Por Luciano Eduardo Polaquini1 e Rubén Roberto Velazco Gutiérrez2
A pergunta mais freqüente entre os produtores rurais que ainda não entenderam a importância do planejamento nos sistemas modernos de produção de carne é: Porque devemos planejar?
Com base nesta pergunta desenvolveremos algumas considerações para esclarecer dúvidas de tais produtores rurais.
A composição dos preços respeitava a seguinte equação:
Em uma fase inicial a Oferta era inferior à procura: período de intenso crescimento econômico após a Segunda guerra mundial, com baixa oferta de produtos. A função essencial da empresa era técnica e industrial. O lema era “produzir e depois vender” tendo como característica principal altos inventários em processos, fabricação em série, prazos estipulados pelo próprio ciclo de produção e gestão manual.
Outra Fase: Oferta em equilíbrio com a procura: aqui o consumidor podia escolher o fornecedor. Com o lema “produzir o que será vendido” cujas características eram: necessidade de realizar previsões de vendas, controlar as atividades de produção, equacionar os estoques e fixar as datas de entrega.
Terceira Fase: Oferta excedente à procura: existia severa concorrência entre as empresas, o consumidor tornou-se mais exigente. O lema é “produzir o que já está vendido” e as características são: controle de custos, qualidade irrepreensível, prazos de entrega curtos e pontuais, série de produtos personalizados, renovação contínua de produtos e melhoria das técnicas de produção e controle (Figura 1).
Em função do observado anteriormente e de acordo com a Figura 1, pode-se inferir que o planejamento é um processo sistemático no qual ocorre avaliação contínua de alternativas e tomada de um conjunto de decisões inter-relacionadas, antes do processo produtivo, fazendo com que a probabilidade de um resultado favorável aumente.
Dentro dessa visão, o planejamento pecuário pode ser:
a) De longo prazo
O objetivo de análise de decisão nesta fase, diz respeito basicamente à criação de cenários da pecuária para os próximos anos, com estudo de tendências de consumo, desenvolvimento de técnicas produtivas, estratégias de marketing, investimentos em ampliação da capacidade de produção, entre outras;
b) De médio prazo
Este planejamento tem um horizonte que pode variar entre 6 meses a 2 anos. Está mais próximo do processo operacional da produção pecuária. Nesse horizonte são analisados o que será produzido, tomando-se por base alternativas de menor custo e prazo (dependendo do sistema de produção). Também são avaliados os recursos necessários para a compra de insumos, processos de produção;
c) De curto prazo
Neste planejamento são abertas e controladas as ordens de produção e compra para o cumprimento do plano executado nos níveis anteriores. São avaliados os roteiros e o seqüenciamento da produção, controle de estoques e qualidade a curto prazo.
Para que o produtor rural possa assimilar o planejamento dividiremos o processo em 5 etapas a serem buscadas, a saber:
1a Etapa: especificação dos objetivos e metas (Ex: quantos animais serão produzidos este ano)
2a Etapa: seleção de políticas, programas, procedimentos e práticas pelas quais os objetivos e metas devem ser alcançados. (Ex: confinamento ou suplementação em pastagem)
3a Etapa: determinação dos tipos e quantidades dos recursos necessários, como devem ser gerados ou obtidos e como devem ser alocados às atividades. (Ex: necessidade de financiamentos, venda de produtos em estoque)
4a Etapa: definição dos procedimentos decisórios e o modo de organizá-los para que o plano possa ser realizado. (Ex: cronograma de atividades ao longo do ciclo produtivo)
5a Etapa: definição de procedimentos para prevenir ou detectar erros ou falhas e evitá-los permanentemente. (Ex: acompanhamento do ganho de peso diário dos animais em engorda, controle de estoques)
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1Luciano Eduardo Polaquini, Prof. MSc. Universidade São Marcos (Curso de Zootecnia) e Consultor de Planejamento e Gestão Pecuária
2Rubén Roberto Velazco Gutiérrez, Prof. Dr. Universidade São Marcos (Curso de Zootecnia)
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Luciano e Roberto,
Acompanho com atenção as publicações editadas pela BeefPoint, por que considero os canais de comunicação abertos pela mesma, instrumento precioso de agregação/contatos para toda a cadeia produtiva da carne: pesquisa, campo, economia, política, etc…
Vocês, abordando a questão do gerenciamento, focaram o ponto, que acredito fundamental à evolução da pecuária nacional como atividade econômica propriamente dita, especialmente no que se refere a minha região, mais especificamente ao Estado de Mato Grosso.
Ainda estamos, nós pecuaristas daqui, usufruindo dos resultados advindos dos investimentos imobiliários, dos benefícios de impostos diferenciados (diga-se de passagem, de 2 anos para cá, deixaram de existir).
Estamos passando pelo mesmo filtro de eficiência econômica, que passou a agricultura há cerca de 8 anos atrás. Se não nos ajustarmos e corrigirmos critérios de gerenciamento, não sobreviveremos na atividade de pecuária.
A equação recomendada por vocês que determina: preço de venda – custo de produção = margem de lucro, não é contabilizada pela grande maioria dos produtores de carne.
Os criadores ainda permanecem calculando generalizadamente, o número de animais que vão vender anualmente para cobrir os custos de produção e fazer a mantença das famílias. Os invernistas por sua vez, consideram que ser eficiente é colocar, para cada boi gordo vendido, 2 bois magros de volta no pasto.
As consequências destes procedimentos arcaicos é o que hoje estamos vendo: pecuaristas quebrados e mercado da carne com oferta inflacionada.
Se tivéssemos um gerenciamento técnico/financeiro efetivo, tenho a certeza, que estaríamos produzindo menos e com melhores resultados.
Considero como vocês, o planejamento instrumento básico para o gerenciamento pecuário, assim como é para qualquer atividade econômica, por que ao planejar, o indivíduo é obrigado a visualizar todos os quesitos que envolvem a produção: zootécnicos (plantel, fertilidade, ganho de peso diário, morbidade, consumo de insumos, lotação e capacidade de suporte das pastagens, entre outros…); financeiros (custos fixos, variáveis, cálculos de viabilidade de investimentos, relações de custo/benefícios, etc…). E, assim ter condições de fazer uma análise clara, financeira e zootécnica, que permita montar uma estratégia comercial para o negócio “pecuária”.