Um antibiótico comum pode ser um instrumento útil contra as proteínas anormais que causam a encefalopatia espongiforme bovina (EEB), conhecida como doença da “vaca louca”, além de outras doenças que causam danos ao sistema nervoso, segundo informado por pesquisadores italianos.
A EEB é uma enfermidade incurável que acomete os bovinos. Mais de 100 pessoas da Europa, quase todas elas na Inglaterra, desenvolveram uma doença similar chamada de nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob (nvCJD), possivelmente relacionada com a ingestão de carne proveniente de animais com EEB. Tanto a EEB como a nvCJD, além de outras encefalopatias espongiformes transmissíveis, como a “scrapie”, são marcadas pelo surgimento no cérebro de versões anormais de proteínas chamadas príons. Os príons são resistentes a enzimas que poderiam removê-los, o que leva à degeneração das células cerebrais.
Até agora, não há tratamento para a nvCJD nem para outras doenças causadas por príons, embora existam vários compostos que interferem com a formação desta proteína anormal. Porém, esses compostos ou não são capazes de atingir o cérebro através da circulação sangüínea ou causam severos efeitos colaterais, ou ainda, ambas as coisas.
Porém, um relatório publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences Early Edition sugere que as tetraciclinas, uma classe de medicamentos comumente utilizada como antibiótico, pode afetar a habilidade dos príons de causar a doença.
O pesquisador do Instituto Nazionale Neurologico Carlo Besta, de Milão, Itália, Fabrizio Tagliavini, e seus colegas trataram amostras de tecidos retiradas de pacientes com nvCJD, bem como de bovinos com EEB, com a tetraciclina. Quando os príons foram expostos ao antibiótico se tornaram menos resistentes à digestão das enzimas. Quanto maior a dose utilizada, menos resistente os príons se tornavam à digestão enzimática e, então, eram removidos.
Depois desses resultados promissores, os pesquisadores testaram a tetraciclina em hamsters com “scrapie”. Quando os príons foram expostos à tetraciclina antes da injeção, os animais não apresentaram a doença durante um período significativamente maior e viveram bastante tempo. Este atraso foi acompanhado por um retardamento nas anormalidades cerebrais que normalmente se desenvolvem nestas doenças cerebrais.
Estas descobertas sugerem que as tetraciclinas, que já são aprovadas para uso humano, podem ser úteis para pessoas com estas doenças neuro-degenerativas. “As tetraciclinas devem ser reconsideradas por seus efeitos farmacológicos independentemente de sua atividade como antibiótico”, disseram os autores da pesquisa.
Os antibióticos podem ter também um papel na prevenção de infecções, segundo sugerem os pesquisadores. Quando a equipe de Tagliavini misturou tetraciclina em uma solução bastante diluída contendo “scrapie”, um terço dos hamsters expostos a esta solução não desenvolveu a doença.
Os resultados desta pesquisa sugerem que pode ser possível usar antibióticos para inativar os príons em produtos potencialmente contaminados.
Fonte: Proceedings of the National Academy of Sciences Early Edition, publicado em Reuters Health, adaptado por Equipe BeefPoint