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Preparando o amanhã

É fato que no Brasil não há mentalidade de longo prazo. Na administração pública não existe uma política que prepare o país para as gestões futuras. Das prefeituras até a presidência do país é assim que funciona, pensa-se apenas durante o próprio governo. Por isso não há política consistente, cada um que entra dá um rumo diferente ao país e ficamos num “zigue zague” que não nos leva a lugar algum.

Sendo o país democrático, o governo somos nós mesmos. Não é de se admirar que as ações da iniciativa privada também se esqueçam de pensar no longo prazo. Poucas empresas sabem o que estarão fazendo no futuro.

Pode-se argumentar que não dá para saber, pois tudo muda todo dia. De fato, as mudanças são reais e inevitáveis, porém apenas quem se prepara para elas estará pronto para aproveitá-las.

A tecnologia usada por uma propriedade é baseada nos aconselhamentos de consultores e no levantamento de informações para preparar a produção agrícola. Muitas fazendas acabam demorando a adotar uma tecnologia e quando a adotam já está em prática há algum tempo em outras fazendas. Espera-se pelos resultados em outras propriedades para posteriormente colocá-los em prática.

Apesar desse cuidado, ao copiar a técnica adotada por outro, tem a desagradável surpresa de descobrir que os resultados que ele observou na propriedade do vizinho são diferentes na sua. Quase sempre, o motivo é a não aplicação correta dos conceitos.

Neste momento, perde-se duas vezes, uma pelo abandono de algo que poderia ser bom para a linha de produção do empreendimento, e outra porque a fazenda entrará novamente no círculo de busca tecnologia. Um desperdício de recursos na propriedade, com conseqüente aumento de custos.

Depois acontece a indignação contra o técnico ou vendedor, que ofereceu a conduta técnica frustrada. Observe que o vendedor ou técnico também perdeu, pois deixou de planejar o futuro e garantir vendas ao longo do tempo. Novamente é a cultura brasileira de focar apenas o curto prazo.

Para mudar este comportamento e estar sempre na frente em termos de tecnologia, sem correr o risco de ficar investindo em besteiras, parte dos recursos deve ser destinado a planos pilotos, visando testar as inovações técnicas oferecidas pelo mercado, controlando todas as variáveis, o que possibilitará uma análise completa. Só depois de uma criteriosa avaliação passa-se a integralizar a utilização desta técnica. Com isto, gradualmente o produtor aumentará a tecnologia em uso na fazenda sem risco de perder capital.

Esse conceito não deve ser aplicado apenas às técnicas da moda. Os centros de pesquisa e universidades estão sempre com alguma novidade para ser testada. Mas em todos os casos a experiência deve estar fundamentada numa análise de taxa interna de retorno.

Falar mal dos Estados Unidos dá ibope, principalmente depois da globalização. Porém, os Estados Unidos só chegaram onde estão porque os governantes de 100 e 200 anos atrás planejaram o futuro. Estima-se que grande parte das reservas norte-americanas de petróleo estejam ainda intactas, pois no futuro eles poderão usá-las com maiores benefícios estratégicos. Hoje importam pelo preço vigente, mas no futuro, em tese, essa riqueza mineral-energética será só deles: pensam no futuro, para as próximas gerações, governam também para os americanos de amanhã.

E nossos antigos gestores? Quantos pensaram no futuro? O tamanho da dívida externa brasileira, por exemplo, é reflexo de gastos superiores à capacidade financeira da época e do futuro, um reflexo da mentalidade de curto prazo.

Numa empresa com futuro, o raciocínio funciona da mesma maneira. Deve-se preparar tanto para o curto como para o longo prazo.

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