Análise Semanal – 06/04/2005
6 de abril de 2005
Agronegócio e distribuição de renda
8 de abril de 2005

Pratini quer marketing para mercado interno

Aconteceu ontem uma reunião entre frigoríficos e produtores, organizada pelo CNPC (Conselho Nacional de Pecuária de Corte) em São Paulo. O presidente da Abiec, Pratini de Moraes, disse que a grande expansão da pecuária e das exportações de carne provocou, nos últimos anos, desajustes profundos na cadeia de carne bovina. Segundo ele, o grande desafio agora é o mercado interno, que representa 80% da produção brasileira de carne.

“As exportações cresceram, mas representam apenas 20% da produção”, disse. “O aumento das exportações não elevou os preços do boi, mas evitou que os preços caíssem”, disse. Pratini estima que, se não fossem as exportações, a arroba estaria valendo hoje entre R$ 25 a R$ 30.

“O setor tem que ter um plano de marketing interno para a carne bovina. Para que fazer marketing em Paris se o mercado interno é mais importante em termos de formação de preço para o pecuarista?”, questionou o ex-ministro. Ele disse também que dificilmente o agronegócio continuará crescendo e contribuindo para o bom resultado da balança comercial brasileira se não houver aumento de renda para seus participantes. “Temos que ficar menos preocupados com volume exportado, mas com o aumento da renda gerada”, disse.

Dizendo-se surpreso, Antenor Nogueira, da CNA, agradeceu Pratini por sua preocupação com a renda do pecuarista e com a necessidade de um marketing para promover a carne no mercado interno. “Para quem nunca quis conversar sobre esse assunto, é um bom começo”, disse. Segundo o jornal O Valor Econômico, Nogueira utilizou a ironia para rebater as posições de Pratini.

Também segundo O Valor, o deputado estadual Zeca Dávila (PFL-MT) acusou a Abiec de impedir que a União Européia credencie mais frigoríficos do Mato Grosso para exportar. Segundo o deputado, os associados da entidade não querem novos credenciamentos.

Fonte: Estadão/Agronegócios (por Eduardo Magossi), adaptado por Equipe BeefPoint

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  1. Jorge Humberto Toldo disse:

    Prezados Senhores,

    Com todo respeito a que devemos para com o ex-ministro Pratini de Moraes pelo excelente trabalho feito no ministério da agricultura, exatamente abrindo fronteiras para o aumento nas exportações de carne brasileira, mas agora tenho que discordar de sua posição. Vejam, já conquistamos uma confortável fatia no mercado internacional, agora precisamos oferecer, para conquistar, exatamente a qualidade e aí então, obter melhores preços nas cotas especiais.

    Lembrem-se que conseguimos passar a Australia em volume, mas estamos longe de alcançar o faturamento.

    É certo que a exportação atinge 20% de nossa produção e o grande consumo ainda é nosso mercado interno, porém, como ser forte, o maior produtor de carne do mundo, remunerar bem a cadeia produtiva, sendo que nossos consumidores, os que pagam essa conta toda, estão para lá de descapitalizados? Fazer marketing para pobre é operar defunto. O marketing que o consumidor brasileiro precisa, me desculpe o Dr. Pratini, é preço baixo, pois com o salário nos patamares que se encontra não há marketing que os convença de consumir, nesse caso, uma coisa é querer, outra é poder.

    O mundo inteiro investe pesado em marketing da carne para aumentar suas cotas de exportação, por quê o Brasil não pode? Precisamos sim aumentar e melhorar nossas cotas. Com melhor remuneração em 30% de exportação, por exemplo, o excedente poderá até ser comercializado de forma mais amena aos nossos descapitalizados consumidores. Vender caro para pobre nunca deu certo.

    Para não perder o costume, mais uma vez devo lembrar as autoridades do setor, que até agora nada vimos em relação aos altos custos de produção, o gargalo de nosso setor. Quem sabe por osmose não conseguimos algo.

    Obrigado,

  2. Miguel José Thomé Menezes disse:

    Gostaria de fazer um gancho com o artigo em questão e abrir um debate sobre os desafios de se estimular o consumo interno de carne bovina, através de um trabalho de marketing, em uma população apegada a bens materiais e futilidades como a brasileira.

    Considero as palavras do Sr. Pratini de Moraes de grande relevância, uma vez que casos parecidos já ocorreram no Brasil, com o café, por exemplo.

    Nesse produto, os produtores, beneficiadores e afins deixaram a população interna de lado com os olhos apenas nas exportações, e o Brasileiro, tendo que se contentar com aqueles “cafés de padaria”, extremamente aguados e adocicados, coados às 5:00 da manhã e servidos durante todo o restante do dia, perdeu o hábito de consumir tal bebida.

    E agora, para que esse hábito seja recuperado, algumas gerações serão despendidas. E, como se não se fosse o bastante, não houve divulgação nem estimulo ao consumo do café brasileiro no exterior, ao contrário do que ocorreu com o Colombiano, mundialmente conhecido. Ficamos literalmente em um limbo mercadológico.

    O mesmo ocorre hoje em dia com a carne bovina. Todos ficam com a atenção voltada somente para o mercado externo, esquecendo-se do principal filão do setor: o consumidor brasileiro.

    Concordo plenamente que o consumo de carne bovina no mercado interno precisa ser estimulado, mas como? Como fazer o brasileiro comer mais carne, se isso só ocorre quando os preços no varejo caem (e reparem que a carne bovina tem uma elasticidade de renda invejável), o que de certa forma ocorreu em valores reais nos últimos anos, uma vez que os preços praticados tanto ao produtor quanto no varejo sofreram correções mínimas (ou nenhuma) nos últimos 3 ou 4 anos – enquanto que outros componentes da vida do cidadão aumantam consistentemente, como as tarifas telefônicas, e as vendas de aparelhos celulares não param de crescer.

    O mesmo ocorre com o chocolate, por exemplo. As vendas dessa páscoa foram maiores que as do ano passado, mesmo com o chocolate custando mais. Como fazer um cidadão comer mais carne, se ele se importa mais com seu carro do que com a qualidade da educação dos seus filhos? A verdade é essa: o brasileiro prefere passar fome a deixar de comprar móveis e eletrodomésticos no crediário, e o primeiro item a ser cortado do cardápio é a carne.

    Estamos nos deparando com um problema gravíssimo de ordem cultural, onde a solução pode se estender por gerações como no caso do café. Concordo que devemos iniciar o planejamento e a execução das estratégias de marketing o quanto antes, para ganharmos tempo. Não podemos mais aceitar que comer carne vermelha não é saudável, que carne vermelha é cancerígena, entre outras coisas.

    Parar com essa história de carne de segunda (carne de segunda é carne de frango!) Temos que mostrar como cada corte deve ser preparado, criar receitas, pratos semiprontos, etc. Temos que colocar a carne bovina na cabeça e no prato do cidadão deixá-lo tentado a comer nosso produto.

    Por outro lado, não devemos deixar de lado o mercado externo. Devemos fazer publicidade da carne brasileira em Paris, sim! Senão seremos eternamente mais um na multidão. Seremos o maior exportador de carne porque nossa carne é barata, e não de qualidade. Teremos uma réplica do mercado interno no exterior. Devemos tentar eliminar esse mal de início no mercado externo, para que não tome as proporções do mercado interno, uma vez que prevenir é, e sempre será, melhor do que remediar. Todos sabem que preço baixo e qualidade são vistos de maneira antagônica, e é por esse motivo que a carne brasileira tem que começar a ser vista pelo mundo como produto de qualidade, antes que seja mundialmente conhecida por seus preços baixos.

    Para finalizar, gostaria de fazer mais duas observações: a primeira é que a observação do Sr. Pratini de Moraes, onde ele afirma que a carne bovina estaria entre R$25,00 e R$30,00 não procede. Muito antes disso a pecuária brasileira teria se tornado uma atividade marginal da economia brasileira, ou seja, muitos deixariam de produzir bovinos até o ponto dos preços se estabilizarem, seguindo a velha lei da oferta e da procura; ou então a pecuária de corte se tornaria uma atividade subsidiada, uma vez que ninguém em sã consciência produziria algo tão deficitário.

    A segunda observação, que pode ser encarada mais como uma crítica, é que uma reunião como a descrita no artigo, de cunho tão importante, deveria ter a presença de um representante do BeefPoint, e não ser adaptada de um artigo do “Estado de São Paulo”, com apenas 4 ou 5 parágrafos.

    Sem mais, agradeço a atenção e espero que as observações supra citadas tenham estimulado a reflexão dos srs.

    Miguel Menezes
    M. Sc. Eng. Agrônomo
    Consultor Pecuário e Produtor Rural