Após os preços dos ovos dispararem no começo do ano nos Estados Unidos, agora é a carne bovina que segue a mesma trajetória.
Em maio, a carne moída alcançou o preço médio mais alto já registrado, atingindo US$ 5,98 (R$ 32,34) por libra (454 gramas), segundo dados do Bureau of Labor Statistics (BLS) dos EUA, divulgados em 11 de junho. Um novo relatório será publicado na próxima terça-feira, 15.
O aumento foi de 16,2% em comparação com maio do ano anterior. Entre janeiro e maio de 2025, os preços da carne moída subiram 7,3%.
Outros cortes de carne bovina , como bifes de contrafilé e acém, subiram 1,1% em maio.
Nos EUA, 80% da carne consumida é utilizada para hambúrgueres. Diante disso, empresas que compram grandes quantidades de carne bovina estão reagindo de diferentes maneiras.
O McDonald’s, a Sysco e outras companhias entraram com ações contra grandes processadores de carne, acusando-os de conspirar para aumentar os preços.
Os processadores negaram as acusações, mas resolveram alguns litígios por dezenas de milhões de dólares, sem admitir irregularidades, mostra o The New York Times.
A elevação dos preços é explicada pela diminuição do rebanho disponível para abate, que atingiu o menor nível desde a década de 1950. Os EUA continuam sendo o maior produtor mundial de carne bovina.
Rebanho em diminuição nos EUA
O número de gado de corte nos EUA caiu para 27,9 milhões, uma redução de 13% desde 2019, e o inventário total de bovinos é o mais baixo desde 1952, mostram dados do Departamento de Agricultura (USDA).
Além disso, o rebanho de bovinos tem apresentado uma queda significativa ao longo desta década. Em 2021, o USDA registrou 92,6 milhões de cabeças de gado, número que agora caiu para 86,6 milhões.
” A redução no tamanho do rebanho é resultado de custos elevados, dificuldades climáticas no início da década e a decisão dos pecuaristas norte-americanos de abater as fêmeas “, explica Fernando Iglesias, analista de pecuária da consultoria Safras & Mercado.
Por outro lado, a demanda dos consumidores permaneceu estável nos últimos anos.
A menor oferta de gado nos Estados Unidos, combinada com uma seca que afetou o oeste do país, fez com que os pecuaristas enfrentassem custos elevados, já que precisaram comprar mais ração para alimentar seus rebanhos.
Com menos pasto disponível, muitos reduziram o tamanho de seus efetivos ao vender parte do gado. O fechamento de frigoríficos e as interrupções no processamento de carne em função da pandemia de 2020 também diminuíram a demanda por gado, pressionando ainda mais os preços pagos aos criadores.
Atualmente, os pecuaristas começam a reconstruir seus rebanhos para aproveitar os preços elevados, mas, como afirma Iglesias, “esse é um processo lento, pois leva de dois a três anos para criar um bezerro até o abate”.
Dessa maneira, espera-se que os preços da carne bovina permaneçam altos até 2026. O USDA estima que o preço do gado continuará elevado até o próximo ano, com os preços de varejo da carne bovina se mantendo elevados por vários anos.
Com a oferta reduzida de carne bovina nos EUA , o país aumentou suas importações da proteína do Brasil, o segundo maior produtor global.
De janeiro a junho de 2025, os embarques brasileiros para os EUA cresceram 113% em relação ao primeiro semestre de 2024, totalizando 181,5 mil toneladas, segundo a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec). A receita alcançou US$ 1 bilhão, um aumento de 102%.
“Mesmo com uma leve queda no preço médio, o crescimento no volume compensou, resultando em receita recorde”, afirma a entidade.
Nem mesmo a guerra tarifária imposta pelo presidente dos EUA , Donald Trump, contra vários países, incluindo o Brasil, impactou as importações de carne bovina do país.
Na avaliação de Iglesias e da Abiec, com um cenário de oferta restrita e alta demanda, o Brasil deve continuar sendo o principal fornecedor de carne bovina para os EUA em 2026.
“O ciclo pecuário americano é o menor dos últimos 80 anos, e a perspectiva é de que isso não mudará a médio prazo. Quando não se tem a carne, é preciso buscar de quem tem. E quem tem hoje no mundo é o Brasil, com capacidade de produção, regularidade e preço competitivo”, diz Roberto Perosa, presidente da Abiec.
Fonte: Exame.