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Por que não promovemos nossa carne, como nossos concorrentes o fazem?

Por Leonardo Galvão Netto1

Após o fato ocorrido em 23 de dezembro de 2003 nós produtores de carne passamos a ter dois pensamentos: O primeiro e imediato, foi o de que nossa carne valeria ouro no mercado internacional, e o segundo, após a poeira abaixar, foi de um certo receio de que o potencial consumidor da carne bovina no mundo poderá consumir cada vez menos esta carne, já que sua saúde está em jogo.

Poderíamos aproveitar justamente esta última consideração e fazer o que nossos concorrentes imediatamente já o fazem, promover pesadamente nossa carne no mercado externo. A Austrália, através de seu governo lançou uma série de missões internacionais dizendo que sua carne tem qualidade e é segura. O Canadá fez o mesmo, e tenta convencer, apesar de ser o vetor da crise, que sua carne também é segura.

Vemos dois importantes países produtores, jogando pesado na difícil arte de convencer consumidores assustados, o Canadá, conhecidamente produtor de bovinos confinados com produtos de origem animal na beira de um abismo, jogando todas suas cartas, e a Austrália, um gigante das exportações com know-how suficiente para vender seu produto.

E nós? Estamos aqui literalmente parados, na esperança que nosso governo faça por nós produtores, leiam-se associações de classe, sindicatos rurais e etc, algo que deveríamos conquistar com mais agilidade.

Nosso rebanho em sua maioria esmagadora é criado a pasto, mesmo os confinados são proibidos de consumirem produtos de origem animal, nunca tivemos um indício sequer da devastadora doença, temos tudo a nosso favor, e enxergamos pouco isto. É claro, ainda temos a Aftosa, que é um grande entrave para as nossas exportações, mas eles têm a “vaca louca” que é muito pior, em termos do marketing comercial.

Temos a faca e o queijo na mão, e devemos saber aproveitar este momento. Apesar de nossas autoridades competentes já se organizarem para uma promoção, ainda está lento em comparação aos nossos concorrentes.

Não devemos deixar isto passar por nossas mãos sem agirmos pela iniciativa privada. Questionem seus presidentes de associações, sindicatos e etc, vamos agir, pois temos muito mais condições do que Austrália e Canadá juntos sem falar no próprio Estados Unidos.
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1Leonardo Galvão Netto é agropecuarista e vice-presidente do Sindicato Rural de São José do Xingu – MT

0 Comments

  1. Luiz Marcos Stockler disse:

    Caro Leonardo,

    Concordo plenamente que nossas autoridades, apesar de muita retórica, promessas e um certo exibissionismo, nunca deram a importância devida ao setor agropecuário. E não estou falando só desta administração, pois isto é uma questão histórica. Veja o claro exemplo do que acontece com o café, que sendo o Brasil o maior produtor mundial, se você elogiar um cafezinho tomado em qualquer lugar do mundo, a pessoa que está te servindo vai falar que é café da Colômbia, mesmo podendo este ter sido produzido no Brasil. Muito pouca gente sabe ao menos que o Brasil produz café.

    No assunto pecuária, vejo uma situação mais grave ainda.

    Antes de promovermos nossa carne, temos que resolver assuntos internos gravíssimos. A aftosa foi eliminada na Austrália perto de 1870, nos EUA no início do século passado e estamos aqui nos vangloriando que não temos a doença da vaca louca e esquecendo que não conseguimos resolver um problema da pré-história da pecuária mundial.

    O Brasil é hoje em termos de faturamento o maior exportador de carne. Pois bem, temos um rebanho dito comercial que é o dobro de EUA e não sei quantas vezes maior do que o da Austrália. Nosso consumo interno vai de mal a pior. Seria obrigação sermos o maior exportador. Temos condições climáticas e de espaço inigualáveis, mas o que vejo é em termos gerais uma total ineficiência desta atividade. O desfrute do rebanho brasileiro chega ao ponto do ridículo. Daqui para frente os compradores da carne brasileira virão acompanhar os abates, e quem já acompanhou algum abate sabe do que estou falando. Bois tardios, que só depositam gordura após alguns anos de vida, bois que só atingem o peso em razão de sua idade avançada, vacas velhas, padronização inexistente, produtores de carne dura, que o povo só consome por falta de outra alternativa.

    Fatores gravíssimos como a confusão estabelecida por pessoas mal intencionadas em cima do cruzamento industrial, que quando bem feito é e cada vez mais será uma ferramenta imprecindível quando se quer produzir uma carne de melhor qualidade e em menor tempo.

    Vamos nos mirar em exemplos de pecuaristas que produzem um animal genéticamente melhorado, com tecnologia de manejo de ponta, que usam inseminação artifical e repassam suas vacas com touros de qualidade e não os chamados bois de boiada.

    Vamos de uma vez por todas colocar em prática a tipificação de carcaça. Vamos exigir dos nosso governantes condições melhores de financiamentos e apoio a atividade pecuária. Nada mais do eu é feito pelos nossos concorrentes.

    Em resumo, vamos fazer nossa lição de casa, e com ela bem feita teremos muito mais argumentos para promover nossa carne e deixar de sermos uma simples alternativa para problemas que nossos concorrentes venham a passar.

    Espero um dia nos conhecermos para trocar mais idéias.