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Plano de Ações Estratégicas para o Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Carne Bovina no Estado da Bahia

A cadeia produtiva de carne bovina baiana tem peculiaridades e está comprometida em todos os seus elos, desde os fornecedores até a gôndola dos supermercados e o desconhecimento do preparo correto dos diferentes cortes pelo consumidor. Essa proposta apresenta uma síntese das principais características, ameaças, desafios e oportunidades da cadeia da carne bovina no Estado da Bahia, que deverão nortear um Plano Estadual de Ações Estratégicas para superar dificuldades importantes e gargalos, aproveitando satisfatoriamente a situação de perspectiva de retomada do crescimento econômico mundial após 2009 e as boas oportunidades para a inserção da carne bovina baiana no mercado internacional na próxima década.

A cadeia produtiva de carne bovina baiana tem peculiaridades e está comprometida em todos os seus elos, desde os fornecedores até a gôndola dos supermercados e o desconhecimento do preparo correto dos diferentes cortes pelo consumidor. Existem não somente deficiências, mas também um alto grau de individualismo que se traduz em baixo desempenho da atividade pecuária, falta de qualidade do produto final, concorrência predatória, desperdícios e distorções de preços que inibem a inserção do Estado da Bahia no mercado global da carne bovina.

O presente capítulo dessa proposta apresenta uma síntese das principais características, ameaças, desafios e oportunidades da cadeia da carne bovina no Estado da Bahia, que deverão nortear um Plano Estadual de Ações Estratégicas para superar dificuldades importantes e gargalos, aproveitando satisfatoriamente a situação de perspectiva de retomada do crescimento econômico mundial após 2009 e as boas oportunidades para a inserção da carne bovina baiana no mercado internacional na próxima década.

Aproximações foram feitas para contornar as discrepâncias entre diferentes fontes de informação sobre os dados do rebanho bovino, abate clandestino e sistemas de distribuição da carne. As diferenças encontradas podem ser atribuídas tanto à metodologia de estimativa, quanto às características do rebanho baiano, que se divide em gado de corte, leiteiro ou de destinação mista. A não especialização do rebanho é uma dificuldade a ser tratada pelo setor e pelas organizações responsáveis pela coleta de informações.

Houve um incremento na taxa de abate especialmente nos dois últimos anos, com um real crescimento do efetivo bovino baiano. Esse fato deveu-se, provavelmente, a um manejo mais adequado do rebanho. Entretanto, esse crescimento não parece ter ocorrido de forma equilibrada, visto que o abate de fêmeas aumentou desproporcionalmente em relação ao de machos. Novos projetos pecuários se implantaram e muitos produtores incrementaram a tecnologia de manejo, não apenas para atender a essa demanda, mas também para fazer frente ao aumento dos custos de produção e à redução das margens de lucro. Em que pese o crescimento observado na produção nos últimos anos, o aumento na taxa de abate de fêmeas e a saída de bezerros para outros Estados podem vir a comprometer o crescimento do rebanho e os abates nos próximos anos.

A falta de modernização e de investimento nas questões de defesa animal, fiscalização da carne in natura, prevenção sanitária (particularmente aquelas ligadas à febre aftosa e à brucelose) e de controle das vendas em feiras e açougues, condicionam o desenvolvimento da pecuária baiana. Embora existam recursos humanos, a falta de recursos materiais está comprometendo a inserção da Bahia no cenário de exportação.

Observa-se uma tendência à especialização das atividades da pecuária bovina de corte na Bahia por parte de fortes grupos econômicos investindo no Oeste baiano, mas que enfrentam o problema de falta de concorrência entre frigoríficos. O número de estabelecimentos específicos para engorda com maior capacidade produtiva tem-se ampliado. Antevê-se maior disseminação de estabelecimentos especializados em reprodução e criação voltados para mercados específicos.

Alguns fatores condicionam diretamente a competitividade da carne bovina no Estado da Bahia. Destacam-se aspectos tecnológicos da produção primária, na organização da classe produtora, na desarticulação da cadeia produtiva, no abate/processamento, na distribuição, na gestão, nas dificuldades de obtenção de licenças ambientais e sanitárias. Hoje, alguns desses aspectos são pontos fracos para o crescimento da cadeia, mas podem se tornar pontos fortes se analisados e tratados de forma sistêmica.

Questões de tecnologia e resolução de questões sanitárias devem ser mais bem gerenciadas pela cadeia, não somente o abate clandestino, mas a questão cultural do consumo e a valorização deste segmento informal do mercado. Os desafios em termos de se coordenar uma cadeia com atenção ao meio ambiente serão cada vez mais imperativos. Deve-se considerar que, cada vez mais, os consumidores estão preocupados em consumir produtos oriundos de cadeias produtivas que adotam práticas ambientalmente corretas e socialmente justas.

A implementação de um projeto de desenvolvimento pecuário na Bahia pode, em dez anos, elevar a taxa de lotação atual de 0,54 UA/ha para 1,28 UA/ha o que levaria o rebanho bovino baiano a 23 milhões de cabeças, sem necessidade de derrubada de uma única árvore, com excedentes para participar do mercado global.

Os ambientes de ordem institucional, organizacional e tecnológico deverão desenvolver em conjunto um Plano Estadual de Ações Estratégicas que seja capaz de reestruturar a Cadeia Produtiva da Carne Bovina no Estado da Bahia. O Governo Estadual terá o papel central na implementação de estratégias de sustentação e ampliação da inserção da carne bovina baiana no mercado nacional em curto prazo e no mercado internacional em médio e longo prazo. Sua atuação deve voltar-se para políticas internas eficientes como tecnologia, organização de produtores, crédito, sanidade e infraestrutura.

A participação da iniciativa privada pode e deve ser mais proativa, no sentido de assumir parte das responsabilidades no processo de negociação e implementação das ações decorrentes.

A abordagem utilizada deve ser de natureza sistêmica, pois qualquer falha nos procedimentos adotados por um dos agentes da cadeia pode comprometer o sucesso de todos e a qualidade do produto final.

Por fim, sugere-se um conjunto de medidas que podem ser utilizadas para a implementação de políticas públicas e privadas:

1. Estabelecer metas ambiciosas de classificação de risco, para a eliminação de zoonoses em todo o Estado.

2. Implantar gradualmente o Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) em toda a cadeia agroindustrial da pecuária de corte.

3. Realizar campanha publicitária institucional e programar “dias de campo” com objetivo de elevar o nível de conscientização dos produtores para a importância da vacinação contra a febre aftosa e brucelose.

4. Reestruturar e ampliar os serviços de assistência técnica e gerencial ao produtor e melhorar os processos de difusão de tecnologia, incluindo meios eletrônicos, para todos os participantes da cadeia.

5. Rever a estrutura e as práticas de inspeção e fiscalização, visando padronizá-las em âmbito estadual e adequando-as às exigências dos mercados internacionais.

6. Investir na estrutura de P&D da carne bovina existente no país, aproveitando o conhecimento e as boas condições materiais e humanas já acumuladas em diversos centros de pesquisa, trazendo-os para o Estado da Bahia.

7. Promover investimentos conjuntos por parte dos diferentes agentes para implementar a articulação de iniciativas que elevem o nível de informação dos empresários da cadeia a respeito das virtudes de comportamentos mais cooperativos e menos adversários.

8. Promover formas mais associativas e/ou cooperativistas de organização como alvo de atenção de todos os agentes.

9. Realizar campanhas publicitárias estaduais de caráter institucional, com o objetivo de informar os consumidores sobre as reais características da carne bovina baiana e os riscos do consumo de alimentos não inspecionados e mostrar a natureza da atividade pecuária, desmistificando a visão negativa que se tem dela.

10. Implantar um sistema estadual centralizado e confiável para a definição e coleta de informação sobre aspectos diversos da cadeia.

11. Estabelecer mecanismos sistemáticos de obtenção de dados sobre os vários aspectos e agentes da cadeia da carne bovina.

12. Revisar e implantar o Programa de Regionalização do Abate, concebido pela ADAB/SEAGRI.

13. Estimular o uso do sistema de classificação de carcaças nos frigoríficos e abatedouros, visando remunerar de forma diferenciada a qualidade.

14. Começar a incentivar o sistema de rastreabilidade no Estado através de benefícios fiscais.

15. Promover cursos voltados para treinamento de mão-de-obra gerencial e operacional das propriedades pecuárias.

16. Promover o treinamento de mão-de-obra da indústria frigorífica e dos abatedouros.

17. Estimular a ampliação do número de empresas certificadas em gestão da qualidade e proteção ambiental.

18. Implantar as Boas Práticas Agropecuárias – BPA Bovinos de Corte e Qualidade Total Rural – QT Rural Pecuária de Corte para grupos de produtores devidamente organizados.

19. Implantar o Programa Campo Futuro da CNA – Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária, SENAR e BM&F – Bolsa de Mercados & Futuros, para capacitar produtores rurais em cálculos de custo de produção pecuária e utilização de operações no Mercado Futuro.

20. Promover ações buscando o melhoramento genético do rebanho baiano, através de programas como o PROGENÉTICA e de Inseminação Artificial para pequenos e médios produtores.

21. Combater de forma rigorosa o uso de farinha de carne na alimentação bovina.

22. Apoiar o pleito do Estado da Bahia, através da ADAB, para adesão ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal – SISBE.

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  1. Paulo Cesar Bastos disse:

    A Bahia até hoje, muitos séculos depois, continua no mesmo sistema do lendário Garcia D´Ávila ,o introdutor da pecuária na Bahia e no Brasil, abate-se o boi para aproveitar a carne ,o bucho e o couro.

    Há mais de duzentos anos surgiram, na Alemanha e na Itália, os hoje chamados embutidos.A Bahia produz carros da mais moderna tecnologia , produtos petroquímicos e computadores , mas não produz uma simples salsicha para um cachorro quente.

    Enquanto em todo o mundo já se fala em fábricas de carne, o nosso estado não faz nada mais do que abater,não processamos praticamente nada.Vendemos carne industrial e proteína de soja ,produzidas aqui ,para o sul maravilha nos devolver com muito mais valor agregado em forma de mortadela.É inacreditável ,mas é realidade.Perdemos dinheiro e arrecadação no estado, além deixar de gerar mais trabalho e renda.

    O estado precisa de um plano de apoio às unidades de abate existentes para viabiliza-las e evitar concentração da compra pelos grandes frigoríficos e, também, estabelecer um plano de fomento e incentivo às iniciativas empresariais para o processamento de carne, nas próprias unidades de abate ou como satélites agregadas à uma central de matéria prima que seria o abatedouro.Introduzir a política dos “clusters” ou dos nacionalizados Arranjos Produtivos Locais-APLs.

    Zona livre de aftosa com vacinação, vitória conjunta de produtores e governo,não exportamos , apesar de vários frigoríficos com o carimbo do SIF.

    Como ,verificamos recentemente, o caminho não é sómente a exportação, precisamos ampliar o mercado interno.Aí vem o um binômio para resolver, adequar baixa renda x preço justo ao produtor.

    A solução para a equação:melhoria da rentabilidade industrial nos produtos e subprodutos ,processando a matéria prima boi gordo de modo a permitir uma melhor remuneração ao produtor sem um repasse que afaste o consumidor.

    Tudo isso, ao mesmo tempo,acompanhado de um programa de melhoria do manejo pecuário com uma extensão rural eficiente e adequada aos diversos territórios de nosso estado, um país dentro de um continente chamado Brasil.

    Além disso torna-se necessário desenvolver entre produtores e demais integrantes da cadeia produtiva de carne(frigoríficos,distribuidores , varejo e consumidores) uma proposta moderna e inovadora do ganha-ganha, fazendo prosperar a capacidade,cooperação,comunicação,compromisso e confiança no desenvolvimento sustentável para este nosso estado onde fica situada a grande parte do semiárido brasileiro .

    Valendo sempre lembrar: o sertão não virou mar, mas produz a comida de quem vive na beira do mar.Além disso vale a máxima da engenharia de que não se constrói nada sózinho, assim,a participação com idéias e opiniões de todos os integrantes da cadeia produtiva é fundamental.Ninguem é dono da verdade,este texto é um convite ao debate.

    Vamos avançar, a Bahia vai chegar lá.

    Paulo Cesar Bastos é engenheiro e pecuarista.