O boi de corte ideal é aquele que existe e que proporciona a mercadoria exigida pelo consumidor. Os frigoríficos querem quantidade com uniformidade, o que somente o Nelore apresenta hoje, quando os números são vultosos. Queixam-se de que os cruzados são irregulares em acabamento e peso, seja pela multiplicidade de raças ou pelos diferentes sistemas de engorda.
A Associação de Criadores de Nelore do Brasil-ACNB estudou a matéria ao lançar a marca de carne “Nelore Natural”, estabelecendo um padrão viável e confiável assim definido:
“17/18 @ com 3 a 8 mm de capa gorda e até 4 dentes”
Bois abatidos com zero ou dois dentes, mas com acabamento, trariam mais lucro ao criador e invernista. Daí a ênfase na precocidade, embora a qualidade da carne seja a mesma até a idade de 6 dentes. Muitos cruzamentos dão acabamento com zero dentes, porém com peso deficiente; quando alcançam peso, a gordura é excessiva. Por outro lado, a análise dos cruzados baseada na heterose, sem considerar o ganho por unidade de área utilizada e sem levar em conta o criatório sob todos os ângulos e por vários anos, pode conduzir a conclusões precipitadas, facciosas e enganosas.
Já criamos um mercado de além mar para carne enxuta com capa externa de gordura. Vamos então abandonar essa conquista e querer concorrer com os E.U., Austrália, Argentina e outros com carne marmorizada de alto teor de gordura entreverada e inseparável?
Boi ideal é o que se aproxima dessas avaliações. O resto é conversa… pra boi dormir, que rola gostosa nas rodadas de whisky! Nas condições atuais da oferta, só o Nelore oferece quantidade com qualidade e uniformidade. E essa raça extraordinária ainda pode ser muito melhorada quando nossa preocupação for a carcaça bem acabada com zero dentes e 17 arrobas, ao em vez dos gigantes tardios, incapazes de buscar capim e procurar uma fêmea, mas ganhadores de premiação e de troféus.
Vamos trabalhar para produzir milhões dessas carcaças, sem perder tempo com teorias coloridas (vermelha, amarela ou preta). Na Índia introduziram as raças européias com vistas à produção de leite. Segundo o especialista Narendra Nath,- ex-presidente da Associação para Melhoramento da Raça Ongole, que nos visita de tempos em tempos, – essa introdução foi um desastre, – para gáudio dos fabricantes de produtos veterinários -, pela falta de adaptação dos cruzados ao clima quente e úmido e ao ambiente alimentar local! Aqui também, estamos retornando aos carrapaticidas.
Temos 100 milhões de “bois brancos no verde!” Vale pensar que dádiva de Deus é o binômio Nelore/Brachiária! O boi gordo ideal está perto da gente! E ainda pode ser muito melhorado, sem perda da sua extraordinária adaptação ao clima quente chuvoso e aos períodos de escassez de forragem, produzindo, aos 30 meses e a baixos custos, bela carcaça em regime exclusivo de pasto.
Um problema ainda pendente é a maciez tão do agrado do consumidor final, aquele que usa a faca e o grafo. Essa característica é variável em qualquer raça: uma carcaça tem carne macia outra não. Só que nos zebuínos, a proporção de carne rija é maior.
Daí serem recomendadas medidas ainda nem sempre adotadas: selecionar linhagens mais dóceis; evitar estresse de pré-abate, na fazenda, transporte e abatedouro; fazer a estimulação elétrica de alta voltagem (não aquela superficial para estancar a perda de líquido); adotar a suspensão pélvica quando viável bem como a maturação da carcaça. Informa-se que foi aperfeiçoada a aferição de textura da carne na carcaça quente, o que permitiria classificá-las, reduzindo o número de peças a maturar. Se quisermos sofisticar mais, poderíamos criar padrões de seleção para maior proporção de traseiro na carcaça.
Que opinem os criadores e os invernistas sobre os cruzamentos com Bos taurus, assunto hoje dominado por pecuaristas de salão, por associações de raças com raízes no exterior, por interessados em produtos e serviços veterinários e por assessorias ávidas de novidade, fazendo “média” para não desgostar ninguém.
Falem os criadores que produzem a matriz da carne que é o bezerro e os que produzem a carcaça, seja na recria e seja na engorda. Digam os pecuaristas profissionais que vivem da pecuária! Entrem na discussão os abatedores, elo insubstituível na cadeia da pecuária de corte.
0 Comments
Eu faço cria de Nelore e de Brangus, na hora da pesagem a conversa sem whisky é outra. Tem que ser realista.
Prezado Sr. Fernando,
Sou criador de Nelore e um grande apaixonado pela Raça, indiscutivelmente a “locomotiva” da pecuária de corte no Brasil.
Porém, acho extremamente temerário, para não dizer absurdo, o Sr. afirmar que o cruzamento industrial é “assunto hoje dominado por pecuaristas de salão”, debatido em rodas de whisky!!!
O cruzamento industrial é uma realidade da qual os pecuaristas não podem fugir e a discussão atual em torno desta técnica, não é realizada em rodas de “whisky” ou por “pecuaristas de salão”, mas sim no campo.
O cruzamento industrial de resultados positivos é praticado por produtores evoluidos tecnicamente, em propriedades que utilizam tecnologia de ponta, que com isso conseguem superar as exigências do cruzamento.
Conversas de “pecuaristas de salão” em rodas de “whisky”, ou seja, sem qualquer fundamento prático, encontramos independentemente da raça ou da técnica de cruzamento empregada.
A discussão acerca do cruzamento industrial é realizada PRINCIPALMENTE por produtores profissionais que se utilizam da técnica como ferramenta para maior produção de carne.
As rodas de whisky e “pecuaristas de salão” encontramos entre “pecuaristas de final de semana”, que fazem da criação de elite um hobbie, sem qualquer preocupação com a evolução genética da raça que criam.
Ultimamente até no meio nelorista vemos “pecuaristas de final de semana”, despreparados e que somente conhecem o glamour dos grandes leilões (Whisky e salão!!!): maquiam os animais; não possuem conhecimento técnico e prático a respeito do Nelore; acreditam, por exemplo, que quanto mais pesada melhor é a matriz; e estão prejudicando o grande trabalho desenvolvido ao longo de anos pelos tradicionais criadores.
Portanto, cruzamento industrial não é conversa de “pecuarista de salão” em “rodas de whisky”, mas sim uma técnica cientificamente avalida e utilizada por pecuaristas de ponta com larga experiência na pecuária.
Apesar de não concordar em 100% com as ponderações do Dr. Fernando, com certeza ele disse grandes verdades, principalmente em relação aos produtores que realmente vivem exclusivamente da pecuária, que na maioria das vezes não alcançam os índices até invejosos de alguns criadores, pois no final eles não podem “empatar” ou “ficar no vermelho”. Acredito que a cruza ideal, para se obter lucro, seja de 1/2 até 5/8 de sangue zebuíno, ao contrário do que dizem os pesquisadores.
Revendo os critérios de publicação de cartas e manifestação dos leitores com o objetivo de estimular a discussão salutar dos diversos aspectos envolvidos na cadeia produtiva da carne bovina, o BeefPoint achou por bem compilar a carta originalmente enviada por Nilson Herrero e publicada pelo site em 21/02, em comentário a um artigo escrito por Fernando Penteado Cardoso no Espaço Aberto do BeefPoint.
A carta compilada, na qual foram suprimidos alguns termos, mas que cuja mensagem básica foi mantida, preservando o direito de manifestação, segue abaixo.
Atenciosamente,
BeefPoint
Porque cruzar com Bos Taurus?
Nilson Herrero
21/02/2003
O artigo de Fernando Penteado é comprometido e sem embasamento científico. Gostaria de convidá-lo para conhecer grandes e modernos projetos pecuários que fazem o cruzamento industrial com matrizes nelore com sêmen e touros da raça simental.
Não é a toa que os bezerros 1/2 sangue Simental nelore desmamam com mais de uma arroba e meia de peso superior ao gado “branco” e valem nos leilões pelo menos 20% a mais que os bezerros nelore na mesma idade e criados no mesmo sistema.
Caro Dr. Fernando,
Seus comentários são de extrema valia, pois são fundamentados na experiência de campo aliada aos conceitos científicos, somado a isto tudo entra a objetividade e praticidade de suas ponderações.
Creio que devemos nos centrar no aperfeiçoamento da raça, no ganho genético a cada geração enfim lapidar esta magnífica raça, o “NELORE”.
Prezados Senhores:
Com referência aos comentários divulgados pelo “site” BeefPoint referentes a meu ensaio “Porque Cruzar com B.taurus?” venho apresentar algumas considerações, em atenção aos que se dignaram tomar conhecimento do referido artigo, sem terem necessariamente lido com atenção meu escrito.
Aos três missivistas, bem como a outros visitantes do “site” Beefpoint, sugiro que atentem para os seguintes pontos:
“-… a análise dos cruzados baseada na heterose, sem considerar o ganho por unidade de área utilizada e sem levar em conta o criatório sob todos os ângulos e por vários anos, pode conduzir a conclusões precipitadas, facciosas e enganosas”. (do artigo referido)
– “Um aspecto importante a considerar é que de fato tanto os novilhos cruzados provenientes de cruzamentos industriais, como principalmente os novilhos mestiços provenientes de rebanhos leiteiros cruzados, podem apresentar deficiência de acabamento com muito maior freqüência do que novilhos zebuínos. A principal razão para isso está relacionada à densidade energética da dieta ou o peso de abate. A densidade da dieta propiciada por pastagens tropicais não é suficiente para proporcionar ganho diário para acabamento de novilhos cruzados e principalmente de mestiços com pesos similares a novilhos nelore. Isso também pode ocorrer em condições de confinamento quando se usa dieta de baixo valor energética”. (Prof. Celso Boin – BeefPoint 23/09/02)
– “Quem defende sua opinião baseado em números, sabe do que está falando; os que não têm dados mostram um conhecimento parcial e insuficiente”.(Lord Kelvin, Inglaterra, séc. XIX).
Formulei um apelo geral aos pecuaristas e frigoríficos no sentido de enriquecerem as informações ora disponíveis. Disse com ênfase: “Que opinem os criadores e invernistas sobre os cruzamentos com B.taurus…”. “Falem os criadores que produzem a matriz da carne que é o bezerro e os que produzem carcaça, seja na cria e seja na engorda. Digam os pecuaristas profissionais que vivem da pecuária. Entrem na discussão os abatedores…” (do artigo referido).
Aos que se manifestaram sobre o artigo e a outros interessados, reitero o apelo. Mas que o façam com números, de maneira abrangente, não limitada ao efeito da heterose! (Quanta saudade das aulas dos Prof. Athanassof e Octávio Domingues na ESALQ!)
Agora alguns recados aos missivistas:
A Benjamin Lins, Curitiba/PR – Sendo criador de Nelore,como se credencia, porque tomou as dores dos pecuaristas de salão, citados em conjunto com mais outras três categorias? Mencionei “assunto (=tema) dominado”, não o criatório em si, muito menos os criadores, que muito respeito, a quem apelei para se manifestarem. Não acho que seja pecado uma “conversa que rola gostosa nas rodadas de whisky”. Será meu convidado na primeira oportunidade.
A José Carlos Teixeira dos Reis, Rolim de Moura/RO.- Você aprecia whisky. Ainda bem! Divulgue seus números comparativos; nada de preferências gratuitas pelos escoceses. Andei por RO meses atrás, muito me agradando 2 dias de estágio no Frigonovo de Vilhena, para ver o boi por dentro e conhecer os problemas do abatedor, bem como a primorosa organização da Faz. Corumbiara. Conhece? Vale a pena! Lá sabem o que querem!
A Nilson Herrero, jornalista, Londrina/PR – Diga a seus patrões que mandem mensagem mais cortês ao formularem convite para uma visita ao MS.
Na expectativa de acolhimento,
Cordiais Saudações,
A prática do cruzamento, quando se fala de duas raças distintas, taurínas e zebuínas, se beneficia de uma ferramenta abençoada chamada heterose, que por um capricho de combinações genéticas faz com que as caracteristicas desejáveis de ambos os grupos raciais, se manifestem aditivamente.
É claro que cabe ao selecionador, optar pelas vantagens deste método, e saber identificar quais as características desejáveis, irão superar a um dos grupos raciais.
Não é de hoje que no mundo inteiro se faz cruzamentos, se obtém excelentes resultados, quer sejam de desempenho e quer sejam, resultados financeiros.
As discussões em torno disto podem muito bem serem discutidas em rodas regadas a whisky, e certamente entre os abastados defensores deste método, estarão alguns sábios pecuaristas que sem seguir na contra-mão do sucesso, optaram por introduzir em seus rebanhos, a prática do cruzamento industrial.
O resto, é chover no molhado.
Walter José Verdi
Gerente de Empresa e Agropecuária
Acredito que o cruzamento de Nelore com raças BRITANICAS precoces(Hereford, Angus e Shorthorn) e especializadas em carne podem ser altamente vantajosas tanto em precocidade de acabamento para os machos como em precocidade sexual para fêmeas desde que participando em no máximo 25%.