8. Hildo Aurio Viana disse:

    Parabéns ao BeefPoint por continuar sendo um foco de informações e de transmissão de conhecimento para todos que se interessam por este instigante negócio da carne bovina no Brasil. Sou usuário assíduo do site e me atualizo atravéz se suas fontes.

    A dúvida que tenho em relação à produção de carne, principalmente na região contro-oeste é se os sistemas de produção a pasto tem perdido produtividade de carne em consequencia da cada vez menor produtividade das forrageiras utilizadas, já que não tenho visto re-investimentos nessa cultura por parte dos produtores. Desde 97, quando deixei a pesquisa na Embrapa não tenho acompanhado esse processo. Gostaria de ver (ouvir) comentários a respeito. Obrigado, hildo

  9. Luiz Roberto Lopes S. Thiago disse:

    Ola Miguel,

    No meu conceito sempre classifiquei a cria como o gargalo do sistema de producao de carne. E a causa e muito simples, a vaca sempre recebe a “sobra”. Uma vaca bem nutrida vai desmamar um bezerro bem pesado. E ponto final.
    Quero aproveiar a oportunidade para te comunicar que recentemente a Embrapa Gado de Corte esta disponibilizando “online” uma publicacao de minha autoria e Jose marques com o titulo: Aspectos praticos da suplementacao alimentar de bovinos de corte. Acredito que esta materia (escrita de uma forma resumida, bastante clara e com diversas sugestoes de formula de racao) vai responder muitos questionamentos do produtor rural.
    Talves voce possa coloca-la a disposicao do usuario no Beef Point.
    E o DOC 159, que esta no seguinte endereco: http://www.cnpgc.embrapa.br/index.php?pagina=publicacoes/doc/index.html
    Um abraco,

    Santiago

  10. Ramiro cardoso disse:

    Olá Miguel, achei muito boa sua matéria além de importante para os produtores encarar sua propriedade cada vez mais como uma uma empresa rural, e é fundamental para isso, em primeiro lugar a análise de custos e da viabilidadade econônmica de sua atividade. Por isso acredito que a organização dos produtores (principais interessados) e profissionalização das atividades em cada setor (cria,recria e terminação) favorece toda cadeia produtiva de forma a estabilizar e garantir mercado e prços estáveis em todos os setores.

    Até logo.

  11. Julio M. Tatsch disse:

    Caro Miguel,

    Parabenizo sua abordagem macro do tema e aproveito para agradecer a consideração do amigo e do André Camargo, sobre meus comentários.

    Fico feliz que o tema custos de produção esteja mais presente no consciente dos pecuaristas e sendo repetitivo, lembro o freqüente esquecimento dos custos fixos. Em especial as depreciações e o valor do arrendamento do imóvel. Já que existe a “oportunidade” de alugar a propriedade, logo é receita do proprietário, porém entrando como custo na atividade pecuária.

    Insisto nestes pontos, pois muitos pecuaristas chamam de custo de produção, apenas os desembolsos, ou a grosso modo, as despesas variáveis. Acho importante termos em mente o custo TOTAL por unidade produzida, objetivando a busca pela maior rentabilidade do negócio agropecuário.

    Falando de custos esquecidos, cito os pouco lembrados custos do lado de fora da porteira. Dentre eles, os custos resultantes da baixa eficiência na representação de classe. Creio que a grande maioria dos produtores não se dão conta do tamanho deste custo e dos prejuízos causados ao seu patrimônio. Pois crêem que a maioria dos acontecimentos são obra do destino ou acaso. Não percebendo a nossa diferença dos demais participantes da cadeia da carne. Onde frigoríficos e varejo, por serem em menor número, profissionais e organizados, literalmente fazem acontecer, trabalhando de forma pró ativa e na busca por resultados pré-estabelecidos.

    Um ex-diretor de multinacional, em conversa comigo, usou um termo lapidar, dizendo que na empresa, “uma boa parte de sua remuneração estava vinculada a obtenção de resultados”!

    Que tal se exigíssemos das diretorias de nossas Federações e CNA, que suas remunerações fossem vinculadas a obtenção de resultados, previamente acordados anualmente! Num choque de eficiência e comprometimento com resultados. Na mesma linha, a determinação das prioridades dos gastos e empenhos, dos sindicatos rurais, mereceria maior participação e interesse, por partes do associados. Como presidente de sindicato rural, encerrei meus trabalhos, com um gosto amargo de serviço não terminado. Não somos remunerados, mas geramos custos. Pessoalmente, encontrei barreiras no sistema sindical, que mesmo sendo maioria em termos de representatividade do rebanho, quando atuando em conjunto com outros sindicatos rurais, a evolução na maioria dos pleitos foi nula. Mas existem outros caminhos e formas de atuação, dentro e fora do sindicatos. A totalidade dos setores econômicos pujantes, trabalha na forma de associações, como forma de imprimir maior grau de profissionalismo na busca por resultados do setor. E se somado a interesses verdadeiramente comuns com as Federações e Confederações, tornam-se um par perfeito.

    Quanto olhamos o custo & benefício das “contribuições sindicais” e os resultados entregues aos produtores, percebemos claramente na maioria dos casos, a sua baixa eficiência em termos de resultados obtidos. Fica evidente a falta de foco nos resultados, e tendo como padrão de atuação os trabalhos de bombeiro e de UTI, com sirene ligada, que chama a atenção e dá mídia. Com custos, normalmente não questionados pela urgência, mas sempre mais caros do que se fosse adotado o sistema de prevenção, em problemas conhecidos de longa data. Lembrando que o sistema irracional, pode ser o racional para quem deseja se perpetuar no poder.

    Colegas, pensem nisto, façam cobranças a seus sindicatos e atuem. Muitos presidentes de sindicatos atuam como donos da entidade, decidindo seu destino sozinhos, outros necessitam de apoio, de sugestões. Lembro que está omissão tem um alto custo, e para demonstrar quem manda no sindicato, basta uma assembléia dos associados. Repetindo o “para pensar”: a melhor maneira de traçar o seu destino é ajudando a escreve-lo.

    Obs.: Nos municípios onde não existir sindicato rural, a parte das contribuições que lhes caberia é destinada a Federação, ou para sindicato de município vizinho, caso for extensão de base.

  12. Márcio William Meira Gomes disse:

    Olá Miguel!

    Realmente muitos produtores tem se queixado da atividade de cria.No entanto,acredito que com profissionalismo a cria se torne uma atraente e rentável atividade pecuária.
    Sem o sistema de cria não haverá os bois para abate amanhã.

    Parabéns!

    Márcio Gomes. Zootecnista

  13. Dermeval Ferreira Flores Neto disse:

    Há muitos anos ouço que a atividade de cria é a menos rentável, quando comparada com a recria e a engorda. Material da Embrapa Gado de Corte indica que uma taxa de desmama de 60% seria o ponto de equilíbrio da atividade, ou seja, para cada 100 vacas que tenho, 60 desmamas são apenas para pagar os custos. Não discordo de nenhum dos pontos de vista abordados neste artigo e no anterior. E particularmente acho que o maior interessado é o produtor que quer continuar na atividade de cria. Profissionalização, eficácia, controle de custos, qualificação da mão-de-obra… Quando os produtores vão implantar em suas fazendas os princípios básicos da boa gestão?
    Desculpem o desabafo de quem nasceu em pecuária, mas até hoje duvida desta atividade como forma digna de desenvolvimento econômico.

    Dermeval Flores

  14. Rodrigo Belintani Swain disse:

    prezado Miguel deve se levar em conta que hoje qualquer fazenda que trabalhe com cria tambem é uma fazenda de recria e engorda; recria porque sempre estamos repondo novilhas no lugar das vacas descartadas, engorda porque vivemos muitos meses do ano vendendo vacas de descarte gordas e novilhas sem qualidades para cria, assim uma fazenda atual de cria tem de fazer o ciclo completo para poder continuar criando.

  15. Rosalu Ferraz Fladt Queiroz disse:

    oi Miguel, parabéns como sempre pelo artigo.

    Sim, concordo com vc, acria é esquecida, talvez por ser o processo mais lento de todos – 17 meses entre gestação + desmama, fora o ciclo de reprodução. Partir para ciclo completo envolve o fator disponibilidade de área (já mencionado acima). Acredito na evolução da atividade passando a ter fazendas só de cria e outras só de recria num futuro próximo.
    Excelente que o gado europeu está retornando. Nós mesmos já vendemos todos os nossos touros SIMETAL pra esta próxima temporada.
    Obrigada.

  16. Humberto de Freitas Tavares disse:

    Questões para o Workshop BeefPoint Pecuária de Cria:

    1) Dado que eu disponho de um certo número de toneladas de alimento (expresso em NDT, nutrientes digestíveis totais, ou em capim), qual é a vaca que melhor aproveita isso?

    2) Se eu produzir esta bezerra, futura vaca-ótima, o seu irmão é também o boi-ótimo?

  17. Augusto Baier disse:

    Parabenizo o colega Cavalcanti, pela excelente aboradgem do tema da cria e do baixa valor dos animais jóvens ou de reposição. Conheço pouco do Brasil pecuário mas, no Sul do Brasil, entendo que a cria de bovinos, inclusive ovinos, é predominantemente uma atividade de resistência e sobrevivência econômica de proprietários rurais com poucos recursos, com dificuldades de acesso à assistência técnica ou ao crédito para melhorar a produtividade. Para pequenos e médios proprietários rurais a venda, ou o abate para consumo, de um animal pode ser uma, ou a mais importante, fonte para a sobrevivência no meio rural.

    Entendo que além da discução, em nível técnico nos eventos especializados, o que é extremamente importante e urgente, este tema precisa ser levado para a extenção rural oficial, para os agentes comunitários de saúde e de assistência social. A atividade de cria nestas condições representa, com frequência, uma ameaça lenta e gradual à manutenção da fertilidade natural do solo, como tambem pode representar riscos à saúde humana.

    Agradeço a oportunidade, parabéns, continuem nesta senda de qualificar a produção de carne, tão importante para o país.

  18. Tiago Nakamura Borges de Miranda disse:

    Gostaria de saber a opnião do Engenheiro agronomo Miguel e de outros leitores a respeito da estratégia adotada pelos frigoríficos em aumentar o abate de fêmeas, forçando o mercado a aproximar os preços da arroba do boi gordo e com o preço da arroba da vaca.
    O que essa estratégia vai interferir no mercado de cria do ano de 2010? Assim como no mercado do boi magro e do boi gordo do ano de 2010?

  19. Sônia Santana Martins disse:

    Parece-me que a cria, em determinados momentos, como está ocorrendo agora, apresenta de fato boa rentabilidade. Mas esses momentos são curtos e só acontecem quando a pecuária está no fundo do poço, que ocorre quando preços baixos da carne são empurrados para tras, para preços cada vez menores de bezerros até que chega um ponto em que os criadores tem que vender boa parte das matrizes para bancar custos de manutenção da fazenda e da familia.
    Quando começa a faltar carne no mercado e a faltar bezerro para reposição é que ocorre o bom momento do criador. Este processo todo, que constitui o chamado ciclo pecuário, é muito variavel podendo durar, entre dois fundos do poço, de 4 a doze anos, segundo pude observar usando preços de diferentes categorias animais no Estado de São Paulo referentes ao periodo 1958 a 2008.
    Parece-me que , até agora, a cria tem sido o colchão de amortecimento das crises da pecuária. Os frigoríficos exploram os invernistas, que exploram os recriadores, que exploram o criador, que enfrenta o ciclo mais longo e as maiores taxas de mortalidade, alem de ter maiores custos de mão de obra pois os bezerros e matrizes exigem maiores cuidados.
    Um comportamento menos predatório ao longo da cadeia seria interessante para todos os elos, mas na prática temos uma guerra na cadeia produtiva, que inclusive dificulta o progresso tecnico através do investimento. Não acredito muito que toda essa questão de certificação de origem venha a alterar o quadro, a não ser que se abram de fato os mercados japones e americano que remuneram muito bem ou o Chines que poderá demandar grandes quantidades e as fronteiras de expansão de fato se fechem.

  20. Paulo Cesar Bassan Goncalves disse:

    Muito saudável e altruísta para o setor todas estas preconizações de aumento de produtividade e modernização do setor, porém antes de produzirmos devemos nos perguntar para quem vamos vender tanta carne. Não há expansão de exportações há muito tempo, pelo contrário perdemos mercado nos dois ultimos anos, existe uma tendência mundial de diminuir o consumo de carnes vermelhas e o mercado interno não deverá aumentar tão já. É momento de reflexão e racionalidade.

  21. Hélcio Sena Pinto disse:

    Prezados companheiros,

    Compartilho com a idéia que o mercado é que dita as regras do jogo e desta forma concordo com a tese da colega que escreveu o artigo e acho que enquanto os frigoríficos estiverem a vontade para impor seu preço o cenário não se alterará. Deveríamos sim contituirmos grupos que controlassem a oferta de bois para abate pois desta forma o poder de barganha seria maior e a PARCERIA entre industria e produtores poderia prevalecer.
    Com preço que Remunera a carne na Final da cadeia produtiva o sistema se equilibraria com mais naturalidade. Sem esta remuneração justa não existe ciclo completo que se sustente

    Abç a todos

    Hélcio Sena Pinto
    Produtor rural e eng civil