Uma combinação rara entre instabilidade política e redução da taxa básica de juros abriu espaço em 2017 para que os investidores começassem a olhar com mais interesse o mercado de terras, um ativo considerado seguro em épocas de turbulência. Mas o interesse, ainda modesto comparado a tempos áureos do setor, concentrou-se em regiões que já oferecem mais facilidades ao produtor – como acesso à infraestrutura e bons solos.
Foi o que ocorreu nas regiões Sul e Sudeste, onde terras chegaram a ter altas de até 25% em 2017, muito acima do visto no Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país – que embora tenham terras mais abundantes e baratas, perdem competitividade devido às distâncias e solos de menor qualidade.
Segundo Marcio Perin, analista da consultoria FNP Informa Economics, os preços das terras do Sul e Sudeste já vinham subindo desde 2015 como reflexo da busca por ativos “seguros” em meio à instabilidade política dos últimos anos, além das boas safras nas regiões. Em 2017, as altas foram mais acentuadas no mercado paulista, após dois anos de elevações mais relevantes no Sul.
Ele observou que, como os terrenos nessas regiões são bons e escassos, um leve aumento na demanda já provoca alterações expressivas nos preços.
Na última fronteira agrícola do país, o Matopiba (confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), houve queda no números de negócios efetivados. A região foi marcada por quebras de safras de 2014/15 e 2015/16 em decorrência de problemas climáticos. “Nessas regiões, os preços não caíram tanto, mas diminuiu a liquidez”, disse André Guillaumon, presidente da BrasilAgro, especializada em desenvolvimento de terras.
Levantamento da empresa com dados compilados da FNP indicou que o preço médio real dos terrenos na região Sul subiu 6,2% nos 12 meses encerrados em agosto do ano passado, enquanto no Sudeste o aumento foi de 4,1%. Já no Centro-Oeste, o hectare se valorizou apenas 1% no mesmo período, enquanto no Norte a alta média foi de 1,6%.
No geral, o movimento de queda da Selic – hoje, em 7% ao ano, patamar mais baixo da história – colaborou para que o apetite por terras começasse a reaparecer, já que juros baixos significam financiamento mais barato, e os investimentos tendem a migrar do mercado financeiro para o físico. Afora isso, o início da recuperação da economia brasileira também ajudou, segundo Guillaumon. “De modo geral, mesmo com alguns sobressaltos econômicos, o preço da terra não cai como em outros setores”, disse.
Fonte: Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.