O cenário mundial para o comércio mundial da carne é bastante promissor. Depois da crise econômica global de 2008, o cenário volta a ficar mais favorável, apesar de um pouco incerto. Fica claro que o pior já passou e as economias emergentes, com destaque para China (sem esquecer do Brasil) crescem em 2010, com boas perspectivas para os próximos anos. Esse artigo é uma análise da apresentação de Richard Brown, da consultoria européia Gira, feita na reunião pré Congresso Mundial da Carne, aqui na Argentina. O BeefPoint está participando desse que é o principal encontro sobre mercado de carne do mundo e irá preparar uma série de análises, vídeos e artigos.
O cenário mundial para o comércio mundial da carne é bastante promissor. Depois da crise econômica global de 2008, o cenário volta a ficar mais favorável, apesar de um pouco incerto. Fica claro que o pior já passou e as economias emergentes, com destaque para China (sem esquecer do Brasil) crescem em 2010, com boas perspectivas para os próximos anos.
Os preços continuam a crescer, pois a demanda cresce mais que a oferta. O mundo emergente terá aumento de população, aumento de renda per capita e aumento da urbanização. Essas três grandes tendências, muito faladas antes da crise global de 2008, voltam com força agora. A lentidão da retomada econômica dos EUA, União Européia e Japão é mais do que compensada pela rápida retomada da economia dos emergentes. O Brasil é inclusive um dos maiores exemplos desse crescimento pós-crise.
China é o grande mistério do mercado mundial da carne. É lá onde o consumo mais cresce e onde a produção também deve crescer muito. As estimativas não são muito confiáveis, mas indicam um grande crescimento no consumo e produção de frango, suíno e pescado. Consumo de carne bovina e ovina também cresce, mas em volume muito menor. A China passa por um processo de tentar aumentar (ou manter) sua pouca dependência em relação a importação de carnes. Vale lembrar que o país produz e consome cerca de 50% do volume total de carne suína do mundo.
O Brasil continua um grande produtor, grande consumidor e grande exportador de carne bovina. É o país que mais vai crescer em produção e exportação nos próximos 10 anos, mas com taxa de crescimento menor do que o estouro dos anos 2000 a 2010. Um ponto importante, e negativo, é que o Real é uma das moedas que mais se valorizou frente ao dólar. É um fator que diminui a competividade da nossa carne, tendo que ser compensada com mais produtividade e/ou custos menores.
A Argentina tem longa tradição e ótima reputação no fornecimento de carne de alta qualidade e preços competitivos. Apesar disso, por questões políticas governamentais o país perde cada vez mais sua capacidade produtiva, perdendo espaço no mercado mundial e arriscando se tornar importador de carne. Um importante aviso do estrago que políticas erradas podem causar num setor produtivo. Isso serve também como alerta ao setor produtivo brasileiro para cultivar um relacionamento próximo, pró-ativo e inteligente com o governo.
Índia cresce em importância, exportando cada vez mais. Hoje o país tem 98 milhões de búfalos, cerca de 37% do rebanho total e crescendo. A diferença é que o búfalo tem sido preferido para produção de leite no país (com escala mínima, produção familiar e usando resíduos agrícolas). A outra diferença é que os indianos abatem, consomem e exportam búfalos e sua carne. O abate de bovinos é proibido por questões religiosas na maioria das regiões da Índia e isso não deve mudar.
Gráfico 1: aumento do consumo mundial de carne bovina entre 2010 e 2020
A BSE (vaca louca) e seus impactos nas exportações dos EUA e Canadá devem servir sempre como lembrete da importância da sanidade e do impacto negativo devastador que um acontecimento isolado pode trazer para todo um setor.
Há uma grande variedade de sistemas produtivos, gerando padrões de qualidade muito diferentes. Raças para leite, para carne, dupla aptidão. Acabamento em confinamento intensivo ou engorda a pasto. Com isso o peso de carcaça varia muito entre cada região produtora, são produtos totalmente diferentes.
A recuperação do rebanho, com retenção de fêmeas, acontece em várias regiões do mundo. Mas isso é muito lento e difícil. Por isso, a produção cresce numa taxa mais lenta que outras carnes. Outro fator é que a retenção de fêmeas causa a redução da oferta no curto prazo.
Dentro desse cenário comprador, onde a oferta cresce menos que a demanda, e outras carnes ganham mais espaço graças ao seu baixo custo, se torna cada vez mais importante a cadeia da carne bovina melhorar sua capacidade de vender produtos com preço mais alto. A experiência de se comer carne bovina é superior a do frango, e das outras carnes. Precisamos exercitar nossa capacidade de monetizar essa superioridade cada vez mais.
O tamanho das empresas mudou muito em pouco tempo. Hoje temos enormes empresas (brasileiras) atuando no mercado mundial, com produção e comercialização em inúmeros países, além de atuar cada vez mais com um estratégia multi-proteína (que faz todo sentido para essas empresas). Com isso, aumenta a importância de entidades de classe, em especial as que representam produtores (em maior número e mais dispersos). Aumenta também a importância de entidades que representam e pensam a estratégia de um país. O INAC no Uruguai tem feito isso com grande maestria e esse é um dos maiores desafios da Abiec.
Gráfico 2: aumento da produção de carne bovina entre 2010 e 2020
Esse artigo é uma análise da apresentação de Richard Brown, da consultoria européia Gira, feita na reunião pré Congresso Mundial da Carne, aqui na Argentina. O BeefPoint está participando desse que é o principal encontro sobre mercado de carne do mundo e irá preparar uma série de análises, vídeos e artigos. Aguarde mais surpresas.
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Miguel, parabZns pela abordagem. Muito pertinente e esclarecedor esse artigo para n-s, jornalistas do Agroneg-cio!
Excelente artigo para os profissionais do ramo. pode estimular investimentos em muitas plantas no brasil. jlvalim
Cada vez que leio uma notícia deste tipo sinto que estou partilhando de um momento historico e de maneira privilegiada. so tenho que reverenciar e agradece-los.
Parabenizo o sr miguel e o Richard, nós precisamos de pessoas informadas que podem passar essas informações com clareza, pois assim poderemos tomar a decissão correta assim representando o Brasil como melhor e mair comercialização de bovino.
Parabens pela qualidade e clareza da noticias.
Participei durante o dia de hoje de um treinamento ministrado por uma conceituada consultoria do interior de São Paulo, nos diálogos com outros participantes percebi que todos se sentem órfãos de representatividade, fundamentalmente por falta de informação e interação com as ações dos seus órgãos representativos.
O artigo em questão aborda de forma clara a urgência do setor se unir e se informar para que possa ocupar um lugar que é seu neste novo mundo.
Excelente artigo! Parabéns.