A Polícia Federal assumiu uma dupla tarefa nas investigações do Frigorífico Margen: quer punir os dirigentes envolvidos e, ao mesmo tempo, garantir a manutenção do funcionamento da empresa. “Há uma preocupação de não paralisar a atividade da empresa porque certamente haveria impacto na economia”, afirmou a chefe da Divisão de Repressão a Crimes Previdenciários da PF, delegada Mirânjela Maria Batista Leite.
Os sócios do grupo Margen são acusados de falsidade ideológica, sonegação fiscal, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Se condenados, eles deverão ser presos em regime fechado. Os bens da empresa seriam todos apreendidos. Como manter o funcionamento nessas condições?
Mirânjela conta que a PF deu um passo neste sentido após a Justiça determinar o seqüestro dos bens do Margen. O juiz decidiu que todos os 230 caminhões da companhia teriam que se deslocar a Mato Grosso do Sul para facilitar o trabalho do oficial de Justiça na listagem dos bens. A PF está pedindo a reconsideração dessa decisão para evitar que seja interrompido o transporte de carnes por esses caminhões. A Polícia quer que o oficial se desloque por oito estados para fazer a listagem completa.
Outro passo importante para a continuidade das atividades do grupo, segundo a PF, seria o pagamento das dívidas. São R$ 65 milhões com o INSS e mais R$ 60 milhões com a Receita Federal, informou Mirânjela. A quitação destes débitos contribuiria para a regularização da empresa e poderia levar a uma redução de pena para os sócios. “Sabemos que o Margen tem mais de oito mil funcionários e que se a empresa parasse os produtores de carne também sofreriam”, justificou. “O objetivo da Polícia não é causar este tipo de prejuízo”. O Margen informa ter 11 mil funcionários.
O maior trabalho da PF está no mapeamento dos bens da empresa e de seus sócios. Já foram realizadas 72 ações de busca e apreensão de documentos em oito estados em que o Margen atua. As ações foram concentradas em Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo, onde a atividade do frigorífico é mais intensa.
A Justiça autorizou a realização de escutas telefônicas para ajudar na obtenção de informações. Foram feitas buscas em residências de sócios da empresa. Descobriu-se o envio de dinheiro do frigorífico para fora do país. Oito pessoas físicas foram presas.
Ação
A investigação do Margen foi realizada com base numa força-tarefa envolvendo a PF, o Ministério Público e o INSS. A atuação conjunta entre esses órgãos gerou milhares de páginas e documentos, atualmente sob a análise da PF. O INSS identificou problemas de apropriação indevida de repasses aos produtores pelo Margen. O dinheiro vinha do Funrural. O Margen, em vez de repassar, mantinha a quantia sob o seu controle usando “laranjas”, diz a PF.
Segundo o advogado Ney Moura Teles, que representa os diretores do Margen, a empresa não responde por dívidas referentes ao Funrural, por conta de uma decisão do Tribunal Regional Federal da 1a região de Brasília, que deu ganho de causa ao grupo em 1997.
O relatório final da PF será concluído pelo delegado Edgard Marcom. Ele encaminhará o caso para o Ministério Público Federal do Mato Grosso do Sul. O MPF deverá apresentar denúncia contra o frigorífico e seus sócios à Justiça. A PF preferiu não revelar se outros frigoríficos estão sob investigação.
Fonte: Valor (por Juliano Basile), adaptado por Equipe BeefPoint