O mercado do boi gordo em São Paulo manteve estabilidade nesta quinta-feira, 18 de setembro, em um cenário que revela os desafios enfrentados pelo setor pecuário em 2025. A boa oferta de animais para abate e o consumo interno em ritmo regular levaram os frigoríficos a alongarem suas escalas, reduzindo o ritmo de compras e freando novas valorizações da arroba.
De acordo com levantamento da Scot Consultoria, as principais praças pecuárias do estado, como Araçatuba e Barretos, registraram manutenção nas cotações do boi gordo, da vaca e da novilha. O preço da arroba do boi gordo seguiu em R$ 307 no pagamento a prazo, sem alterações em relação ao dia anterior. Já no mercado externo, a pressão cambial trouxe efeitos imediatos: com a desvalorização do dólar, a arroba do chamado “boi China” recuou R$ 2, chegando a R$ 310, reduzindo as margens de exportadores que dependem fortemente da competitividade cambial.
Esse movimento vem sendo monitorado de perto pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), que já havia identificado maior pressão de frigoríficos sobre os preços dos animais desde a semana anterior. Segundo a instituição, a prática de ajustar valores para baixo e mantê-los estáveis nos dias subsequentes cria um ambiente de retração para os pecuaristas, sobretudo em regiões onde a oferta confinada é mais elevada.
Mato Grosso e São Paulo, grandes polos de confinamento, têm sentido com mais intensidade a baixa procura, enquanto em Mato Grosso do Sul os preços permanecem firmes, sustentados por um equilíbrio momentâneo entre oferta e demanda. No Rio Grande do Sul, outro estado de peso na pecuária, as cotações também seguem estáveis.
As escalas de abate refletem essa heterogeneidade regional. Em São Paulo, estão entre 10 e 16 dias, revelando relativa tranquilidade para os frigoríficos. Já em Mato Grosso do Sul variam entre 8 e 12 dias. Goiás, por sua vez, mostra forte disparidade: em algumas localidades, a escala cobre apenas cinco dias, enquanto em outras se estende até 16. Em estados como Mato Grosso e Minas Gerais, os prazos estão mais alongados, chegando a 21 dias.
O cenário acende alerta não apenas para os produtores, mas também para exportadores e consumidores finais. Com o dólar em queda, a carne bovina brasileira perde parte de sua atratividade no mercado externo, reduzindo o fôlego das exportações. Para os pecuaristas, isso significa margens mais estreitas e maior dependência do consumo interno. Já para o consumidor brasileiro, embora os preços no varejo ainda não tenham sofrido impactos diretos, a tendência é de que a oscilação no atacado possa influenciar o mercado doméstico nos próximos meses.
Especialistas do setor avaliam que o último trimestre do ano será decisivo para a pecuária. A expectativa é de que o aumento da oferta de animais confinados pressione ainda mais os preços, ao mesmo tempo em que a evolução do câmbio e da demanda internacional poderão determinar o rumo das exportações. A proximidade de datas de maior consumo, como as festas de fim de ano, também deve ser um fator de peso no equilíbrio entre oferta e procura.
Enquanto isso, os pecuaristas enfrentam o desafio de manter a competitividade em um ambiente marcado por custos elevados de produção, volatilidade cambial e um mercado cada vez mais sensível a mudanças no cenário internacional. Para muitos, o momento é de cautela, planejamento financeiro rigoroso e busca por alternativas de comercialização que garantam maior segurança em um setor historicamente dependente de variáveis externas.
Fonte: Página1News.