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Preço do boi gordo desaba, mas recuo da carne ainda é tímido

Os preços da arroba do boi gordo vêm derretendo nos últimos meses, fruto do aumento da disponibilidade de animais para abate decorrente da virada de ciclo da pecuária. Essa queda, no entanto, ainda não chegou ao bolso do consumidor.

A cotação da arroba já é até 30% menor que a da mesma época do ano passado em algumas regiões de Mato Grosso e Pará, segundo criadores. No Estado de São Paulo, a retração é de 17%, em média, segundo levantamento da Scot Consultoria. Já no varejo paulista, a carne bovina caiu apenas 2,5%, em média, em relação a igual período do ano passado.

Nesse cenário de queda nos preços do boi, pecuaristas fazem as contas no campo e já indicam redução significativa na intenção de confinamento neste ano. Frigoríficos, por sua vez, reduzem o ritmo de compras de animais e amargam resultados menores com a queda nas exportações nos primeiros quatro meses de 2023 e consumo doméstico fraco.

Criadores e frigoríficos dizem que é necessário equilibrar as margens da cadeia, para incentivar o consumo da proteína nos supermercados e melhorar o ambiente de negócios no interior do país. Basicamente, o receio é que se o preço continuar proibitivo, as vendas no varejo serão insuficientes para escoar a oferta de carne, que tende a crescer.

Desde o início do novo ciclo pecuário, há dois anos, a cotação do boi gordo em São Paulo caiu 23,1%, para R$ 236,50 por arroba. No mesmo período, a carne no atacado no Estado caiu apenas 2,7%, para R$ 29,73 o quilo. O setor de frigoríficos diz que a baixa foi mais intensa, em torno de 6%.

No varejo de São Paulo, a média de preço dos cortes subiu 19,5% em dois anos, para R$ 50,32. Somente o acém e o músculo ficaram mais baratos, segundo a Scot: 1,5% e 1,7%, respectivamente. Enquanto isso, o filé mignon com cordão subiu 60%; o da picanha maturada, 50%; e o da alcatra completa, 28%.

Segundo Mariana Mioto, analista da Scot, o varejo pode estar aproveitando o momento de queda nos outros elos da cadeia para recompor margens, após um período de aperto, por isso os preços não caem na mesma proporção.

Ela observa, contudo, que o ambiente inflacionário está pressionando os consumidores em direção a proteínas mais baratas, como as carnes de frango e suína e os ovos. “Mesmo na semana de pagamentos, quando geralmente a demanda é mais alta, não há um aumento expressivo das compras de carne bovina”.

Segundo a Associação Brasileira dos Frigoríficos (Abrafrigo), uma queda proporcional e no ritmo adequado nos preços da carne ao consumidor ajudaria a equilibrar o restante da cadeia e impulsionaria o consumo em momento difícil da economia.

“Com maior demanda na ponta, os preços ao pecuarista e nos frigoríficos têm um ponto de equilíbrio”, diz Paulo Mustefaga, presidente da Abrafrigo.

Os dados do Ministério da Agricultura mostram que o problema não é falta de oferta. Os abates aumentaram 9% no primeiro bimestre deste ano na comparação com 2022. Já o volume de carne bovina exportado recuou 12% de janeiro a abril, para 640 mil toneladas, o que reforça a disponibilidade do produto no mercado interno.

Marina Mioto afirma que empresas relataram que volumes de carne que deixaram de ser exportados à China devido ao embargo em março, após um caso atípico de “vaca louca”, estão sendo liberados no mercado interno. “Parte da produção ainda estava estocada nos frigoríficos”, diz.

A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) afirma que a redução nos preços no varejo vai ocorrer de forma gradual. Segundo a entidade, houve substituição da carne bovina por proteínas mais baratas no prato do brasileiro nos últimos anos, mas o consumo está retomando o ritmo com recursos injetados na economia.

“Em todo o Brasil, as gôndolas estão abastecidas e as empresas continuam fazendo ações promocionais para atender ao consumidor”, diz em nota.

A Abras destaca ainda que é importante considerar outros fatores na formação dos preços nesse elo da cadeia, como os custos de logística e de energia da cadeia de perecíveis no transporte, na armazenagem e na exposição nas lojas. A demanda da carne bovina no mercado internacional também influencia a conjuntura.

De fato, há um movimento de queda no varejo, mais ainda desproporcional ao visto para o boi em algumas regiões do país. O índice de carnes no varejo da Scot recuou 2,5% e o gado, 19,7%. As peças que ficaram mais baratas foram: patinho (-10,1%), coxão duro (-9%), lagarto (-8%), acém (-7,8%), contra filé (-7,1%), picanha (-6,3%) e músculo (-2,4%).

Um fator que pode contribuir para a queda nos preços da carne bovina é um eventual recuo nas cotações do frango, caso a gripe aviária avance para granjas comerciais e traga embargos às exportações da ave. “Os possíveis impactos da gripe aviária reforçariam uma tendência já existente a carne bovina, que está em um viés de baixa”, afirma Felipe Sawaia, analista de inteligência de mercado da StoneX.

Fonte: Valor Econômico.

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