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11 de abril de 2012
Atacado – 11/04/2012
11 de abril de 2012

Por que é ético comer carne?

Jean Valjean foi antiético ao roubar o pão mais famoso da literatura? Victor Hugo, em 1.200 páginas, nos convence que não. Um tigre é antiético ao estraçalhar uma zebra? Darwin, com uma frase, nos convence que não. Lutar pela sobrevivência da espécie é sim algo ao qual todos tem o direito, inclusive nós, meros humanos.

E comida, seja ela qual for, é o mais importante de todos os fatores para ficarmos vivos. Portanto, por silogismo aristotélico, comer é algo totalmente ético. Falando em Aristóteles, o pai deste conceito, devemos examinar a questão da relatividade ética para podermos continuar (outro caminho seria passear pelas idéias de Kant e Rawls que defendem que na sociedade perfeita cada indivíduo forma a sua concepção de ética).

A ética é sim um conceito do Contrato Social de Rousseau, mas, como o umbigo, cada um tem o seu. Cada um de nós, de uma forma ou outra, nos permitimos desvios na conduta ética “padrão” por que a nossa visão de mundo assim nos permite. Da mesma forma que não há dois rostos exatamente iguais entre os sete bilhões de humanos, não existem dois conceitos de ética exatamente iguais.

O que dizer daqueles que fazem cruzadas contra o uso de animais na produção de medicamentos e processam o Estado para receberem tratamento quando ficam doentes? Ética, então, também por silogismo, é uma mistura do Pacto Social com nossas necessidades. Juízes de dezenas de países inocentam pessoas por crimes faméricos. Roubar, para não morrer de fome, também pode ser considerado ético.

Vencidos estes conceitos, passamos à questão “comer carne”. Os vegetais, a única alternativa a carne, tem sentimentos? Tudo indica que sim. As primeiras experiências científicas começaram em Nova York, em 1966. Por curiosidade, Cleve Beckster resolveu colocar eletrodos de um polígrafo nas folhas de uma ‘Dracaena massageana’ que havia ganho. Beckster era o maior especialista em detecção de mentiras dos Estados Unidos, mas não tinha a menor idéia do que aconteceria.

Para seu espanto, quando imaginou que poderia queimar as folhas para testar sua reação, imediatamente às agulhas do polígrafo se mexeram. O efeito se repetiu dramaticamente quando colocou uma caixa de fósforos perto das folhas ou simulou situações em que a planta fosse ameaçada. Da mesma maneira, verificou que o vegetal reagia a estímulos de carinho ou palavras proferidas com afeto. A experiência de Beckster abriu um campo enorme para pesquisas. Parte desses estudos estão descritos num clássico do gênero, o livro ‘A Vida Secreta das Plantas’, dos norte-americanos Peter Tompkins e Chistopher Bird.

Assim como Mozart faz uma criança raciocinar melhor quando ouve suas sinfonias, flores são mais frondosas quando criadas em ambientes assim sonorizados. Ao colhemos qualquer planta, reduzimos seu ciclo de vida, isso é fato. Se comermos uma semente, mastigamos o feto de uma árvore que iria nascer. Isso também é fato. E como dito acima, é ético sobreviver.

Então se é ético comermos vegetais, da mesma forma é ético comermos animais, comermos carne. É uma simples questão de sobrevivência. Ponto para Darwin, para Aristólteles, para Beckster, ponto para a humanidade. E não poderia finalizar este texto sem voltar ao grande mestre e seu maior ensinamento. A felicidade está sempre no meio. O certo está no meio. Ou seja, todo exagero leva ao erro, ao excesso. Portanto, podemos e devemos sim comer carne, vegetais, sementes, minerais, tudo o que nos garanta a sobrevivência.

Mas sem esquecer das regras e procedimentos de bons tratos, de redução de sofrimento. Se não for assim, se continuarmos com os excessos, daqui a pouco, estaremos considerando crime de tortura lapidar uma pedra. Quem garante que o reino mineral é o único que não merece o nosso respeito?

Texto escrito em resposta à questão do jornal americano The New York Times:

New York Times: por que é ético comer carne?

Leia outras respostas:

É ético comer carne!!

Roberta Luze, leitora BeefPoint, responde à questão: por que é ético comer carne?

 

6 Comments

  1. Vantuil Carneiro Sobrinho disse:

    Excelente …Parabéns Luciano Medici..

  2. Jean-Yves Carfantan disse:

    Se objetivo é provocar um debate, tudo bem. Mas a argumentaçao relativamente limitada esta longe de ser suficiente para defender o titulo do artigo. Eu nao sou vegetariano e como carne. Mas acho sim que os pecuaristas de todos os paises vao ter que se adaptar a um mundo novo onde a maioria das pessoas nao acham que comer carne como os argentinos seja muito ético. ¨Portanto os argumentos devem ser muito mais elaborados para a contrataque. Abs.

  3. Francisco Beduschi Neto disse:

    Concordo com o autor, mas não vejo porque termos esse tipo de discussão. Explico: a pergunta não tem embasamento técnico, médico ou mesmo nutricional. A discussão tem se dado, até agora, em termos subjetivos, que carregam em si, muito do calor das paixões individuais e e da ética, que conforme menciona o autor, é algo muito particular.
    Em termos de evolução das espécies, chegamos aonde chegamos graças a nossa capacidade primeiro de caçar, depois criar animais, consumir e digerir proteína animal. O equilíbrio é sempre a melhor das respostas. Ainda dentro da evolução humana, as comunidades que conciliaram a criação de animais com a agricultura, foram as que melhor suportaram as mudanças climáticas e que portanto prosperaram.
    Assim, proponho outra pergunta: POR QUE NÃO COMER CARNE? E para essa pergunta espero uma discussão com base em argumentos técnicos e científicos. Ética e moral são questões individuais e que dependem da cultura e do momento histórico que um povo vive. Atualmente, ao discutir essa questão com diferentes povos teremos diferentes respostas de acordo com suas crenças particulares. Eu não acredito que ética seja uma boa base para discutirmos se devemos ou não consumir carne.

  4. LuRo RiGa disse:

    Temos uma enzima chamada elastase, cuja única e exclusiva função é digerir a proteína animal Elastina, super específica. Porque?
    E o aroma da carne numa churrasqueira é ótimo!

  5. nilton Herter disse:

    Nilton Tabajara Herter
    Parece-me que comer ou não comer carne não é uma questão ética, mas sim de biologia, sentimentos, etç. Sabemos que o homem é omnivoro, isto é, capaz de comer qualquer alimento, seja vegetal ou animal ou alimentos sintéticos, portanto ele comerá o que lhe for oferecido, obdecendo a alguns princípios do próprio meio, todavia há indicação médica da ingestão de qualquer carne em caso de desnutrição e indicação absoluta em caso de anemias. De outra parte há restrições de carne nos casos de insuficiência renal ou artrite gotosa. Uma orientação médica e nutricional sempre será útil mas certamente o bom senso sempre deverá prevalecer, evitando-se toda a atitude preconceituosa ou radical.

  6. EDUARDO PICCOLI MACHADO disse:

    Parabéns. Excelente comentário.
    Aplicar ética a “direito natural” é arrogancia demasiada do ser humano.É como tentar contrlolar as forças da natureza. A ética e um “pacto social” de regras não escritas, que visa justamente facilitar o convívio dos seres humanos em coletividade. O texto diz tudo .

    Abraços