O ano de 2004 tem acumulado uma série de frustrações para os produtores rurais. Houve queda na expectativa de safra, gastos elevados para conter a incidência da praga da ferrugem asiática sobre as lavouras de soja e, por fim, o anúncio de um novo plano de safra que contempla um volume de crédito a juros equalizados insuficiente para atender a demanda do setor rural. Este é o cenário que a atividade agropecuária enfrenta atualmente, disse na última terça-feira (22/06) o presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Macel Caixeta. “Achamos que o novo Plano de Safra tem de ser revisto”, defendeu Caixeta, como alternativa para estimular o plantio no próximo ano agrícola.
O total de crédito com juros controlados (taxas prefixadas, mais baratas que as demais linhas de mercado) disponível no Plano Agrícola e Pecuária 2004/2005 atingem R$ 17,7 bilhões, embora a CNA tenha apontado, em abril, a necessidade de liberação de R$ 56,2 bilhões de financiamento a juros controlados. “O que nos assustou muito no novo Plano de Safra foi o aumento de crédito a juros livres, em 121%; e a tímida elevação de crédito a juros controlados”, disse Caixeta. O total de financiamento disponível a juros livres subiu de R$ 5 bilhões para R$ 11 bilhões. A soma de recursos para crédito com juro controlado aumentou de R$ 16,4 bilhões para R$ 17,7 bilhões.
Segundo Caixeta, desde o ano passado houve forte elevação dos custos de produção, embora tenham sido mantidos os tetos de financiamento por produtor no novo Plano de Safra. Caixeta criticou também que tenha sido adotada, na prática, elevação da taxa efetiva das operações do Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota). À taxa original, de 12,75%, fica adicionada a cobrança de mais 4%, para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social; e mais 3%, relativa ao BB Agro. Para o dirigente da CNA, o juro final será mais alto que a rentabilidade do produtor rural, o que inibirá os investimentos na recomposição do parque de maquinário agrícola.
Essa contenção na liberação de crédito é anunciada em momento no qual os agricultores enfrentaram queda de renda. Foi registrada também elevação do preço do agroquímico. A despesa é de R$ 80 a R$ 120 por hectare para cada aplicação. “A recomendação da Embrapa era de até três aplicações de fungicida, o que aumenta o custo com aplicação de agroquímicos para até R$ 360 por hectare”, explicou o dirigente da CNA. “A rentabilidade média do setor fica entre 15% e 16%, isso sem contar situações como a que ocorreu este ano, com problemas climáticos e a ferrugem asiática”, disse Caixeta. Ou seja, a rentabilidade do setor será incapaz para cobrir despesas do produtor, caso seja necessário recorrer a financiamentos a juros livres.
Fonte: CNA, adaptado por Equipe BeefPoint