Com as margens de lucro líquido altamente remuneradoras, entre 20% e 30%, os maiores ganhos dos últimos anos, os produtores de soja, sobretudo os do Centro-Oeste, intensificam os investimentos para a nova safra de grãos, a 2002/03, e avançam sobre as áreas destinadas à pecuária. A substituição dos pastos pelo plantio de grãos tem sido feita por meio de arrendamento e até mesmo aquisição de terras.
A prática tem se tornado muito comum no País. Menos produtivas, as áreas de pastagem são mais baratas. “Ao arrendar a terra, o agricultor investe pesado em adubação. Ao retomar as terras, o pecuarista fica com área fértil”.
A valorização dos preços internacionais da soja em 11,4%, nos últimos doze meses, na bolsa de Chicago, não causou euforia aos agricultores brasileiros. Mais capitalizado, o produtor está segurando a safra na expectativa de uma maior recuperação. “As incertezas políticas do País têm reflexo direto no câmbio, o que beneficia os preços”, diz o diretor da Tetras Corretora, Renato Sayeg. “Nunca se ganhou tanto dinheiro com soja como nesta safra”, diz.
Estes fatores têm levado os produtores a aumentar a área plantada. As estimativas preliminares apontam para um crescimento de 10% e 15% da área plantada de soja na safra 2001/02, para quase 18 milhões de hectares, de acordo com o analista de grãos da empresa FNP Consultoria & Comércio, Adriano Tomassi.
Tendência natural
A procura dos agricultores por áreas de pastagens é uma tendência natural, segundo o diretor da FNP, José Vicente Ferraz. “Há espaço para a pecuária crescer independentemente da agricultura”.
No Sul do País, sobretudo Paraná e Rio Grande do Sul, o arrendamento de terras de pastagens para plantio de soja é mais disputado. Há menos áreas disponíveis na região, ao contrário do que ocorre no Centro-Oeste.
Paraná
A Cooperativa dos Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá (Cocamar) vai aproveitar parte dos imóveis que pertenciam à extinta Cooperativa Agropecuária Mista do Oeste (Coopagro), de Toledo, no seu projeto de parceria entre a produção de soja e a pecuária em áreas do Arenito Caiuá, região de solo empobrecido situada no Noroeste paranaense. Nesta semana, a cooperativa arrematou quatro imóveis da Coopagro. “A aquisição faz parte do nosso programa de reforma de pastagens”, explicou o presidente da Cocamar, Luiz Lourenço.
De acordo com ele, o investimento nestes imóveis, que são destinados ao recebimento de grãos, chega a R$ 165 mil. “Nós procuramos dar ao produtor a infra-estrutura necessária tanto para a pecuária quanto para aqueles que estão interessados no plantio de soja em regiões de arenito”, completou.
Mas, segundo Lourenço, a maior dificuldade da cooperativa é justamente convencer os pecuaristas de que esta parceria é rentável. “O pecuarista conservador não se convence e o faturamento deles está sendo muito baixo”, disse.
O presidente da Cocamar mostra a rentabilidade a partir de cálculos simples. Segundo ele, o faturamento médio bruto dos pecuaristas, por hectare, chega a R$ 160, ou o equivalente a quatro arrobas de carne. Com a produção de soja, o mesmo hectare pode render até R$ 1,25 mil de faturamento bruto ao ano. “Isso se considerarmos apenas a safra de verão. Para a safra de inverno, o ideal é o plantio de aveia para pastagem. O importante é que o solo jamais fique a descoberto”, ressaltou.
Lourenço disse também que, nos dois primeiros anos, os custos de produção são maiores do que nos anos seguintes, mas não soube precisar de quanto seria. “Tudo depende do que é necessário para a adequação do solo para o plantio direto da soja. Depende de cada pasto”, explicou.
O ideal, afirmou, é que haja um rodízio de produtividade na área, ou seja, pode-se dividi-la em três partes e usar duas para pastagens e uma para a soja. “Este giro faz com que em pouco tempo toda a terra esteja apta a produzir. A terra precisa de outras culturas para que volte a ser produtiva”, garantiu.
A Cocamar está procurando intermediar os contatos entre os pecuaristas interessados em arrendar parte de suas terras para a produção de soja e os sojicultores. “O problema é que nessa intermediação nós temos muito mais produtores de soja interessados do que pecuaristas”, declarou.
A região do arenito, que fica no noroeste do Paraná, é composta por 107 municípios, tem 3,2 milhões de hectares. Destes, 2,3 milhões estão destinados às pastagens e apenas 150 mil hectares estão produzindo soja. “A nossa meta é chegar a 250 mil hectares este ano”, afirmou. Segundo ele, 70% das propriedades destinadas à pecuária na região estão registrando níveis baixos de produtividade.
Lourenço ressaltou ainda que este é o melhor momento para que os pecuaristas comecem a preparar o solo para a produção de soja, pois é agora que começa o plantio da aveia. “Se esse plantio for feito imediatamente, até o final de outubro, quando começa o plantio da soja, a terra já vai estar preparada”, garantiu.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Mônica Scaramuzzo e Cristiane Rangel), adaptado por Equipe BeefPoint