Por Fernando Penteado Cardoso1
Perguntar sobre outros animais que possam transmitir a aftosa é dar um passo à frente na análise do problema.
Quando andei pela África do Sul em 1994, procurei me inteirar da matéria, uma vez que o país era então classificado como “livre de aftosa sem vacinação”. Queria saber como tinham conseguido. Dentre as explicações com que me distinguiram, lembro-me da preocupação com os búfalos que podiam ser “portadores sem sintomas”.
Por acaso antas, veados, capivaras, dentre outros, já foram pesquisados? Que falem os especialistas e o IBAMA, este tão cioso com nossa fauna.
No caso de MS, um ponto me intriga: seria verdade que o surto já estava lá sem ser relatado? Segundo um paraguaio: “O intendente da Província de Canindeyu (Paraguai), José Barbero Cantero, disse que as autoridades sanitárias de MS já sabiam da existência de aftosa em Japorã/MS antes de ter sido anunciado o primeiro foco no inicio deste mês.” (OESP-26.10.05- pág.B4).
Faz-me imaginar um diálogo hipotético, mas verossímil:
Vaqueiro: “Dr. (ou Dona), tem uns boi babando lá no pasto”.
Dr. (ou Dona): “Fica quieto João, nosso gado foi vacinado, isso passa”.
E o tempo vai passando, até que não dá mais para segurar.
Em diversas colaborações para o site BeefPoint e algumas revistas,- ao achar uma perda de tempo as discussões sobre rastreabilidade,- sempre enfatizei que a preocupação com a aftosa era prioritária e que era preciso criar uma “consciência dilatória” entre os pecuaristas, assim me expressando junto ao Prof. De Felício: “ao achar algo suspeito, por a boca no mundo”. É uma responsabilidade ética e de autoproteção de todos, não só do Governo.
Também me espanta a “caça às bruxas”, como se fala. Revendo as revistas, jornais e sites dos últimos 3 meses, encontrei pouca matéria sobre aftosa. Parecia que a pecuária estava preocupada com outras coisas, como pode ser verificado pelos interessados. Talvez uma exceção seja Rondônia, onde constatei, três anos atrás, um trabalho magnífico de conscientização dos pecuaristas quanto à aftosa, por iniciativa de uma associação local. Espero que tenham continuado, pois a tese era correta e a receptividade era ótima.
Temos que analisar friamente o passado para prevenir o futuro. Uma coisa é certa: os maiores interessados na sanidade animal são os próprios pecuaristas. Eles é que devem estar sempre atentos, sem restrições de “por a boca no mundo” se virem algo estranho em casa ou no vizinho.
OS: Segundo a médica veterinária Gisele Torres de Deus, gestora de Educação Sanitária da Agência Estadual de Sanidade Animal e Vegetal de MS: “as vacinas têm eficiência de apenas 85%; não existe vacina com 100% de eficácia; gado vacinado também pode pegar a doença; a vacina imuniza entre 8 e 10 meses, 90 dias nos bezerros recém nascidos; o grau de imunização depende das condições físicas dos animais; a seca, prejudicando o estado nutricional do gado, teve influência nos focos surgidos; o vírus afeta mamíferos de casco partido, incluindo alguns animais silvestres.” (OESP-30.10.05-pág. B21)
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1 Fernando Penteado Cardoso, Engenheiro Agrônomo Sênior, pecuarista em Mogi Mirim / SP
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Pouco ou nada se comenta com relação da origem verdadeira do “foco da febre aftosa”.
É notória, há muito tempo, a comercialização (para não se dizer contrabando) entre as fronteiras do Brasil e Paraguai. É óbvio ululante (sem nenhuma ilação ao querido presidente), que se, se puder comprar por R$ 25,00/@, porque pagar R$50,00/@?
Como sempre, o governo quer porque quer responsabilizar o produtor pelo reaparecimento da febre aftosa, com comentários tipo: “A vacinação não foi completa”, ou “A vacina não estava em condições ideais de uso”. Ademais, junte-se a irresponsabilidade de nossos governantes que fecham os olhos para os problemas, não assumindo a responsabilidade pelas condições e fiscalização sanitárias, que é de sua única e exclusiva responsabilidade.
Para um país que tem aumento de exportações de carne em 10 anos em quase 700%, e redução em 82% nas condições sanitárias, o que se tem a dizer?
Com a palavra, quem dela quiser fazer uso.
Caro Fernando
Perfeitas colocações. Acredito piamente que a organização da classe de pecuaristas é a solução certa para eliminarmos estas “arestas” e começarmos a rastrear os “ditos pecuaristas” dos pecuaristas de fato.
Sem mais.
Agradeço a oportunidade.
Josmar Almeida Junior
Zootecnista. MSc.
Campo Grande – MS
Realmente, Fernando.
Sou estudante de zootecnia e a informação de que esta doença só acomete animais de casco bi-partido, é verdadeira, apenas uma correção em seu texto, capivara e anta são animais silvestres com quatro dígitos, sendo assim apenas o veado, citado por você, é que poderá trazer algum tipo de preocupação.
Sobre o surgimento do primeiro foco, acho que, pelo que assistimos na TV, está cada vez mais evidente que surgiu naquela propriedade em que o seu proprietário se identificou como industrial em SP e que visitava a propriedade apenas uma vez por mês, alegando ainda que desconhecia os sintomas da doença.
Mas isso não é mais importante neste momento, o que importa agora é fazermos uma reflexão de tudo o que aconteceu e tirarmos uma grande lição disso tudo, uma lição de responsabilidade e de profissionalismo, pois até então o mundo rural e sobretudo o da pecuária foi invadido por pessoas despreparadas que entraram no modismo de ser fazendeiro.
Um abraço,
Robson Dinardi