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Pesquisador da Embrapa do Acre afirma que pecuária pode acelerar ritmo da devastação

A demanda internacional por carne bovina poderá acelerar o ritmo de desmatamento da Amazônia Legal, segundo o pesquisador Judson Valentin, da Embrapa Acre. “Nos próximos 20 anos, quase 100 milhões de hectares podem ser desmatados”, alertou Valentin, durante o seminário Pecuária e Desmatamento da Amazônia Legal: Tendências Atuais e Cenários Alternativos, na Embrapa. Outro pesquisador da Embrapa, Norton Amador da Costa, em entrevista ao BeefPoint se mostrou contrário a essa idéia prevendo que a utilização de tecnologia na bovinocultura da região possibilitará à pecuária local crescer, sem desmatar (clique aqui para ler matéria completa).

Embora pague mais caro pelos bezerros, gaste mais para trazer insumos do Sul e receba menos pelos animais adultos, a pecuária na Amazônia é mais rentável que em São Paulo, por exemplo. “Terra e mão-de-obra são mais baratas e há pasto verde o ano todo.” Valentin citou estudos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo, feitos em 2003, mostrando que a renda líquida da pecuária é de R$ 65 por hectare em São Paulo. Em algumas regiões da Amazônia, é de R$ 138.

“Temos que conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental. Se continuarmos batendo em ponta de faca, o desmatamento continuará acontecendo da pior forma possível.”

Ele calcula que o desmatamento na Amazônia já alcançou 65 milhões de hectares. O pesquisador defendeu o zoneamento da região e o aproveitamento das áreas já desmatadas para acomodar sem-terra, agricultores e pecuaristas.

Segundo o engenheiro, seria possível produzir 50 milhões de toneladas de grãos em apenas 20% da área já desmatada, com aplicação de tecnologias. Além disso, se 60% das áreas desmatadas fossem destinadas à pecuária de corte, seria possível criar um rebanho de 100 milhões de cabeças de gado na região.

Pelas contas de Valentin, a área restante poderia servir para assentar 900 mil pequenos agricultores.

Pequenos

O grande desafio do governo para combater o desmatamento é controlar os pequenos agricultores, avaliou o pesquisador. “São os pequenos que desmatam para comer, ou seja, para plantar milho, arroz e feijão e depois transformam a área em pastagem.” Para ele, “é errada” a idéia de que os grandes pecuaristas são responsáveis pelo desmatamento, pois eles usam tecnologias que permitem maior produção em áreas menores.

Para justificar seu ponto de vista, Valentin citou que em 2002 no Acre havia 16.348 propriedades voltadas para pecuária de corte; e 571 pecuaristas possuíam mais de 500 cabeças. Só 279 produtores tinham rebanho superior a mil cabeças. A maioria tinha até 500. “É esse produtor que está desmatando e o grande desafio da Embrapa é levar a tecnologia a ele.” Segundo o BeefPoint apurou, o rebanho acreano em 2002 era de 1.761.620 cabeças de gado (clique aqui para ler a matéria).

Um sinal do baixo uso de tecnologia é a taxa de ocupação das fazendas de pecuária: de 1,2 cabeça por hectare. “Com a aplicação de tecnologia já disponível, poderíamos elevar essa ocupação para 2 cabeças por hectare.”

Fonte: O Estado de São Paulo (Fabíola Salvador), adaptado por Equipe BeefPoint

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