FNPC/CNA propõe boicote de 30 dias aos frigoríficos
18 de fevereiro de 2005
E o produtor, como fica?
22 de fevereiro de 2005

Política cambial, monetária e o agronegócio

A agropecuária apresenta condições de produção que implicam maiores riscos do que a produção industrial. Existem os riscos de preços, advindos de se tomar a decisão de iniciar a produção agropecuária antes do período de vendas. O agricultor não sabe a que preço venderá o produto a ser elaborado. Os agricultores também enfrentam o risco advindo das condições climáticas, que indefinem a produtividade a ser alcançada.

Para compensar estes riscos, certas políticas específicas são criadas para estimular a agropecuária. Além disso, certos governos podem se interessar em dar apoio diferenciado a seu setor agropecuário devido a questões estratégicas e de interesse nacional, voltadas ao desenvolvimento econômico – processo de mudança estrutural da economia que leva à melhora do bem-estar de sua população.

O desenvolvimento econômico pode ser medido pelos indicadores como renda “per capita”, renda por trabalhador ou renda por hora de trabalho. O primeiro avalia a capacidade de consumo da população o segundo a produção da economia e o terceiro a eficiência global da economia.

O agronegócio tem, basicamente, cinco funções importantes no processo de desenvolvimento econômico: i) fornecer alimentos para a população, ii) fornecer capital para a expansão do setor não-agrícola; iii) fornecer mão-de-obra para o crescimento e diversificação de atividades na economia; iv) fornecer divisas para a compra de insumos e bens de capitais necessários ao desenvolvimento de atividades econômicas; e v) constituir-se em mercado consumidor para os produtos do setor não-agrícola.

O agronegócio nacional é importante fonte de geração de divisas devido às vantagens comparativas que apresenta no mercado internacional. No entanto, a geração destas divisas depende, sobremaneira, das taxas cambiais (política cambial do governo).

No momento, existe paradoxo estrutural, definido na taxa de câmbio, que reflete o real excessivamente valorizado “vis-à-vis” o dólar e a elevação dos custos internos. Essas duas tendências opostas afetam negativamente as exportações de mercadorias e serviços, e estimulam as importações, crescentemente beneficiadas pela ampliação da abertura econômica, indicando a possibilidade de futuro déficit comercial e em transações correntes.

A atual taxa de câmbio induz as empresas, que não podem deixar de exportar, sobretudo commodities e bens de consumo, a buscarem compensação para os custos internos, em maior ou menor escala. Dependendo do comportamento da taxa de câmbio, pela compressão dos preços dos seus fornecedores domésticos, em particular de produtos agropecuários; dos subcontratados; e a dispensa de mão-de-obra. Outra alternativa, para alguns setores, é a elevação dos preços internos, como margem compensatória para a taxa de câmbio ou aumento do volume de exportação do mesmo produto.

Os principais fatores que determinam este complicado processo cambial, que acaba por influenciar as nossas exportações, e, por um conjunto de condições, o saldo da balança comercial brasileira, são: i) o alto déficit orçamentário acusado nos Estados Unidos da América, em 2004, (US$ 600 bilhões); ii) processo inflacionário verificado naquele país – resultado de uma economia altamente acelerada; e, finalmente, iii) o mecanismo de arbitragem, que consiste na tomada de empréstimos no exterior – em dólares – a taxas de 4,27%, ao ano, e o seu imediato investimento em países como o Brasil que conta com uma das maiores taxas de juros do mundo, atualmente em 18,75%, ao ano.

A aplicação deste último expediente, deduzido o imposto de renda, o IOF e demais impostos e taxas de administração, ainda resultam em pelo menos um retorno ao investidor especulativo entre 9% e 10%.

A política de juros elevados agrava o processo cambial, à medida que estimula o ingresso de recursos especulativos, com efeito conjuntural positivo no balanço de pagamentos, enquanto, imprime maior volatilidade à taxa de câmbio, que afeta a exportação e estimula a importação, provocando efeito negativo na balança comercial.

A taxa de câmbio, que teoricamente deveria ser “neutra”, passa a ser reclamada como instrumento indutivo da exportação, como fator compensatório dos elevados e crescentes custos internos, principalmente no setor do agronegócio.

A política de exportação é fragilizada, logo, resta ao exportador esforçar-se para melhorar a produtividade e reclamar maior desvalorização do real.

Alguns dados foram extraídos de estudo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB)

Os comentários estão encerrados.