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Preços devem seguir instáveis, diz USDA

Na última sexta-feira, o anúncio de que Ucrânia e Rússia haviam chegado a um acordo para liberar as exportações ucranianas de alimentos pelo Mar Negro fez o trigo despencar nos mercados internacionais – na bolsa de Chicago, a queda foi de quase 6%. Menos de 24 horas depois, os russos bombardearam alvos no porto de Odessa, o maior da Ucrânia. Assim, bastou um só pregão para que as perspectivas para a oferta deixassem de ser o motivo da queda do trigo para se transformarem no motor de uma nova alta (leia mais ao lado).

Seth Meyer, economista-chefe do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), acredita que essa profunda mudança de humor dos investidores, e em um intervalo tão curto, deve seguir como a principal marca do mercado de commodities agrícolas por mais tempo do que o desejável. “Isso é um microcosmo do cenário de grande volatilidade de preços que temos visto até aqui”, afirma ele. “A guerra é um elemento a mais [de instabilidade] em um mercado [com oferta] já bastante apertada”.

Em conversa com o Valor pouco depois de desembarcar no Brasil para participar do Global Agribusiness Forum, evento organizado pela consultoria Datagro, Meyer disse que essa “volatilidade adicional” afeta especialmente as nações menos desenvolvidas. Muitos desses países sequer se recuperaram dos problemas financeiros causados pela covid-19, argumenta ele, e agora, com finanças ainda combalidas, eles têm que encontrar meios de comprar comida em um novo momento de cotações elevadas.

“Nos EUA, os itens ‘da porteira para dentro’ representam apenas 16 centavos de cada dólar que os consumidores gastam. Os outros 84 centavos são gastos com itens da porteira para fora. O quadro é diferente nos países em desenvolvimento, que têm que se preocupar com as despesas para importar trigo, milho ou óleos vegetais”, raciocina Meyer. “Nós vimos um quadro parecido em 2008, mas o dólar está ainda mais valorizado agora do que naquele momento”.

Dito de outra forma, uma coisa é encarar um choque de oferta comprando, em moeda forte, produtos que são negociados em dólar, e outra, importar, em moeda fraca, itens que estão em falta no mundo. Desde 28 de abril, quando atingiu sua maior cotação deste ano, o contrato de segunda posição de entrega do milho acumulou, até ontem, queda de 28,2% na bolsa de Chicago, segundo cálculos do Valor Data. O trigo, que alcançou sua máxima de 2022 no dia 7 de março, já caiu 39,1% desde então. Ainda assim, as cotações continuam bastante acima de suas médias históricas – e voláteis como poucas vezes se viu.

Os problemas de oferta exacerbaram a inflação global dos alimentos, dois fatores que fizeram crescer o protecionismo no mundo. Segundo levantamento recente do International Food Policy Research Institute (IFPRI), ao menos 25 países, entre eles Índia, Rússia, Indonésia e Turquia, reagiram ao aumento dos preços dos itens alimentícios impondo restrições às exportações, medidas que, somadas, afetaram mais de 8% do comércio global desses produtos.

Meyer defende que o melhor caminho para reduzir os preços e ajustar os estoques em escala global é o livre comércio. “Medidas de curto prazo costumam prolongar o problema. Ao limitar as exportações para se proteger, um país ‘exporta’ volatilidade, e isso afeta principalmente os consumidores mais vulneráveis”, diz.

A grandes produtores agrícolas, como EUA e Brasil (e também Argentina, lembrou o economista, ainda que os argentinos estejam na lista do IFPRI dos que levantaram barreiras recentemente), interessa estabelecer-se como um fornecedor confiável. A previsibilidade, afirma ele, deixa as cotações menos voláteis.

Investimentos em inovação e tecnologia também são elementos centrais nos esforços para tornar a produção mais previsível e sustentável, afirma Jeremy Adamson, conselheiro sênior do Serviço Internacional de Agricultura do USDA. “O aumento da produtividade e da sustentabilidade não são mutuamente excludentes”, disse ele ao Valor

Fonte: Valor Econômico.

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