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Preço da arroba cai com episódio “Margen”

O mercado do boi gordo sofreu um duro golpe após a apreensão de 11 sócios do Frigorífico Margen, no dia 1o de dezembro, acusados de sonegar impostos e contribuições previdenciárias em oito estados do país. Estima-se que o grupo deva à receita cerca de R$ 150 milhões. A empresa possui 21 plantas espalhadas em sete estados da nação e tem potencial para abater 13.000 animais por dia, posicionando-se entre os cinco maiores frigoríficos do país.

O escândalo gerou inicialmente um efeito indireto no mercado devido ao abalo na imagem do Margen. Os pecuaristas que já haviam programado suas matanças com o frigorífico, tiram seus animais das escalas, com medo de não receber os futuros pagamentos, e redirecionaram a oferta para outros frigoríficos, principalmente para os grandes exportadores.

Essa maior oferta permitiu a muitos frigoríficos preencherem suas escalas e se desafogarem, pois no momento da turbulência a tendência era de aquecimento dos preços. O indicador Esalq vinha em uma seqüência de alta desde o final de novembro, no dia 1o de dezembro, quando o caso veio a publico, o índice registrava R$ 62,76, ontem 13 de dezembro, a cotação apontava para R$ 61,14.

“Com a intervenção da Polícia Federal o mercado virou de ponta cabeça. Em vez de subir, a cotação da arroba chegou a cair até R$ 3,00 em poucos dias. Isso gerou pânico nos produtores. Desde agosto a alta da arroba vinha sido esperada e era sempre postergada. Essa intervenção criou um ambiente de total desânimo. O pecuarista conformou-se com a situação de baixa e jogou a toalha, ofertando seus animais” explica José Vicente Ferraz, diretor da FNP Consultoria. “Os frigoríficos se aproveitaram da situação, e passaram a alegar que já tinham escalas cheias para o final do mês. Pecuaristas que poderiam vender em janeiro, anteciparam as vendas, entrando na conversa dos frigoríficos, ofertando ainda mais o mercado”, completa Geide Figueiredo, também da FNP.

Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria, diz que a intervenção no Frigorífico Margen levou o mercado, que era firme, à derrocada. “O mercado está extremamente pressionado para baixo”, relata o analista. Segundo as cotações da arroba feitas pela Scot até ontem, as desvalorizações foram significativas nas praças pecuárias onde o Margen tem maior influência. Do dia 1o, quando o caso veio à tona até ontem, a arroba em São Paulo cotada a prazo recuou de R$ 64,00 para R$ 62,00. Na região sul de Goiás a queda foi de R$ 61,00 para R$ 58. Em Mato Grosso, região de Barra do Garças, a cotação caiu de R$ 58,00 para R$ 55. No Paraná a desvalorização foi de R$ 61,00 para R$ 58,00. Em Rondônia de R$ 50,00 para 45,00 e no Mato Grosso do Sul, R$ 61,00 para R$ 59,00.

A situação mais crítica é a do Paraná, onde o Margen controla as únicas três plantas do estado habilitadas a exportar. “Todo mundo que rastreou o gado está preocupado, pois não tem mais para onde vender este tipo de animal”, comenta Osvaldo Alves Machado, sócio de um escritório de compra e venda de gado. Segundo Tito Rosa da Scot, não havia diferença de preços entre a cotação da arroba paulista e da paranaense nesta mesma época do ano passado. Hoje a diferença é de R$ 4,00. “Já tem gente de São Paulo vindo comprar boi aqui no Paraná”, relata Alves Machado.

O mercado futuro do boi sentiu um forte baque com a prisão dos sócios do Margen. Élio Micheloni, broker da corretora Hencorp Commcor, diz que houve um movimento “maximizado” para baixo. Segundo o broker, o primeiro movimento dos especuladores foi de venda, o que derrubou o mercado, que havia batido em R$ 65,00 – fechamento de dezembro – antes do episódio. Dezembro fechou ontem a R$ 60,85, queda de R$ 4,15 em doze dias.

O Margen é um grande frigorífico de mercado interno. Estima-se que o Grupo destine ao estrangeiro 15 a 18% do volume abatido, o resto é negociado dentro do país. A sua saída do mercado tende a influenciar diretamente os frigoríficos não exportadores, que deverão preencher essa grande lacuna. Agentes do mercado atacadista afirmam que o efeito mais imediato foi de alta na cotação das peças. Cerca de 8.000 a 10.000 deixaram de ser abatidos de um dia para o outro, desabastecendo o mercado interno. A médio prazo a oferta tende a se normalizar, com o direcionamento dos animais a outros frigoríficos, mas agora até a cotação do couro dá sinais de aquecimento.

Fonte: Equipe BeefPoint

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