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Preço de exportação sobe 43% no ano, mas não é repassado ao pecuarista

Entre janeiro e novembro, o preço médio das exportações de carne bovina brasileira in natura subiu 43%. Em janeiro, o valor pago por tonelada de carne bovina remetida ao Exterior era de US$ 1.543, chegando a US$ 2.206 em novembro. Entretanto, a recuperação dos preços no mercado internacional não foi repassada ao pecuarista, que enfrenta a dificuldade de administrar aumentos dos custos de produção bem superiores aos reajustes praticados pelos frigoríficos na compra do boi gordo no período, afirmou o presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira.

Estudo da CNA e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP) mostra que, entre março e novembro deste ano, o preço pago pelo boi subiu apenas 1,85%, enquanto os custos operacionais totais (COT) aumentaram 6,5%.

Em igual período, o Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) variou 3,22%. Os custos de produção subiram mais que a inflação, enquanto o preço ao produtor não acompanhou a oscilação dos preços médios de mercado. “Os preços dos bezerros são os mesmos que há um ano e meio atrás. Isso é preocupante. O abate de matrizes cresceu absurdamente nos últimos meses”, considerou Nogueira.

A pior situação foi registrada em Mato Grosso do Sul, onde o preço médio pago pelo boi caiu 0,17% entre março e novembro, enquanto os custos de produção subiram 8,29%. De acordo com Nogueira, o aumento dos custos de produção em velocidade superior ao da remuneração ao produtor gera desestímulo à produção pecuária, ainda mais porque há espaço para oferecer melhores preços, o que pode ser medido pela forte recuperação dos preços de exportação.

No mercado internacional, o Brasil firma-se como principal agente exportador de 2003. Entre janeiro e novembro deste ano, o País remeteu ao Exterior 1,18 milhão de toneladas, entre carne industrializada e in natura, o que rendeu divisas de US$ 1,36 bilhão. Em igual período do ano passado, o Brasil exportou 873 mil toneladas, com faturamento de US$ 974,7 milhões. Houve, portanto, um crescimento de 39% em faturamento e de 35% no volume exportado. Os principais destinos da carne bovina brasileira, entre janeiro e novembro deste ano são Holanda, Chile e Rússia.

Segundo Nogueira, é praticamente certo que o Brasil assuma a posição de liderança como principal fornecedor mundial de carne bovina em 2003, superando a Austrália, que deve exportar 1,25 milhão de toneladas, e Estados Unidos, com projeção de remessas de 1,19 milhão de toneladas neste ano.

Críticas

Apesar da liderança brasileira em exportações de carne, além da ausência do repasse ao pecuarista, agentes do setor comentaram que ele enfrenta a dificuldade de administrar aumentos dos custos de produção bem superiores aos reajustes praticados pelos frigoríficos na compra do boi gordo no período.

Segundo o diretor de vendas e marketing da central de inseminação artificial Lagoa da Serra, Lúcio Cornachini, o Brasil tem ganhado mercado em função de preço. “A carne bovina brasileira é a mais barata do mundo. Precisamos agora agregar valor a esse produto. Os números são importantes, mas o produtor, no geral, sofre com o preço de R$ 61,00 a arroba que está sendo pago hoje”, analisou.

Cornachini afirmou que não está claro para o produtor que tipo de carne (animal, raça e manejo) é esperado para esse mercado de maior valor. “Os EUA, por exemplo, são um grande comprador e grande exportador. Entretanto, compram somente carne enlatada, mais barata, e vendem carne a US$ 8/9 mil a tonelada”, opinou.

Mesmo com todas as dificuldades encontradas, resta ao pecuarista produzir com qualidade e atender à demanda interna e externa. Para Ian Hill, gerente-geral da Agropecuária Jacarezinho (Valparaíso, SP), esse recorde em 2003 comprova o que se previa: o Brasil será o maior fornecedor de proteína vermelha do mundo. “Isso se deve ao trabalho de toda a cadeia produtiva, que já oferece à população mundial carne de qualidade superior, padronizada, e também ao fato de o País adotar um sistema de rastreabilidade, dando mais credibilidade à qualidade do produto”, afirmou.

De acordo com Hill, o pecuarista brasileiro está cada vez mais consciente de que é necessário maximizar o desfrute do rebanho e da produção econômica de carne de qualidade, com a utilização de tecnologias de manejo e seleção de animais focadas em características de interesse econômico a partir de uma ampla base genética em regime de pastagens melhoradas. “Esse é o caminho e acredito que já estamos fazendo o dever de casa corretamente”, completou.

Exemplo disso é a facilidade de realizar no Brasil o chamado cruzamento industrial. “Unir a adaptabilidade do Zebu com a produtividade e a precocidade das raças européias e compostas é extremamente viável no Brasil, o que, aliás, já tem acontecido com grande intensidade, resultando em avanços em precocidade sexual e índices gerais de produtividade. A pecuária nacional tem de aproveitar essa vantagem que nenhuma outra tem: a pluralidade das raças e de potenciais cruzamentos”, explicou Fábio Dias, coordenador de pecuária da Agropecuária CFM, de São José do Rio Preto, SP.

Para Dias, porém, o Brasil precisa padronizar seu sistema de produção, visando sempre a animais prontos para o frigorífico com pouca idade, carne mais macia, com marmoreio e suculenta, que agrada aos mais exigentes consumidores. “A mudança de mentalidade deve ocorrer aqui primeiro”, disse.

Rastreabilidade

Produzir com qualidade, rentabilidade e eficiência não é sinônimo de portas abertas integralmente no mercado externo. Para atender a demanda de alguns países consumidores, o Brasil precisa definir um modelo claro de rastreabilidade do rebanho. A União Européia, por exemplo, exige que toda carne que entrar no continente deve estar devidamente identificada.

“O fato de o Brasil acenar para um modelo de identificação e certificação de rebanho é um ponto a favor. O País precisa atender às exigências dos compradores, como a União Européia, principalmente no que diz respeito à segurança alimentar. Além disso, trata-se de uma decisão estratégica, até porque nossos maiores concorrentes no comércio internacional já fazem a rastreabilidade. O Brasil não pode ficar fora desse processo”, afirmou Vincent L’Henaff, diretor da Allflex.

Com esse quadro, a carne brasileira conseguiu reverter a situação no mercado externo: os compradores que solicitam o produto ao Brasil em vez de o País oferecê-lo. “É questão de tempo para o Brasil aumentar consideravelmente a oferta de carne bovina de qualidade – com respeito ao meio ambiente e segurança alimentar – para aproveitar as oportunidades comerciais já existentes, conquistar outros clientes e atender rapidamente o mercado externo”, observou L’Henaff.

Fonte: Departamento de Comunicação da CNA e Assessorias de Imprensa, adaptado por Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Carlos Eugênio de Abreu Martins disse:

    Caiu a máscara da indignidade!

    Quando os frigoríficos chamam os pecuaristas para “formar cadeias produtivas, para que possamos distribuir ganhos” estão fazendo jogo de cena. E mais, sempre atiram para o varejo a culpa pela baixa rentabilidade da pecuária.

    Agora, com a divulgação desses números estarrecedores, os sempre desunidos pecuaristas talvez percebam a necessidade de estratégias comuns.