o diretor-presidente da BRF Brasil Foods, José Antônio do Prado Fay, parecia satisfeito, ontem, ao comentar o acordo fechado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para concretizar a união entre Perdigão e Sadia. "[O resultado] foi bom. A primeira notícia, de que teríamos de desfazer a operação, foi muito negativa. Não achávamos razoável. (...) Mas o acordo acertado mostrou maturidade dos dois lados", afirmou Fay.
Depois de 40 dias de trabalho e várias noites mal-dormidas, o diretor-presidente da BRF Brasil Foods, José Antônio do Prado Fay, parecia satisfeito, ontem, ao comentar o acordo fechado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para concretizar a união entre Perdigão e Sadia.
“[O resultado] foi bom. A primeira notícia, de que teríamos de desfazer a operação, foi muito negativa. Não achávamos razoável. (…) Mas o acordo acertado mostrou maturidade dos dois lados”, afirmou Fay.
O acordo – que prevê a venda de ativos e a suspensão das marcas Perdigão e Batavo em algumas categorias de produtos por um prazo de três a cinco anos – também atendeu às expectativas do Cade, avaliou Fay. “Acomodou as duas partes, pois abre espaço para a concorrência”, comentou.
Fay disse que a venda de ativos da BRF só será realizada no ano que vem. “Este ano isso não vai acontecer”, comentou em entrevista coletiva. O presidente da BRF preferiu não estimar o valor das operações que serão alienadas. Segundo ele, o processo de levantar o valor econômico dos ativos começa agora. Entre os ativos à venda estão marcas, unidades produtivas e oito centros de distribuição.
A suspensão das marcas Perdigão e Batavo também só ocorrerá após a alienação das operações industriais, ou seja, no ano que vem.
O propósito da BRF é vender essas operações como um todo, dado que a integração delas em um único sistema maximiza o valor do negócio. “Para nós só faz sentido vender o todo”, afirmou Fay.
Ele disse ainda que, nos últimos dias, foi abordado por algumas empresas interessadas nessas unidades. “O número de amigos aumentou nos últimos dias”, brincou. Segundo Fay, as operações serão vendidas a quem pagar mais, mesmo que o adquirente seja uma grande concorrente. O executivo disse que “tanto ´players´ nacionais como estrangeiros” podem ter interesse nos ativos.
Os recursos levantados vão reforçar o caixa e poderão ser usados em investimentos no exterior ou no Brasil, afirmou Fay, citando a possibilidade de aportes no mercado de lácteos. Esse segmento do negócio, no qual a BRF usa a marca Batavo, não foi afetado no acordo fechado com o órgão antitruste.
Com base nos resultados do ano passado, o impacto da alienação dos ativos e da suspensão das marcas é estimado em R$ 2,96 bilhões, o que representa 13,1% do faturamento da BRF. “É um remédio suportável para uma empresa como a nossa”, disse Fay. Um montante de R$ 1,726 bilhão se refere à alienação de ativos e R$ 1,241 bilhão à suspensão de marcas.
Ele acredita ser possível recuperar o volume de quase R$ 3 bilhões já no próximo ano, pois o mercado doméstico cresce e existe a possibilidade de deslocar para o exterior os volumes afetados pelas restrições do Cade. “Vamos terminar 2012 muito maiores do que terminaremos 2011”, afirmou.
Fay destacou como um ponto positivo do acordo a possibilidade de a marca Perdigão seguir “firme e ativa” dentro das categorias não afetadas pelo acordo. A empresa passa a se concentrar agora na captura das sinergias decorrentes da união, que, mesmo com as restrições do Cade, seguem estimadas em R$ 500 milhões ao ano a partir de 2012. Agora, será possível integrar as operações que não podiam ser unificadas até o julgamento pelo órgão. O executivo disse também que a empresa deverá acelerar investimentos que estavam represados à espera de uma definição do Cade.
Mercado de ações
No pregão de ontem, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Brasil Foods subiram 9,8%, de longe a maior alta do Índice Bovespa. A negociação com os papéis foi suspensa pela bolsa no início do pregão e retomada após a decisão do Cade. Após um leilão, às 15 horas, as ações chegaram a subir mais de 12%. Os papéis negociaram R$ 325,2 milhões, 5% do volume total da Bovespa ontem.
Para os analistas ouvidos pelo Valor, as ações se valorizaram pela percepção dos investidores de que a disputa com o Cade enfim terminou, e com um final feliz na medida do possível. “A incerteza acabou e agora nasce de uma vez por todas a Brasil Foods”, diz o gerente de renda variável da Modal Asset Management, Eduardo Roche.
Ele lembra que, depois do relator do Cade, Carlos Ragazzo, ter votado contra a fusão entre Sadia e Perdigão, no início de junho, os investidores passaram a duvidar de que o negócio realmente sairia. “O discurso do relator foi extremamente duro e deixou o mercado bastante cético”, diz Roche. “Portanto, uma boa parte dessa alta vem da surpresa positiva que a aprovação causou”, explica.
As ações ON da Brasil Foods fecharam em R$ 28,55, perto do que valiam antes do veto do relator do Cade. Depois do veto, os papéis caíram para a casa dos R$ 24.
Apesar de o Cade ter imposto várias restrições, como a suspensão da marca Perdigão por até cinco anos, dependendo do produto, os investidores também acharam as exigências brandas diante do que poderia ser. “A venda de ativos deve representar 13% da receita e não os 20% que se esperava, isso sem contar que a marca Perdigão não vai deixar de existir, como alguns temiam”, diz Roche.
Além da explicação fundamentalista, a alta das ações da Brasil Foods também tem uma razão técnica. Acreditando que a fusão poderia fracassar, muitos investidores acabaram alugando as ações para vendê-las no mercado. Com a aprovação do negócio pelo Cade, esses investidores correram para recomprar essas ações no mercado e devolvê-las ao dono original.
Um operador pondera, entretanto, que nos próximos dias o mercado pode voltar a fazer contas. É fato que as restrições ficaram mais brandas do que se previa nessa reta final, após a manifestação do relator, em junho. Porém, vieram mais severas do que a empresa sinalizava que poderiam ser no início do ano.
Fornecedores e empregados
O vice-presidente de assuntos corporativos da BRF Brasil Foods, Wilson Mello, disse, após o término da sessão de julgamento da fusão Sadia-Perdigão no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), na qual a operação foi aprovada com assinatura de um Termo de Compromisso de Desempenho (TCD), que os produtores integrados de ambas as companhias não precisam ficar preocupados. “A base da BRF de integrados que serão vendidos para um único concorrente terá seus contratos respeitados e cumpridos com a garantia de que não serão dispensados. Até porque a produção rural é a alma do nosso e do novo negócio” afirmou.
No entanto, as exigências impostas Cade para quem vier a adquirir ativos da BRF-Brasil Foods foram insuficientes para tranquilizar os empregados e criadores integrados de aves e suínos vinculados às unidades que serão vendidas. Para a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS) e para a Federação dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação do Estado (FTIA), os termos da decisão geram “insegurança” nos dois segmentos porque estabelecem compromissos muito brandos para o comprador.
As entidades avaliam que, em tese, a desconcentração do mercado é positiva. Mas, segundo o secretário-geral da FTIA, Valdemir Corrêa, a garantia de manutenção do nível de emprego por seis meses nas unidades vendidas não basta. “E depois, como é que fica?”, indaga ele, que ainda desconfia do compromisso da BRF de “minimizar os impactos decorrentes da mudança de controle” dos ativos. “Se falam em minimizar é porque teremos problemas.”
O presidente da Fetag-RS, Elton Weber, entende que o prazo também vale para a manutenção dos integrados, o que configura uma garantia apenas “temporária” para os criadores. Ele teme que após esse período o futuro comprador reduza o número de criadores vinculados às plantas e reclama que o Cade deveria ter determinado compromissos mais rigorosos. “Quem comprar pagará menos do que pagaria se não houvesse uma decisão do Cade e por isso deveria dar uma contrapartida maior.”
De acordo com informações disponíveis na página da BRF na internet, o Rio Grande do Sul concentra o maior número de unidades industriais da empresa (18 de 60) além de cinco centros de distribuição. O número de funcionários no Estado, conforme a FTIA, chega a 12 mil, sendo que 90% trabalham nos frigoríficos e fábricas de embutidos, empanados e ração em Lajeado, Marau e Serafina Corrêa.
De acordo com Weber, da Fetag-RS, a BRF também detém o maior contingente de integrados do Rio Grande do Sul, com uma participação de cerca de 20% sobre o total de 15 mil criadores do Estado. A segunda maior é a Doux Frangosul, que desde 2009 vem atrasando os pagamentos aos seus 2,2 mil fornecedores gaúchos. “No papel, a Doux paga 20% a mais do que a BRF, mas pelo menos a BRF paga em dia”, diz o dirigente.
Para Losivanio Luiz de Lorenzi, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), os produtores sentiram perdas nos últimos dois anos. “A indústria tomou o que tinha de mais vantajoso nos dois modelos e o produtor integrado perdeu em remuneração.” Para ele, a oficialização da fusão agravará a questão.
Já Valdemar Kovaleski, presidente do Sindicato Patronal dos Criadores de Aves do Estado de Santa Catarina (Sincravesc), vê a fusão com otimismo. Kovaleski avalia como “altamente positiva” a decisão do Cade, pois não interfere na atuação internacional da BRF. Na avaliação do representante sindical, a presença forte de uma marca global vai ajudar a avicultura catarinense, voltada à exportação, a retomar as vendas. No primeiro semestre, a avicultura catarinense reassumiu a liderança nos embarques para o exterior. Segundo dados divulgados pela União Brasileira de Avicultura (Ubabef), o Estado exportou 520,1 mil toneladas, com alta de 9,2%.
O diretor-executivo da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), Ricardo Gouvêa, também vê a decisão com bons olhos: “A fusão está unindo duas empresas que sempre trouxeram um alto grau de desenvolvimento para a avicultura catarinense”. Segundo ele, a preocupação com o direito econômico foi atendida com as medidas do Cade. O diretor também afasta perdas com a venda de ativos no Estado. “As unidades não vão fechar, vão ser vendidas para concorrentes.”
Maior caso da história do Cade
Na sede do Cade, em Brasília, o conselheiro Olavo Zago Chinaglia afirmou ser este “agora o maior caso da história do órgão”.
Na leitura de seu voto, que foi favorável, Chinaglia disse que os casos Kolynos, Ambev (união de Antarctica e Brahma) e Garoto (adquirida pela Nestlé) “foram fantasmas durante o processo” da BRF Brasil Foods.
Na opinião de Chinaglia, o Cade tomou o cuidado “de não repetir erros anteriores, se é que foram erros”. Segundo o conselheiro, o acordo abre espaço para marcas menores crescerem, embora a barreira de entrada seja elevada, “mas não intransponível”.
Na opinião de outro conselheiro, Marcos Paulo Veríssimo, a BRF “é a maior intervenção estrutural” no histórico do órgão regulador da concorrência. Segundo ele, o acordo entre o Cade e a empresa prevê a preservação das exportações, já que enfoca ações para o mercado interno, e proteção ao consumidor.
O único voto contra foi do relator Carlos Ragazzo, que manteve sua posição desfavorável, já manifestada na primeira sessão do Cade sobre a BRF, ocorrida em 8 de junho. Ele iniciou sua fala hoje com críticas ao acordo, afirmando que um dos pontos do TCD, de suspensão da marca Perdigão em vários produtos, poderia gerar concorrência, mas que se trata de “uma decisão heterodoxa; pode ou não dar certo”. Como lembrou o conselheiro Ricardo Machado Ruiz, o primeiro a se pronunciar sobre o caso nesta manhã, o voto de Ragazzo serviu de base para o acordo com a BRF.
Por sua vez, Alessandro Serafin Octaviani ressaltou em seu voto que “a solução só foi possível após nova postura das partes”. A sessão contou ainda com a fala do procurador do Ministério Público Federal Luiz Augusto Santos Lima, sobre que “as soluções buscaram melhor caminho para concorrência”. Na avaliação do MPF, “haverá mais julgamentos como este (da BRF); mas é preciso transparência”.
As informações são do Valor Econômico e da Agência Estado, resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.
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Vejo esta entrada da BRF no setor de bovinos,de forma efetiva,como imprescindível para o Grupo.Indústrias transformadoras precisam deter a produção de matérias primas básicas.
Além do que é uma tendência e necessidade evidente empresas de proteínas tornarem-se cada vez mais,quanto possível,players multi proteínas.
As tendências,de demandas de futuro,de comercio externo e interno também balizam e avalizam esta tendência.
Por outra,o player imediato deles,Marfrig / Seara,também é um grande player em bovinos.Ou seja,a naturalidade para que isso ocorra é enorme,e quase certa.
Apenas eles terão que reestruturarem-se,e entender que boi não tem pena,e que os produtos que dele são derivados necessitam enfoque de gestões industrial,de marketing e comercial diferenciados.
Mas competência não lhes falta.
Saudações,
EVÁNDRO D. SÀMTOS.