Apesar da ampla atenção que tem sido dada à dieta, a ingestão de calorias pode não ser o principal fator da causa de mortes por doenças cardíacas, de acordo com um estudo de 17 anos com quase 9,8 mil estadunidenses. Ao invés disso, a perda do peso excessivo – ou não se tornar uma pessoa com sobrepeso – e os exercícios físicos podem ser mais eficientes para evitar a morte por doenças cardíacas, disse a pesquisadora do Albert Einstein College of Medicine, de Bronx, Nova Iorque, Jing Fang.
“O fato é que aqueles que se exercitam mais e, no entanto, comem mais, têm menor mortalidade por doenças cardiovasculares”. O gasto de energia por meio de atividades físicas pode ser a chave para reduzir os riscos de doenças cardíacas e para viver mais, com uma vida mais saudável, disse ela. O estudo foi publicado na edição de novembro do periódico American Journal of Preventive Medicine.
Os pesquisadores estudaram dados de 9,79 mil participantes na Primeira Pesquisa Nacional de Análise de Saúde e Nutrição, um estudo nacional feito de 1971 a 1975, financiado pelo governo dos Estados Unidos. O grupo de Fang comparou os relatórios de atividades físicas, índice de massa corpórea (IMC) e ingestão calórica dietética com mortes por doenças cardíacas até 1992.
Eles agruparam os participantes por seus relatórios iniciais de ingestão calórica (baixa, média e alta), prática de exercícios (baixa, moderada e alta) e IMC (normal, sobrepeso e obeso). O IMC é a medida do peso em relação à altura, muito utilizada atualmente para calcular o peso ideal.
Entre os participantes que estavam com sobrepeso ou eram obesos, aqueles que consumiam poucas calorias e se exercitavam menos tinham maior probabilidade de serem mais velhos, negros, de terem menor renda familiar, com menor probabilidade de se terem graduado em curso superior e maior chance de ter altos níveis de colesterol e alta pressão arterial do que aqueles que comiam e se exercitavam mais.
Durante os 17 anos da pesquisa, 1.531 participantes morreram de doenças cardíacas. Depois de ajustados pelo IMC e pela atividade física, a ingestão calórica não esteve relacionada a essas doenças. Aqueles que se exercitaram mais e comeram mais eram mais magros e tiveram menos da metade da mortalidade por doenças cardiovasculares do que aqueles que se exercitaram menos, comeram menos e estavam com sobrepeso.
“As pessoas com menor ingestão calórica, menos atividades físicas, e que estavam com sobrepeso ou eram obesos tiveram maiores taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares do que aqueles com alta ingestão calórica, mais atividades físicas e peso normal”, disse Fang, A diferença na taxa de mortalidade foi 55%.
Aqueles que comem menos não necessariamente são mais magros, disse ela, e comer mais não se traduz em obesidade em todos os casos. As pessoas que estavam em sobrepeso e se exercitaram menos no começo tiveram maior mortalidade por doenças cardiovasculares, mesmo nos casos em que comeram menos.
“Isso sugere que a causa de doenças cardíacas não é determinada por um único fator, mas sim, por uma composição de fatores, incluindo comportamentais, socioeconômicos, genéticos e características clinicas”.
O foco no aumento do gasto de energia ao invés de na redução da ingestão calórica pode ser o resultado mais prático desse estudo, disse ela, e pode oferecer estratégias comportamentais mais produtivas para aqueles que querem viver mais.