Por que todas as atenções estão voltadas para Cancun

Por Luciana Marques Vieira1

No dia 10 começa o encontro da Organização Mundial do Comércio em Cancun. O objetivo deste encontro, após a fracassada Rodada de Seattle em 99, é de traçar uma linha de ação para que os países membros negociem multilateralmente regras para o comércio e investimentos. Estas regras regularão o crescimento do comércio e a liberalização do acesso aos mercados. Hoje em dia, os 56 países mais ricos do mundo representam somente 16% da população, mas concentram 80% da riqueza mundial.

A agricultura já deixou de ser importante como atividade econômica para a maioria dos países europeus. Na Inglaterra, por exemplo, representa somente 1% do PIB e envolve 1% da população economicamente ativa. A atividade agrícola representa culturalmente uma identidade nacional e um atrativo turístico.

No entanto, os países desenvolvidos continuam investindo pesadamente em subsídios para financiar a competitividade (ou melhor, sobrevivência) de seus fazendeiros. O Banco Mundial calcula que uma vaca criada em um país desenvolvido recebe mais do que um fazendeiro africano ou indiano anualmente. A União Européia, por exemplo, subsidia em US$ 803 cada vaca por ano. Se este número já impressiona, o espanto só aumenta ao constatar que os EUA gasta US$ 1.057 por vaca e, no Japão, US$ 2.555 são pagos por vaca. Lembre-se que a renda per capita brasileira no ano de 2003 foi de US$ 2.850, pouco mais do que o valor recebido pela vaca japonesa!

Para o Brasil, o acesso aos mercados tornou-se uma condição chave para a sustentabilidade do desenvolvimento do agronegócio. O país tem alcançado sucessivos superávits agrícolas, mesmo que os preços unitários dos produtos estejam em queda. Porém, os mercados mais interessantes para os produtos brasileiros estão restritos por tarifas em valores que chegam ate 130%! O país tem todas as condições de ser líder vários sub-setores, como açúcar, café, frango, laranja e carne, desde que as regras do comércio sejam justas (Fair Trade). Já existem organizações que só comercializam produtos comprados direto do produtor rural para garantir sua renda e sobrevivência (veja o site www.fairtradefederation.com).

Se os resultados de Cancun não levarem a real liberalização das regras do comércio internacional, teremos que concordar com Joseph Stiglitz (prêmio Nobel em Economia e ex-presidente do Banco Mundial) que o sistema global de tomada de decisões não reflete os interesses e preocupações da maioria da população mundial. E que nenhum acordo talvez seja melhor que acordos injustos. Mas se os resultados forem promissores, a agricultura brasileira terá todas as condições de liderar o comércio internacional em diversos sub-setores. Vamos cruzar os dedos!
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1Luciana Marques Vieira é Professora de Comércio Exterior e Doutoranda no Dept of Agricultural and Food Economics, Inglaterra.

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