O plantio direto com semeadura a lanço em substituição ao plantio mecanizado possibilita recuperar a capacidade produtiva de pastagens degradadas com maior agilidade, menor investimento financeiro e sustentabilidade. Além de reduzir pela metade o tempo para formação e estabelecimento da pastagem, essa modalidade de plantio proporciona economia de até 15% no custo do processo de reforma e diminui os impactos ambientais da atividade pecuária.
Essas são as conclusões de pesquisas realizadas pela Embrapa com produtores do Acre, Estado que tem na pecuária sua principal atividade econômica, com cerca de 24 mil produtores rurais (mais de 80% são de base familiar) e um rebanho bovino de 4,57 milhões de cabeças distribuídas em 2,25 milhões de hectares de pastagens, de acordo com o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o pesquisador da Embrapa Acre Carlos Mauricio Andrade, mais de 80% das propriedades rurais acreanas apresentam solos com baixa permeabilidade, sujeitos ao encharcamento durante a estação chuvosa.
O capim-xaraés é a cultivar mais plantada atualmente no Acre, por sua alta produtividade e boa tolerância ao encharcamento do solo, mas há recomendação também para o plantio do capim-piatã nas áreas menos sujeitas ao encharcamento do solo.
Andrade afirma que o plantio direto a lanço é eficaz para reformar pastagens degradadas, sem exposição do solo a processos erosivos. A reforma com uso da técnica, desde os cuidados iniciais com a área até o primeiro pastejo, leva de 90 a 100 dias, enquanto no método convencional pode durar até 150 dias.
“Além de encurtar o tempo que a pastagem permanece sem uso durante a reforma e reduzir custos para o produtor, o plantio direto a lanço contribui para a manutenção da rentabilidade do sistema produtivo e pode ajudar a desenvolver a pecuária a pasto na Amazônia, com sustentabilidade”, afirmou o pesquisador, em nota.
Embora demande maior quantidade de sementes, a técnica proporciona melhor rendimento operacional em relação a outras modalidades de plantio direto e ao plantio convencional.
“A economia com horas e máquinas, possibilitada pelo baixo investimento em operações mecanizadas, compensa os gastos com insumos e reduz o custo total da reforma da pastagem. No Acre, um hectare reformado pelo método convencional custa R$ 2.300, enquanto no plantio direto a lanço o valor cai para R$ 2.000”, estima Andrade.
Bons resultados
Os pecuaristas Fábio Medeiros, de Brasiléia, e Francisco Hernandes, de Rio Branco, trocaram o método convencional pelo plantio direto a lanço e já colheram bons resultados.
Medeiros reformou há seis anos as pastagens de suas duas fazendas. Ele iniciou com 100 hectares e, atualmente, tem 6.400 hectares reformados com a técnica (74% das pastagens das propriedades).
Ele conta que a pastagem era toda formada com capim braquiarão e estava muito degradada. Como a região tem relevo acidentado, a reforma com mecanização deixava o solo mais vulnerável à erosão.
“Com o plantio direto a lanço, diversificamos as pastagens com variedades de forrageiras adequadas para os solos da região e isso resultou em pastos mais eficientes e aumentou a taxa de lotação das pastagens de 1,4 para 2,4 Unidades Animal (UA) por hectare. Hoje, gastamos apenas com a manutenção das áreas reformadas e temos a tranquilidade de contar com pastagens produtivas e duradouras, sem danos ambientais”, ressalta Medeiros.
Ernandis utilizou o plantio direto a lanço pela primeira vez em 2019, na reforma de 20 hectares de pastagem. A técnica já foi aplicada em 370 hectares e, este ano, serão reformados mais 60 hectares.
Segundo o produtor, além do relevo acidentado, os solos da Fazenda Transacreana apresentam alto grau de encharcamento. Para solucionar o problema, ele investiu no plantio de gramíneas resistentes, recomendadas pela pesquisa.
“Utilizamos o capim-xaraés na formação inicial da pastagem e, depois, plantamos a grama-estrela-roxa e o capim-humidícola nas áreas que ficaram descobertas. Com uma dessecação eficiente, conseguimos diminuir a competição de plantas invasoras no estabelecimento da pastagem e reduzimos gastos com controle químico. Economizamos na reforma do pasto e o meio ambiente também se beneficia”, disse o produtor, que tem como meta ampliar para 2.000 hectares a área reformada com plantio direto a lanço.
Pastagens degradadas
A degradação de pastagens prejudica a produtividade de forragem e reduz o desempenho do rebanho, com prejuízos para os produtores rurais e para o meio ambiente.
Segundo dados do MapBiomas Brasil, plataforma que reúne informações sobre a cobertura e uso da terra no País, somente na Amazônia existem 55 milhões de hectares de pastagens, dos quais 57% apresentam degradação moderada a severa. No Acre, aproximadamente 479 mil hectares de pastagens estão nessa situação.
Fonte: Globo Rural.