O Brasil vem aumentando nos últimos anos sua presença no mercado mundial de carne bovina. Todas as previsões internacionais estão sendo superadas e tudo indica que esse ano não será diferente. Esse forte avanço do Brasil tem preocupado os principais players do mercado, como EUA e Austrália.
Nos primeiros seis meses de 2003 o Brasil exportou 623 mil toneladas de equivalente carcaça, volume 49% superior ao mesmo período do ano passado. Em dólares as exportações representaram US$ 643 milhões, um crescimento de 31,1% em relação ao primeiro semestre de 2002. O valor médio da tonelada exportada caiu 15% em média. O que foi um record o ano passado, será facilmente ultrapassado esse ano.
O atual cenário internacional favorece o Brasil, mas a falta de acordos sanitários e total erradicação de doenças impedem um avanço ainda maior.
Os principais exportadores mundiais são, em ordem decrescente: Austrália, EUA, Brasil, UE, Nova Zelândia e Argentina. Desses países, a Austrália (em alguns mercados marginais) e principalmente a Argentina competem diretamente com o Brasil.
A Austrália tem sofrido com a entrada do Brasil em alguns países da Ásia como, por exemplo, as Filipinas. Esses países não são mercados importantes, pois compram pequenos volumes de carne, a preços baixos. O Japão e a Coréia, principais mercados da Ásia, não compram carne brasileira in natura por falta de acordo sanitário (febre aftosa).
Atualmente a Austrália vem enfrentando dois problemas. O primeiro é a seca que assolou o país esse ano, a pior dos últimos anos. A severa seca obrigou que os produtores abatessem mais animais, com carcaças mais leves. A cadeia da carne australiana vai demorar entre 2 e 3 anos para recompor seus rebanhos e normalizar sua produção. Infelizmente o Brasil não poderá atender os principais mercados australianos (EUA e Japão) por não ter acordo sanitário para exportação de carne in natura, apenas corned beef. Outro sério problema enfrentado pela Austrália e pelos EUA é a possível (tida como certa) elevação da tarifa de importação de carne pelo Japão.
Segundo as normas de comércio internacional um país pode aumentar suas tarifas quando a importação tem aumento de mais de 17% em relação ao ano anterior. Isso aconteceu no Japão devido à recuperação do consumo, pós-crise da vaca louca. Muito provavelmente o Japão aumentou as tarifas de importação de 38,5% para 50% em primeiro de agosto. Isso fará com que os preços da carne importada aumentem para o consumidor final, beneficiando somente os produtores japoneses. Atualmente os EUA e Austrália estão fazendo um forte lobby contra essa elevação de tarifa. Portanto, o principal mercado mundial de carne bovina, o Japão, além de estar fechado à carne brasileira, se tornará mais fechado ainda para carne importada.
Atualmente o mercado americano é muito atrativo para países com livre acesso (que não é o caso do Brasil), uma vez que estão recompondo seus rebanhos (o que diminui a oferta de animais) e os preços estão mais altos, devido também ao recente embargo à carne canadense, após o caso de “vaca louca” descoberto no final de maio.
O mercado americano provavelmente será aberto à carne brasileira no ano que vem, caso se consiga negociar um acordo sanitário. O Brasil precisará provar que tem efetivo controle da doença em determinadas regiões e, o mais difícil atualmente, comprovar que possui um também efetivo controle de movimentação de animais. No entanto, o mercado americano é baseado em cotas e muito provavelmente o Brasil receberia uma cota anual de 20 mil toneladas. Isso representaria hoje um acréscimo 2% no volume comercializado pelo Brasil no mercado externo. Apesar desse pequeno volume, o mercado americano é muito importante para o Brasil, servindo como cartão de visitas para outros países, como mostra de que atende a rígidos padrões de segurança alimentar.
Já na Europa, apesar de não se notar grandes avanços na queda dos subsídios dados aos produtores, a tendência é que o volume de carne importada pelos 15 países da comunidade européia aumente ano a ano até 2010, sendo acompanhado pelo decréscimo nas exportações, segundo relatório da FAO publicado esse ano. Além disso, a diminuição do volume de abate e o decréscimo no peso das carcaças estão afetando a produção interna de carne bovina. Assim, o Brasil tem a possibilidade aumentar o volume de carne exportada para a Europa e ganhar novos mercados, ou aumentar o market share em mercados onde já atua, como o Oriente Médio.
Outro mercado ainda não explorado pelo Brasil é a China. Os australianos esperam um crescimento lento, mas contínuo dos negócios com esse país, uma vez que a produção interna chinesa cresce muito anualmente. O mesmo pode ocorrer com o Brasil. A produção de carne bovina na China é estimada pela FAO para 2003 é de 5,9 milhões de toneladas, ou seja, 79% da produção brasileira.
Já o mercado chinês de miúdos é extremamente interessante para o Brasil, uma vez que produtos com bucho, cartilagens, etc alcançam preços muito superiores aos obtidos no mercado interno brasileiro, aumentando de forma indireta o valor total da carcaça comercializada.
Pode-se notar que o Brasil mesmo sem ter acesso aos mercados compradores de carne bovina mais importantes do mundo, tem aumentado muito suas exportações, superando em volume exportado as expectativas mais otimistas. O mercado mundial da carne oferece oportunidades ímpares de crescimento ao Brasil, desde que alcancemos a excelência no controle de doenças e haja absoluta segurança quanto à inocuidade dos produtos brasileiros. Todos os outros países exportadores estão atentos aos movimentos brasileiros e se preparam para defender os mercados já atendidos.
A oferta de carne a preços baixos (como já fazemos atualmente) aliada a programas de qualidade assegurada na produção animal (o que temos total capacidade de oferecer) poderá levar o Brasil para a primeira posição entre os exportadores de carne, num prazo mais curto do que muitos imaginam. Quem sabe já em 2004.