O preço do bezerro é um dos principais indicadores da pecuária de corte. É uma das moedas da pecuária. Seu valor também embasa a percepção de muitos pecuaristas sobre o preço do boi gordo. É a famosa relação de troca, quando mais alta, melhor para o invernista. Uma grande produção de bezerros de qualidade é a base da atividade pecuária.
O preço do bezerro é um dos principais indicadores da pecuária de corte. É uma das moedas da pecuária. Seu valor também embasa a percepção de muitos pecuaristas sobre o preço do boi gordo. É a famosa relação de troca, quando mais alta, melhor para o invernista. Uma grande produção de bezerros de qualidade é a base da atividade pecuária.
Produzir bons bezerros não é fácil, nem barato. A Itália tem interesse em comprar bezerros de Santa Catarina, para engorda na Europa. O motivo? É muito caro produzir lá e seria uma mão na roda para os italianos comprar aqui e terminar lá.
Na África do Sul, os preços do bezerro são muito mais altos que no Brasil. Em 2006, Rafael Cervieri, colunista e parceiro do BeefPoint, além de instrutor de diversos cursos online da AgriPoint, esteve por lá, conhecendo o sistema de produção sul-africano. A constatação: os custos de produção de lá são muito similares aos do nosso confinamento, com a diferença de que o bezerro valia R$ 900,00/cabeça naquela época. No Brasil, em 2006, o preço médio foi de R$ 357,00/cabeça (indicador Esalq/BM&F, MS).
Gráfico 1. Preços médios do bezerro de janeiro a junho, de 2002 a 2009
Desde 2008, os preços do bezerro se recuperaram fortemente, passando de preços médios abaixo de R$400,00/cabeça para valores acima de R$500-600/cabeça. O motivo dessa mudança é conhecido de todos: elevado abate de fêmeas e expansão da atividade de confinamento, que acelerou a pecuária.
Produzir um bom bezerro é caro, difícil e demorado. É de se esperar que esse produto valha. A dificuldade gera escassez, que aumenta o preço. Historicamente a cria é a atividade com menor rentabilidade da pecuária, perdendo quase sempre em lucratividade para recria e engorda. Além disso, é a atividade que tem ciclo mais longo. Se leva menos de um ano para se terminar um boi gordo usando pasto e confinamento, e se leva quase dois anos para se desmamar um bezerro.
Calcular custos pode diminuir a produção de bezerros
A pecuária se torna mais competitiva, mais eficiente, com melhor gestão. Aos poucos, mais pecuaristas conhecem (ou estimam) seus custos de produção. Esse conhecimento do custo de produção deve levar a uma mudança interessante na pecuária. Se antes poucos calculavam seus custos de produção, mesmo com uma atividade de baixa rentabilidade, não havia uma pressão significativa para mudança de atividade (ou seja, deixar de criar bezerros), desde que o resultado fosse positivo. E muitos pecuaristas, mesmo com um elevado patrimônio (terras e rebanho) vivem com um padrão de vida relativamente modesto, com baixo custo pessoal.
Com mais produtores calculando custos e simulando resultados diferentes em outra atividade (pensando: ganho menos na cria, do que se recriasse-engordasse), existe uma tendência para que a oferta de bezerros se mantenha enxuta. Seja porque mais pecuaristas fazem ciclo completo, ou pelo menos cria-recria. Seja porque menos produtores se animam a ser criadores, se especializando na recria e/ou engorda.
Gráfico 2. Relação de troca média, de janeiro a junho, de 2002 a 2009
O bezerro está caro ou barato?
Na mesma linha, em minhas andanças pelo Brasil, fazendo palestras, sempre pergunto a invernistas que reclamam do alto preço do bezerro o seguinte: “Se você fosse começar sua atividade hoje, montando uma fazenda, entraria na atividade de cria para vender bezerros aos preços de hoje, ou preferiria entrar na atividade recria-engorda, comprando bezerros aos preços atuais?”. A esmagadora maioria me responde, às vezes surpreso consigo mesmo, que prefere comprar nos preços atuais. Ou seja, o preço do bezerro não está tão alto assim.
Gráfico 3. Margem bruta na reposição média, de janeiro a junho, de 2002 a 2009
A principal avaliação que o invernista precisa fazer é qual é sua margem na reposição, quanto sobra ao vender seu boi gordo e comprar um bezerro. Esse valor é mais importante que a relação de troca “pura”. Estimo que no futuro, a relação de troca deve diminuir, sem grandes mudanças na margem bruta da reposição.
Tecnologias inteligentes
O uso de tecnologias na recria também pode ajudar na recuperação da margem do invernista, mesmo com preços mais altos do bezerro, o que na nossa avaliação é uma tendência que veio para ficar.
Na cria, a adoção de tecnologias que permitam produzir: mais bezerros, melhores bezerros (genética) e bezerros mais pesados de forma economicamente viável serão os grandes destaques daqui em diante. Um exemplo de técnica que vem se expandindo rapidamente nos últimos anos, é a IATF. Em menos de 10 anos, o número de vacas dentro desse sistema se multiplicou por 20.
Mais bezerros melhores e mais pesados por área e por vaca
O grande desafio da atividade de cria é produzir esses bezerros mais pesados e com melhor genética, e em maior número, com o mesmo número de vacas, em uma mesma área. Essa tarefa não é fácil, e será desempenhada por pecuaristas diferenciados, com capacidade de execução, controle de custos, gestão eficiente e uso inteligente de tecnologias. Isso tudo, alinhado a expansão dos confinamentos e outras técnicas de engorda otimizada, além da vontade de outros mercados comprarem gado em pé do Brasil, indicam um cenário positivo para o bom produtor de bezerros no Brasil.
Qual sua opinião sobre o mercado de bezerros no Brasil, e sua tendência futura de preços e relação com os preços do boi gordo? Participe, dê sua opinião abaixo.
37 Comments
A pecuária de corte no Brasil tem sido uma atividade de margens apertadas. Prováveis ganhos imobiliários decorrentes da expansão agrícola podem ter compensado parcialmente o pecuarista. Que migrava novamente para o sertão. E a cria sempre foi primeiro, porque os frigoríficos só se instalam depois da praça contar com um determinado rebanho.
Mas este movimento de abertura de novas fronteiras tem enfrentado cada vez mais resistencia da sociedade. Por isto não acredito na expansão de área e o aumento da produção terá que contar cada vez mais com aumentos de produtividade. A expansão dos confinamentos é em parte decorrente deste movimento.
Mas certamente a cria ainda é a prima pobre do setor. Sei bem, pois me dedico ao ciclo completo, que raramente as margens da cria são iguais as das demais fases…nunca superiores. Mas se a análise acima estiver certa há uma tendência a longo prazo de maior equilibrio de rentabilidade entre cria, recria e engorda.
Relação de troca de 2 para 1 ainda vai deixar saudades nos invernistas.
Gostei muito do artigo, precisamos sempre estar nos informando porque sabemos que a informação e chave do negocio.
Parabéns pela matéria.
Grato.
El valor del becerro también tiene que ver con las opciones financieras del inversionista. En un mercado de tasas de retorno altas el valor deberá ser menor y en un mercado de tasas de retorno bajas el valor del becerro será mayor. Es cierto que la oferta y demanda determinan el precio, más aún considerando que la economía mundial saldrá del proceso recesivo el próximo año el boi terminado a futuro también estará con mejores precios. Tal vez esa la razón de una relación de troca comparativamente baja.
Saludos y felicitaciones por el artículo.
otimo..
De maneira clara e objetiva o articulista sintetizou o dilema de todo criador de bezerros de corte neste País.
Trata-se de atividade altamente tecnica, demorada e fundamental para os demais elos da cadeia que dela dependem.
Deveria – repare no tempo do verbo – por estas razões remunerar adequadamente quem dela depende. Não é o que acontece, no entanto, pois as atividades mais comerciais da cadeia da carne são as mais lucrativas.
Por outro lado, de 2008 para cá, além da valorização no preço da arroba, tem-se conseguido obter um valor adicional, quer no preço propriamente dito, quer na modalidade do pagamento (receber à vista, com o preço de 30 dias).
Seria importante, ao menos para mim, se pudessemos estender este debate para discutirmos o que eu creio ser o mais dificil para nós criadores, a adoção de medidas que favorecessem a comercialização.
Muito bom o artigo. Diante do que foi discutido no mesmo, fica a pergunta. Até quando esse parâmetros (valor do bezerro, relação de troca, etc. ) vão servir para avaliar a atividade (rentabilidade e ganhos) pecuária?. No meu modesto modo de pensar, a unidade produtiva é o hectare, esse sim serve de parâmetro para comparação principalmente quando se quer analizar atividade diferentes, como exemplo a soja e o gado. O quanto se produz de carne por “ha” (kg carne/ha/ano) comparado ao quanto se produz de soja por “ha” (kg de soja/ha), o quanto sobra por “ha” (margens, ganhos, etc.) nas diferentes atividades?
Independente do sistema produtivo (cria, recria ou engorda) qual é a produtividade (kg carne/ha/ano)? qual é o desfrute ? enfim se chegará ao custo por @ produzida, informação de extrema importância na tomada de decisão.
O pecuarista vende carne que é o seu produto na forma de boi gordo, novilha gorda, vaca gorda (descarte ou não) bezerro (a) desmamado, todas essas categorias que muitos ensistem em particularizar ou conservar (conservadorismo) ou individualizar.
O pecuarista quando vende um boi gordo e ao repor seus bezerros, so seu sistema de produção, sai carne e entra carne, ou seja, é um fluxo de carne.
Bom eu realizo esse tipo de controle e análise, na empresa a qual trabalho. Se alguém tiver interesse em trocar informaçõe é so entrar em contato (grupocbmrodrigo@agroparati.com.br).
Espero que outros profissionais que tiverem informações e interesse em discutir mais o assunto possam se manifestar, pois a nossa pecuária tem muito a conquistar pela frente e a necessidade de conhecimento (ferramenta) é notória por parte dos pecuaristas que querem particiar desse avanço.
Parabéns pelo artigo,
Parabéns pelo artigo.
A MBR do gráfico 3 “mata a charada” e ilustra por que o bezerro de R$ 700 é MUITO barato. Cumprimentos pelo pioneirismo na adoção e na divulgação do conceito da margem bruta na reposição. Gosto de usar este indicador com uma média móvel sobreposta, pois assim podemos antecipar tendências de alta/queda/estabilidade.
Falei que bezerro de 700 reais é barato porque acredito que arroba continuamente acima de US$ 50 vai ser uma realidade inexorável ao longo dos próximos 4-5 anos.
A prevista enxurrada de aumento no interesse pela cria vai, evidentemente, promover uma saturação de oferta daqui a uns 5 anos, e o pecuarista de ciclo completo previdente há de se preparar para virar vendedor quando o mercado estiver no auge do espírito “comprador” de fêmeas, aumentando então seu contingente de machos em recria. Mas temos tempo até lá.
Quanto à tecnologia, tenho a testemunhar que a IATF é técnica que aumenta muito a rentabilidade, permitindo contornar o principal gargalo da inseminação artificial em rebanhos de corte, que era a queda na fertilidade aparente.
Fiz um teste em 2008/09 deixando a vacada parida de “mês 10” só no touro, e 200 paridas de “mês 11” com IATF seguida de repasse por touros Nelore. O lote 2 teve maior porcentagem de prenhez, e este aumento foi suficiente para pagar os fármacos. A antecipação da parição e a maior qualidade das crias ficaram “de grátis”. Isso me animou a aumentar a IATF para 1200 vacas e novilhas a partir de novembro.
Lógico que a IATF só deve ser aplicada uma única vez por vaca/ano, sendo seguida de repasse por touros férteis e plenamente adaptados ao ambiente.
Parabéns Miguel pelo artigo,
Os valores dos bezerros realmente estão oscilando em função do abate de matrizes. Este artigo nos mostra o que esta acontecendo e tambem nos direciona para os cálculos, qual é melhor criar ou comprar?
Analisando o gráfico mensal de longo prazo das cotações do bezerro em MS, o pico de abr/2003, por volta de R$400,00 por cabeça só foi ultrapassado em março de 2007. De março de 2007 para julho/2008 houve uma expressiva alta, tendo a cotação máxima atingido R$755,00. Em 2008 em 03 (três) meses as cotações foram de R$520 para R$750. Depois dessa maxima iniciamos um ciclo de baixa que pode durar até 03 anos. Acredito que na próxima safra, com o aumento da oferta, os preços dos bezerros podem recuar até os R$ 550,00 por cabeça.
Ayrton Neiva Jr. Pecuarista. Ribas do Rio Pardo/Camapuã – MS
Mais uma vez a charada foi matada ! PROFISSIONALISMO E TECNOLOGIA JÁ !
Muito bom o artigo, em poucas palavras disse com clareza e simplicidade a realidade em que estamos e nos alerta onde vamos parar !
Parabéns !
Pensei que ninguém, algum dia, fosse comentar sobre o ciclo da cria na pecuária. Muito bom! Comentam que o bezerro está com ótimos preços… “o bate papo de mesa de leilão”. Quem realmente sabe o custo para se produzir um bezerro de 6@? Queria que fosse aos 6 meses com esse peso. Mas será que chegaremos lá? Ou já chegaram a esses patamares e eu estou desenformado? No manejo a campo com suplemtenos a preços razoaveis, é claro. A maioria da realidade comercial. Vejo que a questão produtividade fica mais evidente neste setor aonde as margens são menores, acredito eu, pelos meus custos. Sempre precisando atualizá-los,” vai depender da fertilidade e natalidade”, mais um fator importantíssimo, ou seja, um setor muito técnico, como bem enunciou nosso colega, o Sr. José Eduardo Matta.
Interessante a matéria, que bom que comecemos a diálogar sobre esse assunto, tão necessário na cadeia produtiva da carne. ´Fonte de proteína muito importante´.
Acho que previsões econômicas ainda são difíceis de se analisar, diante da realidade econômica do momento, não arriscaria prever, ainda.
Abraço a todos.
Ao Sr. Rodrigo Rizato, muito bem colocado, direto ao ponto. Tenho interesse em trocar idéias. Parabéns!
Obrigado.
Produzir um bezerro não é facil nem barato e mt demorado, tem que ter uma vaca,ter comida para esta vaca, medicamentos, sal mineral, um bom touro, esperar 9 meses na barriga da vaca e 8 meses para desmamar, portanto leva 17 meses para ter um bezerro de desmama; sem contar os cuidados de pré e pos parto, vacinas, mão de obra;
o bezerro esta muito barato e não compensa mesmo com preço mais alto vender, quem cria deve fazer o ciclo completo.
Os bezerros deveriam ser vendidos por peso, assim poderiamos comprar bezerros de maior qualidade e muito mais pesados, como e feito aqui nos Estados Unidos onde no leilão o preço do kg do bezerro que eh leiloado atingindo maiores valores aqueles de mais qualidade e e objetivo do criador colocar mais peso nos bezerros para obter mais dinheiro e assim diminuindo o tempo de abate do animal.
Excelente , claro e objetivo . Será muito util , inclisive vou iprimir pra reunião pra futuros investimentos no setor . Será muito util
Parabéns !
Arlete
Parabéns pelo artigo.
Realmente estava na hora de falarmos mais de animais de reposição. Muitas vezes fico perdido ao estabelecer um valor para vender nossos bezerros, princpalmente no inicio sa safra quando a especulação é grande. Diversas vezes passei horas procurando cotações de reposição na internet para poder estipular, mas até o Beefpoint as vezes fica meses sem dar estas cotações, e mesmo assim apenas para animais nelore. E cruzamento industrial?
Queremos MAIS COTAÇÕES DE REPOSIÇÃO!!!
Sei que é dificil cotar animais de cruzamento; depende da raça, da região, do comprador, etc….
No início deste ano ja vendemos nossos bezerros de cruzamento (nelore, red angus, limousin, canchim) com média de 205kg aos 8 meses por R$700 livre(Fundersul) á vista para entrega futura no mês seguinte, na região de Três Lagoas, MS. Achei ótimo, mas como sempre pensei que poderia ter pedido mais! Ganância ou estava certo?
Na nossa propriedade estamos em fase final de mudanças para acabar com o ciclo completo ( cria, recria e engorda) para focar apenas em reprodução. Por isto, com a visão do proprietario, não vendemos desmame fêmeas a mais de três anos. Tive invernistas me ligando para saber se estavamos vendendo as fêmeas também e não sabia quanto pedir. Fiz algumas contas e decidi que por menos de R$3.10/kg, com média de 200kg ainda estava barato, mas logico que os compradores acharam que eu estava louco.
Por este valor prefiro segurar e no final do ano tenho mais uma matriz ou mais uma vaca gorda para abater.
Abraços e sorte a todos
Creio firmemente que a relação de troca boi gordo x bezerro restará ainda mais pressionada com o passar de alguns anos e passo a expor os motivos que me levam a pensar dessa forma.
O criador, sabedor de seus custos de produção e da necessidade cada vez mais premente de desmamar animais com qualidade superior, forçosamente passará a deter conhecimentos e valer-se de tecnologias que resultarão em produtos mais pesados e, via de conseqüência, que irão propiciar uma terminação menos custosa, uma vez abreviado em parte o tempo para atingir tal meta.
Inegável, ainda, que os criadores que podem optar pelo ciclo completo deverão aumentar, pois à medida que desmamarem produtos de melhor qualidade, deverão exigir em contrapartida uma remuneração condizente aos animais ofertados; se isso não se verificar, certamente tais animais serão terminados em suas propriedades, uma vez que as fases de recria e engorda tenderão a fundir-se num futuro próximo, com o advento dos bezerros mais pesados e com a gama de tecnologias (gerenciamento, genética, manejo, reprodução e nutrição) postas à disposição dos pecuaristas.
Hoje, em muitas fazendas de cria é uma realidade a adoção de práticas de IA, IATF, creep-feeding, utilização de touros melhoradores, manejo das primíparas visando à reconcepção, diferimento de pastagens, utilização de capineiras e forragens de inverno, dentre outras medidas. Em nossa propriedade adotamos as ferramentas elencadas, associadas a um manejo racional de pastagens, incutindo em nossos funcionários a observância destes métodos e oferecendo cursos de capacitação de mão-de-obra para uma correta aplicação das tecnologias; cada vez mais pecuaristas estão buscando em seus fornecedores, sindicatos e associações soluções para problemas observados no campo e, não raro, parcerias sólidas têm sido firmadas em todos os cantos do Brasil, com resultados amplamente divulgados por empresas, sites (como o Beefpoint) e instituições de ensino. A pecuária está realmente mudando e assim o faz muito rapidamente.
Ora, ante esta situação, se o valor de seus produtos for se consolidando em valores inferiores ao desejado, os criadores cada vez mais irão reter seus melhores animais e colocarão ao mercado os animais de descarte ou considerados improdutivos para os padrões de seus rebanhos, pois estes não se justificam em um plantel (formam na realidade o custo invisível e silencioso da pecuária), mormente em situação de estreitamento de margens no mercado e onde ainda prevalece a bica-corrida, ou seja, toma-se por referência um valor regional, empurra-se “goela abaixo” dos criadores e desconsidera-se por completo o fato de termos no dito bezerro-desmama “tabelado” nos leilões diferenças expressivas de peso se cotejados aos lotes especiais dos criadores, superando muitas vezes duas e até três arrobas. Ou o mercado ruma para a venda por kg de peso-vivo, estratificando-se a produção, ou o invernista irá ressentir-se da falta de bezerros diferenciados futuramente.
Constatação corretissima… Pecuaria exige tecnologia aliada a preocupação com os custos… Hoje tornou-se uma atividade que exige profissionalismo.
Muito boa a sua analise e comentários, parabéns!
No dia a dia eu sempre ouço que a matanças das matrizes foi ou é responsável pelo aumento no preço da desmama, mas ainda hoje acho que tem muito gado sendo produzido no Brasil. Vejam que quando falta gado no PR e SP, muito rápidamente aparece oferta do MS, MG e até MT. Na verdade o preço do gado esta bom para quem produs nas novas fronteiras, a custo mais baixo, ou para quem ao arrepio da lei usa “cama de franfo” para engordar. Para aqules que tem de dar comida boa na seca e gastar para evitar infestação de carrapatos e moscas, e ainda de anualmente ter de gastar com adubo para garantir as pastagens das águas, o preço de R$600,00/700,00 para a desmama(225 Kg) aos 10/12 meses ainda é muito pouco.
Acho que ainda existe muito gado por falta de opção dos proprietários de terra nas regiões onde a agricultura é de altissimo risco, na minha região o arrendamento da terra para cana rende R$1.100,00 / alq. por ano, produzir soja ou milho já ficou provado que da prejuizo, então restou a pecuária que pelos meus cáculos me da cerca de R$1.500,00/ alq. por ano.
Quem sabe com o controle da produção na dita região amazônica vamos ter um pouco menos de oferta e poder ver os preços mais equilibrados, claro que seria necessário a atuação do governo para não permitir o abuso dos supermercados vendendo carne a preços exorbitantes. Pois de nada adianta o produtor apertar seus custos para seguir vendendo machos a R$75,00 /@ e femeas a R$70,00/@ e no varejo matarem nosso produto vendendo carnes cortadas na base de R$30,00 /Kg.
Trabalhar com comodites em mercado livre é assim mesmo, salve-se quem puder!!!
O que podemos perceber é que, com os preços atuais do bezerro está muito dificil para o criador (que fica com todos os encargos e riscos) e terminador, entretanto muito bom para o recriador/atravessador, que é a melhor fase e de menor risco da atividade pecuária. Considerando que hoje o preço do boi não rastreado para pagamento com 30 dias é de R$ 70 e o preço do bezerro comercial com 8 meses de idade, em R$ 650, a taxa de reposição atinge sifras da ordem de 1,92:1, o que é inviável para o invernista. Contudo, o recriador/atravessador compra o bezerro a R$ 650 e vende-o a R$ 800 seis meses depois. Sendo pessimista, lhe confere um investimento da ordem de 5,0% a.m.
Na oportunidade, quero deixar registrado que é oportuno o espaço que estão oferecendo para que possamos desabafar e mostrar o nosso descontentamento com nossos governantes, referente a politica agropecuaria brasileira.
Grato.
Muito bom Miguel. Um grande abraço,
Excelente o trabalho do engenheiro agrônomo Miguel da Rocha Cavalcanti, que valoriza o pecuarista de cria, mostrando o quão difícil é esta ramificação da atividade.
Trabalho com cria há vários anos, e somente recentemente, após 2006, estou conseguindo novamente ter retorno na atividade que vinha com os preços pressionados desde 2001, impossibilitando qualquer investimento no setor.
Sem demérito para o recriador e para o invernista, o criador, hoje tem que ser um técnico, que faça avaliações constantes em seu rebanho, com aparte em lotes de suas vacas prenhas, com verificação diária daquelas que apresentam estado de mojo, para envio aos pastos destinados a maternidade, toques retais devem ser feitos praticamente mensalmente, para descarte das vazias.
Tem que produzir um bezerro acima de 180 quilos, no prazo de pelo menos 6 meses, e conseguir que neste tempo, a mãe deste bezerro esteja prenha novamente, para evitar o seu descarte, selecionando os melhores animais femeas, para permanecerem na fazenda como matrizes, e apartando as mais fracas para desenvolvimento de atividade de recria e engorda, em pastos pré selecionados, para venda ao abatedouro, após atingirem os 360 Kgs.
É uma batalha árdua, e nem sempre bem recompensada Um outro fator para análise, é que o criador sempre vai ter em sua unidade produtiva, vacas descarte para engorda, que sempre resultam em um tempo maior para atingir o peso ideal, pois são animais que já criaram por cinco ou seis vezes, e não irão responder a conversão alimentar de forma eficiente e rápida, produzindo menos carne por quilo de alimento ingerido, além de valerem uma arroba de forma geral em torno de 10% mais barata que o valor da arroba de boi.
Teci esta considerações, para submeter a análise de meus parceiros de atividade, antes de concluirem que o fato de atualmente estar se vendendo um bezerro de 180 quilos por 620,00, preço do momento na região de Batayporã-MS, talvez não seja tão interessante, quando se contrapõe ao período de 3 meses para monta, 9 meses de prenhez e mais 6 a 8 meses para desmame do bezerro, e mais um a 2 meses em média para comercialização e recebimento da receita de sua produção, em conjunto com a venda de suas novilhas e vacas vazias descarte, a preços inferiores a arroba do boi.
Apos 37 anos dedicado a pesquisa cientifica e ensino na pós-graduação, e agora tomando a direção de pequeno produtor com conhecimento tecnico suficiente para implementar tecnologia que a pecuaria requer. Com base no artigo, e nos comentarios que foram sendo relatados sobre o valor dos produtos das crias (machos ou femeas) na bovinocultura de de corte, acreditamos ser interessante acrescentar na discussão, um fato acontecido conosco recentemente. Realizamos, como pioneiro na região, com a colaboração de um medico veterinário, o protocolo de IATF, utilizando semen dos touros Backup, Onassis da Col, Xango da Col, gerando produtos com peso vivo medio, em balança eletronica, para machos 234 kg e para femeas 201 kg, aos 225 dias apos o nascimento. No momento de fazermos a comercialização dos produtos obtivemos os preços de R$ 550,00 para os machos e R$ 400,00 para as femeas. Foi um verdadeiro desastre em termos de comercialização, apos confiarmos e acreditarmos que empregando tecnologia de ponta viabilizar economicamente a fase de cria, com produtos geneticamente com potencial produtivo. É a realizada.
Pesquisador cientifico Dr. Lourenço
MIGUEL PARABENS PELO ARTIGO
Na minha opinião, está cada vez mais dificil chegar verdadeiramente a uma conclusão lógica. Se tomarmos como base os lances ofertados para os bezerros em leilão,não conseguimos ter uma tabela de valores que possa nos ajudar a entender o mercado. Um lote de qualidade mediana, sai até mais caro que um lote de qualidade superior com a mesma era e raça. Não sei se isso ocorre por um descuido de quem está dando os lances. Creio que os animais que são ofertados do meio do leilão em diante, tem presumivelmente o valor mais baixo de venda,isso porque quem tinha que comprar comprou no início, mascarando qualquer raciocínio lógico.
Por outro lado, se vendermos os bezerros de desmama no curral da fazenda,ficamos horas negociando valores,depois vem o prazo de pagamento,depois o frete,depois a comissão do corretor, ficando impossivel ter acesso ao valor correto de um bezerro nelore de boa qualidade, que na maioria das vezes é ridicularizado pelo comprador com a nitida intenção de baixar seu real preço, transformando toda esta operação que seria normal, em uma batalha financeira. O preço do bezerro deveria ser ofertado seguindo-se uma tabela simples, começando pela raça,era e peso,sendo desta forma a maneira mais correta para chegarmos ao verdadeiro valor para venda.
Quando o autor fala em tecnologias inteligentes, em bezerros mais pesados por área e por vaca, a primeira coisa que lembro é o CRUZAMENTO INDUSTRIAL.
Faço ciclo completo e tenho convicção que a melhora da rentabilidade da cria passa pelo CRUZAMENTO INDUSTRIAL, no meu caso Brangus e Angus. O custo de produção de um bezerro cruzado pode , em algumas situações, ser um pouco mais alto, mas seu preço à desmama mais que compensa. O cruzado pesa mais à desmama.
Na minha região (leste de MT) temos observado um aumento na procura do bezerro cruzado, que se reflete no preço do mesmo, tanto nos leilões como nas vendas diretas. Atribuo isso ao maior uso de confinamentos, onde o cruzado mostra todo seu potencial e se paga com folga, ganhando peso mais rapido e proporcionando maior rentabilidade.
Miguel, não poderia deixar de parabeniza-lo, grande e valiosa sua contribuição. Um grande abraço.
bom dia a todos,
Acredito na insegurança do autor, CALCULAR CUSTOS PODE DIMINUIR A PRODUÇÃO DE BEZERROS, certamente esse pensamento que ainda motiva muitos criadadores a permanecer na cria.
Vimos nos graficos que o valor do bezerro vem subindo, mas a arroba tambem veio, a relação de troca quase que permaneceu estavel, mas a margem bruta na reposição atingiu picos, entao mesmo quem comprou bezerros caros teve sua margem bruta razoavel e ate alta, se comparada qdo havia bezerros mais baratos, além do custo, o trabalho, o RISCO, de se engordar ou recriar ser bem menor do que na cria.
Pergunte a quem achou o bezerro caro a 700,00 se ele teria coragem de criá-lo? ele prefere comprar pronto nem que for mais caro ainda.
vamos parabenizar o Dr. Miguel pelo excelente artigo, mas também aos criadores corajosos desse nosso país.
abraços
Parabéns Dr. Miguel produzir um bezerro de boa qualidade e com a precocidade que o mercado exige não fácil e nem barato. No entando, temos que estar sempre voltados para o avanço tecnológico aliado a coragem do pecuarista brasileiro.
Parabéns Dr. Miguel,
por abordar um assunto muito delicado dentro do ciclo pecuário que é a cria! Pois sem essa etapa não se tem as outras. O preço do bezerro a R$700,00 com a @ do boi gordo a R$ 90,00 a @ realmente é muito barato pois vejo um bezerro de R$700,00 pesando 210 Kg ou 7@ deveria no mínimo ter um acrécimo de 30% do valor da @ do boi gordo(devido a taxa de desmama) e valer então R$890,00 que seria o seu preço justo pois a mercadoria bezerro deve ser cotada pelo valor de seu peso, pois só assim quem produz com qualidade utilizando as técnicas modernas de melhoramento genético e que produz um bezerro mais pesado na desmama seria valorizado pelo seu trabalho!
Att: Edson Divino Cardoso da Silva
Parabens pela matéria. Esta matéria mostra muito bem a dificuldade por parte dos criadores de bezerro, que é produzir um número cada vez maior de bezerros com o mesmo número de vacas. Pois como foi reportado na matéria,produzir mais bezerros com o mesmo número de vacas na mesma área não é tarefa fácil.
Excelente artigo Miguel, nos faz refletir sobre o assunto.
Prezado Miguel, Parabéns!
A escolha do tema e a didática exposição ilustram com muita clareza o desafio de manter-se atrativa a atividade da cria bovina no Brasil. No Rio Grande do Sul, por suas particularidades ambientais e culturais, a produção de terneiros de corte se realiza sobre campos naturais (Campanha, Planície Costeira, Campos de Cima da Serra). Nestas pastagens naturais os produtores buscam através do aumento da produção ampliar a receita e reduzir os custos mas sabem que estão expostos a duas grandes variáveis que não controlam, o clima e o preço de venda. Sabem também que para reduzir seus custos, devem fazer coincidir a época de nascimentos com o início do crescimento dos pastos na primavera determinando assim, forte sazonalinade da oferta para os meses do outono, época do desmame da nova safra. Aqui no RS, o terneiro só se valorizou quando a oferta enxugou e o preço do boi estava em alta. Na maioria das oportunidades a relação sempre ficou muito favorável ao invernista. Em anotações que mantenho, verifiquei que a relação de troca boi/terneiro nos últimos anos foi 3,2 em 2005, 2,7 em 2006, 2,3 em 2007, 2,4 em 2008 e 2,9 em 2009, indicando que após breve declínio já ocorreu forte recuperação neste ano. Esta situação revela que a etapa que maior impacto produz em todos os segmentos da cadeia de produção é o elo mais frágil do processo e, normalmente, não dispõe nem da alternativa da retenção do produto para tentar melhorar a remuneração do produto. Penso que medidas de proteção à cria devam ser implementadas sob pena de travar-se qualquer perspectiva de crescimento do rebanho gaúcho. Aqui no RS, certamente teremos uma redução na produção em 2010, conseqüência da forte seca deste último verão, mas este fator isoladamente não garantirá uma melhora na relação de troca e em estímulo para a fase da cria. Acredito que o crédito rural para compra ou retenção de terneiros, oferecido amplamente aos produtores com prazos compatíveis ao retorno dos investimentos, poderia ser uma medida de grande e positiva repercussão para a atividade da cria bovina.
Primeiramente, parabéns pelo artigo, fazendo um breve análise sobre a questão de qual setor da pecuária é mais vantajosa, faço a seguinte indagação, como seria ótimo para nós consultores poder ter uma ferramenta diferenciada na hora de comercializar nossos produtos, pois trabalhamos com o intuito de aumentar a produtividade das fazendas, aumentando o numeros de animais/ha, aumentando o peso da desmama do bezerro, sendo que na hora de vender esses bezerros a maioria dos compradores se pegam apenas na idade do mesmo, não querendo valorizar esse grande diferencial de precocidade.
Sendo por essas e outras entraves na comercialização dos bezerros decidimos junto com os proprietários de fazenda a qual assesoramos a fazer a cria recria e engorda no sistema de semi confinamento, onde estamos tendo um previsão de receita mais vantajosa do que vender as desmamas diferenciadas pelo preço praticado na minha região que gira hoje em torno de R$ 580,00.
É um triste consolo saber que obtive os mesmos resultados do Dr. Lourenço… É tecnicamente viável produzir – a pasto e sal mineral, no Centro-Oeste – bezerros de 240kg aos 225 dias de vida utilizando cuidados básicos de manejo das matrizes prenhes e em lactação. Viável e inútil: as condições de comercialização neutralizam quaisquer resultados zootécnicos e controles de custo.
Lamentavelmente, recria e engorda têm atirado sistematicmente nos próprios pés.
Realmente e muito dificil o ramo da pecuaria no Brasil, as dificuldades cada vez maiores, alem dos canos por parte dos maus pagadores, os custos altos e ficamos a mercer de um mercado injusto. Essa seu artigo Miguel traduz a nossa agonia.
Estou na atividade de cria de bezerros de corte nelore a pasto hà mais de 20 anos, e atualmente calculando o custo da cria nelore, da concepção atè a idade da venda (13 meses para vacas de 2° ciclo de cria), colocando no custo o preço de pastagens(não valor de terras), medicamentos- vacinas-sal mineral 1ª, funcionàrio, touros provados(filhos) ou doses de sêmen e serviços b´´asicos de manutenção, a grosso modo chega-se a um valor de R$498,00 no estado de SP, região sudeste onde se encontra minha atividade.
Em minha fazenda me dedico a atividade de cria somente, meus bezerros são produtos de cruzamento industrial angus x nelore.
Gostaria de reabrir os comentários e saber a opinião dos especialistas desta área, na atualidade, principalmente quanto ao futuro e longevidade da atividade.
A maioria dos comentários é antiga e acredito que hoje a realidade é um pouco diferente.
Desde já agradeço e deixo aqui um forte abraço a todos da cadeia produtiva da carne.