Nunca foi tão apropriado chamar o filé bovino de corte nobre. Do início do ano para cá, o produto brasileiro subiu até 50% no mercado europeu e atingiu US$ 9 mil por tonelada, segundo frigoríficos e traders. Esse patamar de preço não era visto desde meados da década de 80, afirmam especialistas. O contrafilé, outro corte nobre, saiu de US$ 2,5 mil por tonelada no começo do ano para US$ 3,6 mil, retomando patamares históricos.
A alta tem entre suas razões componentes conjunturais como férias na Europa, queda do dólar no Brasil e euro valorizado em relação ao dólar. Mas também pode ser explicada pela retomada do consumo no continente, após crises sanitárias, e pela queda nos estoques de intervenção na União Européia.
Segundo Antônio Mondelli, da área de exportação do frigorífico Mondelli, o verão na Europa alavanca a procura por cortes como filé, contrafilé e alcatra por causa do consumo maior em restaurantes e hotéis. Ele acrescenta que a valorização do real em relação ao dólar também leva os exportadores a buscarem preços melhores na hora de vender para compensar a queda de receita em reais.
Além desses fatores, a valorização do euro diante do dólar, de 7,11% desde o início do ano, também torna mais barato o produto brasileiro internalizado em dólar na UE, disse um trader. Assim, há espaço para elevação de preços. “Há mais dinheiro no bolso do europeu”, concordou o analista da FNP Consultoria, José Vicente Ferraz.
Mas a menor produção de carne bovina na Europa e a retomada da confiança do consumidor são, sem dúvida, os maiores motores da recuperação de preços, afirmou o trader. Segundo ele, após os casos de “vaca louca” no continente, o consumo vem se recuperando gradativamente.
No ano agrícola 2000/01, a UE importou 28 mil toneladas de carne refrigerada in natura (a maioria cortes nobres). Em 2001/02, comprou 48 mil toneladas e a estimativa é que alcance 58 mil toneladas em 2002/03.
Para o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Ênio Marques, a valorização dos preços pode ser explicada pelo aumento da confiança no produto brasileiro após as crises sanitárias. Além disso, afirma, “melhorou a qualidade de gestão de acesso ao mercado europeu”. Desde o ano passado, segundo Marques, a UE endureceu as regras e conseguiu reduzir o contrabando de carnes para o bloco. “Não existe mais concorrência com filé contrabandeado”.
A maior demanda pelo produto brasileiro se deve também aos preços convidativos. Mesmo com taxação elevada, o filé brasileiro tem preço inferior ao produto da própria UE, segundo Marques. Hoje, o filé paga uma sobretaxa de 12,8% mais 3,04 euros por quilo para entrar na Europa fora da cota Hilton.
Apesar da importância dos cortes nobres para o mix dos frigoríficos, especialistas lembram que eles respondem por apenas uma pequena parte do boi e que os maiores mercados brasileiros são de carnes baratas.
Um analista lembra que a soma dos filés, contrafilé e alcatra do boi não chega a uma arroba. Além disso, as vendas de cortes nobres são pequenas se considerada a exportação total do Brasil. De acordo com Marques, de um milhão de toneladas (equivalente-carcaça) exportadas pelo Brasil em 2002, no máximo 40 mil toneladas foram cortes nobres.
Fonte: Valor On Line (por Alda do Amaral Rocha), adaptado por Equipe BeefPoint