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Prevenção de acidose em dietas com grande quantidade de concentrado – ionóforos

Os antimicrobianos são aditivos bastante utilizados na pecuária de corte alcançando resultados satisfatórios quando adicionados na dieta de bovinos. São moléculas de baixo peso molecular, utilizadas como agentes anti-coccidianos na avicultura, e em ruminantes como “selecionador dos microorganismos ruminais”.

O modo de ação dos antimicrobianos, mais conhecidos como ionóforos, resulta da interferência no fluxo iônico normal através da membrana dos microorganismos para dissipação do gradiente de prótons e cátions. As bactérias gram-positivas são mais afetadas pela ação dos ionóforos por não possuírem a camada de peptídeoglicanas, característica das bactérias gram-negativas. Bactérias gram-positivas produzem menos energia por mol de glicose fermentada, já que realizam somente a fosforilação em nível de substrato, acabando esgotadas energeticamente e com pouca presença no meio na presença de ionóforos. As bactérias gram-negativas possuem a camada de peptídeoglicanas e realizam fosforilação oxidativa, portanto, apesar de sofrerem efeito dos ionóforos, sobrevivem ao meio, passando depois a dominar no ambiente devido ao desaparecimento das gram-positivas e a consequente falta de competição por substrato.

A seleção de microorganismos no rúmen pelo uso de ionóforos, promove algumas alterações em relação à fermentação ruminal:

– aumento da produção de propionato em relação a acetato, e consequentemente aumento da retenção de energia fermentada no rúmen.
– diminuição da perda de energia na formação de gases, principalmente o metano.
– menor produção de amônia e maior escape de proteína da fermentação ruminal.
– Diminuição de distúrbios metabólicos, como acidose e timpanismo, pela menor concentração de ácido lático.
– Dietas com alta quantidade de grãos: diminuição do consumo, mas não do ganho de peso – melhor conversão alimentar
– Dietas com alta quantidade de forragens: não altera o consumo, mas há aumento no ganho de peso

As alterações em relação ao consumo podem ser devido ao mecanismo quimiostático da ingestão. Com o aumento de disponibilidade de energia devido ao uso do ionóforo, em animais com dietas altamente energéticas em que o mecanismo quimiostático já está atuante, um menor consumo vai suprir a mesma quantidade de energia. Já com animais recebendo dietas com maior quantidade de forragem, e portanto, menor densidade energética, o aumento energético não causa redução de consumo. Como há mais energia sendo aproveitada para uma mesma ingestão, o ganho é superior e a conversão alimentar melhorada (Medeiros & Lanna, 1998).

Estudos avaliando a eficácia do uso de ionóforo, encontraram que o seu efeito diferiu devido à qualidade da forragem, sexo, status fisiológico. Os efeitos dos ionóforos sobre o consumo de alimentos, digestibilidade, degradabilidade, parâmetros de fermentação do rúmen e desempenho animal têm sido bastante variáveis, o que, em parte, pode ser explicado pelas diferentes condições experimentais. A tabela 1 mostra os benefícios esperados em relação ao uso de ionóforos em diferentes situações de manejo.

Tabela 1. Efeito esperado do uso de ionóforos em diferentes situações de pastejo.

Os ionóforos são principalmente utilizados em dietas de confinamento, podendo, porém ser utilizados em qualquer tipo de dieta. Em todos os casos há vantagem devido à maior eficiência energética pela utilização do ionóforo, mas em dietas de alto teor de concentrado, os benefícios econômicos podem ser ainda maiores pela diminuição nos casos de acidose e timpanismo.

Existe a possibilidade de adaptação dos microrganismos ruminais aos ionóforos, apesar do fato de ser usado há tantos anos e manter-se efetivo, demonstrar que não há predisposição para isso. O uso generalizado em aplicações de longo prazo pode criar condições para que cepas resistentes das bactérias alvo se desenvolvam, e diminuam a resposta ao ionóforo. Há alguns autores que discutem sobre a vantagem de fazer rotação de aditivos, ionóforos e não ionóforos para maximizar a resposta, porém poucos trabalhos científicos comprovam a eficácia desse manejo.

Tabela 2. Ionóforos liberados no Brasil, níveis recomendados e eficiência esperada para bovinos confinados com altos níveis de concentrado.

Referências Bibliográficas

BAUER, M.L. HEROLD, D.W.; BRITTON, R.A.; STOCK, R.A.; KLOPFENSTEIN, T.J.; YATES, D.A. Efficacy of laidlomycin propionate to reduce ruminal acidosis in cattle, J. Anim. Sci., v. 73, p.3445-3454, 1995.

BOIN, C. Manejo da alimentação, aditivos e anabolizantes para o acabamento de bovinos de corte em confinamento. Bovinocultura de Corte – Fundamentos da exploração racional. FEALQ. Piracicaba. p. 329-345, 1993.

IVES, S.E.; TITGEMEYER, NAGARAJA, T.G.; DEL BARRIO, A.; BINDEL, D.J.; HOLLIS, L.C. Effects of virginiamycin and monensin plus tylosin on ruminal protein metabolism in steers fed corn-based finishing diets with or without wet corn gluten feed. J. Anim. Sci., v. 80, p. 3005-3015, 2002.

MEDEIROS, S.R.; LANNA, D.P.D. USO DE ADITIVOS NA BOVINOCULTURA DE CORTE, Simpósio Goiano de Nutrição Animal. Goiânia, 1998.

TAYLOR, R.E.; FIELD, T.G. Beef Production and Management Decisions. cap. 10, Prentice Hall, New Jersey, 1994.

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