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Por falta de aviso não foi!

Meus caros leitores, encontro-me neste exato momento participando do Encontro Mundial da Carne, em Roma, após ter passado pela maior feira de alimentos do Mundo em Colônia, Alemanha. Partindo, amanhã para Moscou, em virtude da visita oficial do Presidente Lula àquele país terei a oportunidade de fechar um circuito de conversas e reuniões que trataram e tratarão da questão do surgimento do foco de febre aftosa no Mato Grosso do Sul.

As notícias de novos focos de aftosa no Brasil não soaram muito bem pela Europa nem mesmo pela Rússia – nossos dois maiores consumidores de carne bovina. Estarei na Rússia, a partir de amanhã, para acompanhar a visita do Excelentíssimo Senhor Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva àquele país.

No entanto, o que quero deixar mais uma vez claro e que venho tentando fazê-lo há exatos dois anos é a minha preocupação com três principais pontos relativos à pecuária brasileira, a saber: i) a importância da defesa agropecuária no Brasil; ii) a necessidade de se ter e manter a credibilidade internacional adquirida a duras penas no passado e iii) a total incompetência e alienação do atual Governo no tratamento de assuntos de extrema relevância para a economia e para o campo social desse País.

Dessa forma, melhor do que escrever novo artigo batendo sempre na mesma tecla, achei de todo oportuno fazer uma coletânea de frases de mais de sessenta artigos sobre o assunto para que vocês, meus caros e fiéis leitores, vejam que não foi por falta de aviso ou tampouco de surpresa que o Presidente Lula e os Ministros Palocci e Roberto Rodrigues foram pegos pelo triste episódio em Eldorado, Mato Grosso do Sul. Seguem alguns comentários já publicados neste espaço:

“Não se pode simplesmente assumir um ministério do porte do da Agricultura, contratar assessores competentes e esperar que coisas boas aconteçam, faz-se necessário agir de forma pró-ativa, com vistas a garantir a estabilidade da balança comercial brasileira e, por conseqüência, da economia nacional”. (Publicado no dia 04/11/2003)

“Vale ressaltar que atualmente a organização da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa não oferece meios flexíveis para adequações, de acordo com as regras econômicas comerciais, produtivas, sanitárias e fitossanitárias impostas pelo mercado internacional. Além disso, é tampouco competente para administrar eventuais emergências em tempo real”. (Publicado no dia 26/01/2004)

“Todos esses fatores demonstram que o Brasil encontra-se defasado em relação aos países dos blocos norte-americano, Europeu, Asiático e da Oceania, que passaram por grandes reformas institucionais, contribuindo para a elevação das exigências internacionais na aplicação de medidas sanitária”. (Publicado no dia 26/01/2004)

“Tendo em vista que as exportações brasileiras do complexo de carnes em 2004, de acordo com o ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, poderão chegar a US$ 4,6 bilhões, com um aumento de cerca de US$ 600 milhões em relação ao ano de 2003, faz-se necessária a retomada da proposta de criação de um novo modelo de autarquia para a gestão da Defesa Agropecuária dentro do cenário das reformas do Aparelho do Estado, para a reorientação institucional do Ministério da Agricultura”. (Publicado no dia 26/01/2004)

“Para garantirmos a que se alcance, de acordo com as estatísticas das exportações brasileiras para 2004, o valor de US$ 4,6 bilhões do complexo carnes e mantermos a competitividade do Brasil no mercado externo devemos dar a devida atenção para a importância dos programas de defesa sanitária, a completa implementação da rastreabilidade animal, bem como o controle de doenças como a febre aftosa, a encefalopatia espongiforme bovina (vaca louca) e a peste suína clássica”. (Publicado no dia 19/12/2004)

“O Brasil deve trabalhar firme em três ações que considero de suma importância: I) abertura de mercados; II) marketing institucional; e III) sanidade animal e vegetal. No caso da logística, o País se encontra no limite da sua capacidade. Investimentos, nesse setor, tornam-se, portanto, imprescindíveis”. (Publicado no dia 01/01/2005)

“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recentemente lançou um ousado desafio aos países do Hemisfério Sul-americano: “A total e completa erradicação da febre aftosa”. (Publicado no dia 01/01/2005)

“No entanto, permito-me – na condição de ex-assessor internacional do secretário nacional de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, durante o governo Fernando Henrique Cardoso – alertar as atuais autoridades brasileiras, principalmente a equipe econômica do governo, de que não basta manifestar boas intenções; faz-se necessário agir cada vez mais de forma pró-ativa”. (Publicado no dia 01/01/2005)

“O Brasil deve começar a estudar rapidamente a possibilidade de adotar protocolos de cooperação técnica com países como Paraguai, Bolívia, Uruguai, Argentina, entre outros, a fim de que técnicos brasileiros assumam a tarefa de traçar planos e conduzir “in loco” programas de erradicação da febre aftosa nesses países”. (Publicado no dia 01/01/2005)

“Conclamo os mais de 5 mil prefeitos e prefeitas, recém-empossados, a aderir à Campanha Nacional Brasil Livre de Aftosa, que pretende erradicar a doença em todo o País” (ministro Roberto Rodrigues, dia 5 de janeiro de 2005). “Convoco uma guerra contra a febre aftosa, a ser empreendida pelos países da América do Sul” (presidente Lula, durante o encerramento da 27ª Reunião de Cúpula do Mercosul, em 17 de dezembro de 2004). “É importante que a gente cuide com carinho do nosso rebanho e façamos guerra contra a aftosa” (presidente Lula, durante o encerramento da 27ª Reunião de Cúpula do Mercosul, em 17 de dezembro de 2004, com a presença do ministro Roberto Rodrigues). “O Brasil deve liderar campanha de combate à aftosa no continente sul-americano” (ministro Roberto Rodrigues, dia 1° de dezembro de 2004). “A previsão do governo é eliminar o vírus da aftosa do rebanho nacional em 2005” (ministro Roberto Rodrigues, dia 1° de dezembro de 2004). Por fim, a última declaração de “erradicação” que um homem público teve a graça de nos conceder enquanto agia: “O Ministério da Agricultura terá, em 2005, R$ 140 milhões para ações de defesa sanitária e vegetal” (José Amauri Dimarzio, ex-secretário-executivo do Ministério da Agricultura, em 3 de novembro de 2004) “. (Publicado no dia 27/03/2005)

“Em declarações passadas, afirmei que o presidente Lula era um homem sensato no sentido de que, ao perceber a importância da pecuária brasileira para a economia nacional, para a geração de empregos e para o crescimento sustentado das exportações brasileiras, lançou um “ousado” desafio aos países do hemisfério sul-americano: “a total e completa erradicação da febre aftosa”. Retiro o que disse”. (Publicado no dia 27/03/2005)

“Infelizmente, fui mais uma vítima das dezenas ou até centenas de promessas conflitantes, difusas e incoerentes do presidente Lula e de seus ministros, que não se concretizam e que nunca se concretizarão. Nós nunca erradicaremos a febre aftosa no Brasil, até o final deste ano; nunca erradicaremos a febre aftosa no hemisfério sul-americano; nunca seremos líder no processo de eliminação da aftosa em lugar algum no mundo, se nem no Brasil este malfadado programa (Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa) tem apoio e recursos para cumprir suas metas e objetivos, já traçados há mais de seis anos”. (Publicado no dia 27/03/2005)

“Caros leitores, pecuaristas e brasileiros, dos R$ 35 milhões inicialmente previstos no orçamento da União, vergonhosamente, somente R$ 9,6 milhões serão aplicados para o combate à febre aftosa, se é que vão! R$ 9,6 milhões representam pífios R$ 370 mil para cada unidade da Federação e o Distrito Federal. Vergonha nacional”. (Publicado no dia 27/03/2005)

“De acordo com a Lei Orçamentária, cabe a cada Ministério identificar as áreas e setores que deverão ser afetados pelo corte orçamentário e aqueles a serem preservados. Nesse sentido, a decisão do Ministério da Agricultura em cortar o orçamento da Secretaria de Defesa Agropecuária de R$ 137 milhões para R$ 24 milhões – devido ao corte geral da União – é, acima de tudo, preocupante do ponto de vista que a defesa agropecuária sempre foi vista como prioridade. No entanto, este governo vem, desde que assumiu o poder, reduzindo – significativamente – o orçamento da defesa agropecuária”. (Publicado no dia 10/04/2005)

“Pasmem, o próprio ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em entrevista, afirmou que o problema da atual e maior crise já enfrentada pela agricultura nacional se deve à “tempestividade da equipe econômica do governo Lula”. Acrescentou, ainda, que “houve demora na tomada de decisões pela área econômica”. (Publicado no dia 31/07/2005)

“Reitero o que já no passado disse: “A incoerência e os desatinos levam à perda de credibilidade; mas o tempo é implacável! Hoje, estes que estão aí nunca serão esquecidos e certamente nunca mais terão assento em foros de profissionalismo e respeito”.

Em Roma, tomei conhecimento de que o Excelentíssimo Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria ordenado a criação de penalidades para os responsáveis por eventos como o de Eldorado. Caros leitores, não creio que seja a hora de procurarmos culpados pelo ocorrido. O momento é de ação para que o foco seja erradicado. No entanto, já que o Lulinha-paz-e-amor levantou a bola, eu inicio a lista dos culpados, para os quais as penalidades deverão ser criadas, e deixo a critério dos senhores – após terem lido as frases acima selecionadas – a sua complementação: 1) Presidente Luiz Inácio Lula da Silva; 2) Ministro Antônio Palocci; 3 ) Ministro Roberto Rodrigues…

Um último comentário. Sempre fui acusado de ser saudosista e atacar o atual Governo pelo simples fato de ter trabalhado no Governo de Presidente Fernando Henrique no Ministério da Agricultura. Entretanto, acredito que, depois de quase dois anos tentando apontar o que eu considerava graves falhas na gestão do atual Governo, no que se refere ao agronegócio, este artigo é a prova viva de que não foi por falta de aviso que chegamos a este nível de completa desorganização e falta de sinergia do Presidente com seus Ministros. É uma pena que o setor que mais cresce no País – e, ressalte-se, que por méritos próprios muitas vezes- “pague o pato” e, mais uma vez, tenha que tomar as rédeas da questão sanitária, na busca de soluções rápidas e eficazes.

0 Comments

  1. João Brás de Lima disse:

    Tudo o que está acontecendo causa-nos vários tipos de sentimentos.

    Primeiramente somos tomados de muita revolta e indignação em constatar, além da incompetência dos nossos governantes, a negativa em assumir responsabilidades e a facilidade em transferir a culpa.

    Causa-nos tristeza o fato de assistirmos tantas pessoas envolvidas direta e indiretamente na atividade pecuária, umas desesperadas pelo desemprego iminente, outras em ver seu patrimônio despencar do dia para a noite; de uma região que depende totalmente deste segmento, sem falar do Estado que verá despencar suas receitas tributárias, posto que o setor pecuarista é o carro chefe de sua economia.

    Por fim causou-me preocupação o que assisti hoje no programa Globo Rural: nas propriedades limítrofes entre Brasil e Paraguai, os animais circulam livremente, pulando a cerca que as divide, de um país a outro, sem falar que uma mesma fazenda pode estar situada nos dois países, dividida apenas por dois precários fios de arame farpado.

    Sem ser pessimista, por mais aparelhado que esteja a máquina estatal, poder-se-á debelar o foco por certo tempo: meses ou até anos, mas se não se adotar políticas alternativas de produção, a região estará sempre suscetível a novas ocorrências.

    Portanto, não seria esse o momento de se refletir sobre a criação de incentivos para explorar novas atividades na região, como agricultura, já que o terreno é fértil, e assim isolar a atividade pecuária na faixa do limite do país vizinho?

  2. Godofredo Jose Rangel Nadler disse:

    Concordo plenamente com a colocação de que o governo foi e está sendo omisso em relação à febre aftosa e seus modos de disseminação da doença. Concordo que precisamos tomar medidas em todos os municípios do país no sentido de também erradicar a doença.

    Agora, acredito também que não adianta ficar reclamando de governo se o pessoal não e conscientizar. Porque infelizmente tem pessoas que compram a vacina e não aplicam, compram gado contrabandeado nas fronteiras e acabam denegrindo a imagem de quem faz a coisa certa.

    Sou a favor, sim, de punição para quem faz esta prática, porque nós que produzimos e vacinamos nossos animais em dia é que terminamos pagando o preço. E Acho que deveria ser muito severa, com multa.

    Em todos os governos é a mesma história: um reclama de um, que reclama do outro, mas ninguém faz nada e a coisa continua do jeito que está. Não é só governo Lula não, foi governo FHC, Sarney, Itamar, todo mundo só fala, reclama, faz pressão política, quer aparecer, mas, no fundo, as ações não saem da boca.

    Logo, o que precisa neste país é menos falatório e mais ação e boa vontade por parte das pessoas.