A Direção Geral para a Agricultura da Comissão Européia publicou nos recentes anos uma análise geral das tendências de mercado e fez projeções em médio prazo sobre o fornecimento e a demanda das principais commodities agrícolas. Essa publicação fornece um retrato do provável desenvolvimento dos mercados agrícolas até o ano de 2009, baseado em algumas hipóteses e em informações estatísticas, disponibilizadas em abril de 2002.
Esse material contém 3 partes. A primeira parte está focalizada nas previsões de mercado para o ano de 2009 na União Européia (UE), abrangendo os seguintes produtos: cereais, grãos, arroz, carnes, leite e os principais produtos lácteos. A segunda parte fornece uma descrição sobre as previsões prováveis nos mercados dos países da Europa Central e Oriental, os quais são candidatos a acessão na UE. Finalmente, as previsões de médio e longo prazo para os mercados agrícolas mundiais, baseados em relatórios e previsões estabelecidas por várias organizações e institutos internacionais, são apresentadas na terceira parte.
Parte I – Previsões para os mercados agrícolas da UE
1. Introdução e ambiente macroeconômico
1.1. Introdução
Esta parte sumariza os principais resultados e hipóteses base das projeções de médio prazo para alguns produtos agrícolas chave na UE, no período de 2001 a 2009. Os dados apresentados são resultado final de diferentes métodos (métodos econométricos, análises estatísticas, hipóteses específicas, julgamentos de especialistas, etc.), dependendo dos produtos e das variáveis relacionadas. Eles são baseados em informações estatísticas disponibilizadas no final de abril de 2002.
Sendo assim, essas projeções não têm a intenção de constituir uma previsão do futuro, mas sim, uma descrição do que pode acontecer, levando em conta hipóteses e circunstâncias específicas. As hipóteses mais importantes estão relacionadas com as políticas agrícolas e econômicas, bem como com a evolução da taxa de câmbio dólar/euro. As mais importantes hipóteses relacionadas com as políticas agrícolas e econômicas são:
(1) Com relação à política agrícola, foi considerado que todos os instrumentos políticos e medidas vão operar durante todo o período de 2002 a 2009 sob as regras atuais, ou com alterações já decididas no final de abril de 2002. Partindo desta perspectiva, a implementação da reforma da Política Agrícola Comum (PAC) adotada na Agenda 2000 foi levada em consideração. Em contraste, as implicações da nova lei agrícola dos Estados Unidos, a Farm Bill 2002, não foram incorporadas na presente análise.
(2) A segunda hipótese importante é relacionada ao comércio de produtos agrícolas e, em particular, aos compromissos derivados dos Acordos para a Agricultura da Ronda do Uruguai (URAA). A presente análise considerou que todos os compromissos determinados na URAA relacionados em particular aos acessos a mercados e aos subsídios de exportação serão totalmente respeitados. Sendo assim, os subsídios de exportação não deverão exceder os limites anuais impostos pela URAA, enquanto as importações sob o atual esquema de mínimo acesso deverão ser totalmente incorporadas. Além disso, os compromissos assumidos na URAA não deverão ser alterados no período de 2002 a 2009.
(3) Os acordos comerciais que foram concluídos pela UE, principalmente com os países menos desenvolvidos (Least Developed Countries – LDC) e com os 10 países da Europa Central e Oriental (Central and Eastern European Countries – CEEC), candidatos a entrar na UE até abril de 2002 foram levados em consideração nestas projeções de mercado. Esses acordos se relacionam principalmente com a iniciativa chamada de “Tudo Exceto Armas” (“Everything But Arms” Initiative – EBA), que determina o acesso a mercados a todos os produtos, exceto armas, livre de cotas e tarifas, originários dos LDCs, bem como acordos de “duplo-zero”, feitos em 2000 e 2001, com as 10 CEECs países candidatos.
1.2. O ambiente macroeconômico
De 2000 a 2001, o crescimento econômico médio na UE foi de 1,7%. Apesar da recuperação temporária ocorrida no final de 2000, o crescimento foi mais lento do meio de 2000 até o final de 2001. Isso foi conseqüência principalmente da combinação de choques, incluindo os aumentos dos preços do óleo, a revalorização dos mercados de eqüidade global e da integração entre financeiro e o corporativo com o resto do mundo (IMF, 2002). Conseqüentemente, a natureza deste período crítico foi se tornando cada vez mais similar ao dos Estados Unidos, embora menos excessivo. Apesar do débito deste período de baixa econômica ter sido substancialmente diferente entre os países, a maioria dos Estados Membros apresentou um enfraquecimento nos investimentos e nos inventários, bem como um declínio no crescimento das exportações.
De acordo com previsões econômicas de curto prazo feitas pela Comissão Européia, divulgadas em abril de 2001, uma recuperação gradual está tomando forma na UE, à medida que os negócios e – para uma pequena extensão – a confiança dos consumidores começou aumentar, apesar da produção industrial e das vendas do varejo estarem apresentando queda.
O ambiente internacional poderá dar seu apoio uma vez que há sinais crescentes de que a redução econômica global está se estabilizando em algumas regiões, especialmente nos EUA. O primeiro sinal deverá ser a reconstrução dos inventários e uma contribuição líquida das exportações, enquanto outros fatores – em particular a demanda doméstica e os investimentos – não deverão se fortalecer antes da segunda metade de 2002.
O lento aumento da demanda externa, as incertezas e os riscos de desemprego, bem como o aumento dos preços poderá contribuir reduzindo o fortalecimento da recuperação na primeira metade de 2002. O crescimento deverá ocorrer na segunda metade de 2002, baseado nas últimas reduções nas taxas de juros contra um cenário de um melhor ambiente internacional.
Entretanto, a média de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deverá atingir somente 1,5%, valor abaixo do nível obtido em 2001. Uma recuperação sincronizada na demanda doméstica e externa está projetada para aumentar a expansão econômica em 2003, enquanto o consumo e o comércio estimularão os investimentos futuros.
Melhores previsões no setor de empregos, melhores taxas econômicas para as famílias e uma redução na inflação fornecerão a base para uma expansão sustentável da economia da União Européia. Apesar de uma interrupção temporária no início de 2002, relacionada principalmente ao aumento dos preços dos alimentos e às mudanças nas taxas indiretas em vários Estados Membros, o declínio na inflação deverá retomar sua tendência de queda. O crescimento no índice de preços do PIB deverá atingir 2,1% em 2002, com queda de 2% em 2003.
Tabela 1 – Hipóteses nas variáveis macroeconômicas na União Européia, 1999-2009
Devido à redução econômica cíclica, o déficit orçamentário aumentou substancialmente em 2001 e 2002 em várias economias da UE. Entretanto, a expectativa é que esta deterioração das finanças públicas chegue ao fim em 2003 com a consolidação fiscal que deverá ocorrer na maioria dos Estados Membros e as contas do governo deverão estar próximas ao equilíbrio ou em excesso.
Se o fortalecimento do consumo privado, as pressões do salário e as finanças públicas poderão ser fatores internos capazes de adicionar alguma incerteza sobre esta previsão, os preços do óleo e a persistência da instabilidade econômica nos EUA (referente às baixas taxas econômicas e ao orçamento governamental, com os atuais déficits) permanecem sendo uma fonte de preocupações no mercado externo. Entretanto, se ainda é muito difícil avaliar precisamente o passo e a força da recuperação na UE, a comissão prevê que os riscos deverão ser limitados e melhor balanceados pelos bons fundamentos da economia européia. Neste cenário, o crescimento econômico bem como a inflação na UE deverá permanecer de um modo geral estável em médio prazo em 2,9% e 1,9% ao ano, respectivamente.
O euro permaneceu relativamente fraco com relação ao dólar norte-americano em 2001, sendo comercializado a 0,90 em média. Se vários fatores podem explicar este pronunciado enfraquecimento, esse padrão deverá continuar em curto prazo, com a trading range (limite de transação, ou seja, preços entre o mais elevado e o mais baixo durante um determinado período de tempo) bem abaixo das estimativas de um valor consistente com os fundamentos econômicos.
A previsão é que o euro se fortaleça frente ao dólar em médio prazo, com o impacto dos fatores de curto prazo contribuindo com o enfraquecimento da atual forte depreciação do euro. A taxa de câmbio US$/Euro deverá aumentar de 0,91 em 2002 para 0,95 em 2003, e deverá atingir paridade em 2006.
2. Carne e animais domésticos
2.1. Carne bovina e de vitelo
Nos últimos anos, o mercado de carne bovina e de vitelo da UE vem sendo fortemente influenciado pelas medidas que foram tomadas em resposta à crise gerada pela encefalopatia espongiforme bovina (EEB). No período entre 1996 e 2000, cerca de cinco milhões de animais foram retirados do esquema de abates e cerca de seis milhões de bezerros foram objetos de um esquema emergencial de fornecimento de apoio1 (dos quais 3,5 milhões no sistema do esquema de comercialização precoce).
Desde a segunda crise da EEB, em outubro de 2000, novas medidas foram tomadas para reduzir a crescente distância entre o fornecimento e a demanda e para assegurar as preocupações dos consumidores com relação ao aumento dos padrões de qualidade da carne bovina da UE. A meta era resgatar a confiança dos consumidores na carne bovina enquanto, ao mesmo tempo, reduzia-se a disponibilidade de carne bovina devido à retirada dos animais da cadeia de produção de alimentos. Durante o ano de 2001 e início de 2002, o esquema de “Compra para Destruição” e o esquema de “Compra Especial” retirou e destruiu a carne de cerca de 1,1 milhão de animais2. Além disso, os abates relacionados ao aparecimento de focos de febre aftosa no Reino Unido, na Holanda, na França e na Irlanda preocuparam cerca de 850 mil pecuaristas, essencialmente no Reino Unido3.
Entretanto, mesmo com estas medidas colocadas em prática, a queda dramática no consumo de carne bovina entre novembro de 2000 e fevereiro de 2001 colocou uma forte pressão nos preços, que caíram abaixo dos níveis de intervenção e abaixo até da rede de segurança (por um curto período e somente na Alemanha e na Holanda). Primeiro, os estoques de intervenção cresceram rapidamente, também devido ao critério mais flexível que foi decidido pela compra através da intervenção.
A situação mostrou sinais de recuperação a partir de março de 2001, com o crescimento do consumo, a queda das vendas através do esquema de intervenção e um menor uso do esquema de destruição. Esta tendência continuou pelo resto do ano, sendo que as primeiras estimativas indicam que o consumo de carne bovina em 2001 foi de cerca de 6,7 milhões de toneladas, -7,6% comparado com 2000. Entretanto, esses dados são resultados de uma grande queda no nível de consumo na primeira parte do ano e uma marcada recuperação no segundo semestre. Como resultado disso, os preços da carne bovina continuaram melhorando e atingiram o valor de cerca de 90% do nível de intervenção no final do ano (exceto para carne de bovinos, onde os preços permaneceram baixos por todo o ano de 2001).
A produção de carne bovina e de vitelo no ano de 2001 esteve sujeita a várias perturbações de curto prazo. Primeiro, a carne foi retirada e destruída devido aos esquemas de destruição relacionados à EEB e à febre aftosa (Compra para Destruição, Esquema de Compra Especial4, Esquema dos Animais de Mais de Trinta Meses (OTMS) no Reino Unido, medidas de detenção da febre aftosa e Medidas de Disposição do Bem-Estar Animal no Reino Unido), que totalizaram cerca de 760 mil toneladas de carne bovina.
Além disso, por causa da crise da EEB, os produtores, os operadores e a maioria dos Estados Membros reportaram a presença de um grande número de animais que foram retidos nas fazendas no final de 2000, seguindo a queda nos preços e a forte redução na demanda. Estima-se que este acúmulo de animais inicialmente, com base nas informações disponibilizadas pelos Estados Membros, atingiu marca de um milhão de animais. Entretanto, à medida que o ano 2001 foi passando, foi ficando evidente que o número de animais retidos nas fazendas devido a EEB foi menor do que o esperado (de acordo com as estimativas mais recentes, o tamanho real deste acúmulo foi de menos de 250 mil cabeças, quase inteiramente abatidas na segunda metade de 2001).
Em dezembro de 2001, o censo pecuário deu pequenas evidências de qualquer animal remanescente, sendo que todas as categorias estavam menores do que no censo do ano anterior5. Como conseqüência da grande retirada e da ausência dos grandes acúmulos de animais, a produção de carne bovina e de vitelo para consumo humano em 2001 caiu para 7,26 milhões de toneladas, -1,8% comparado com o baixo nível de 2000. Entretanto, mesmo nesta situação de baixo fornecimento, grandes quantidades de carne bovina foram necessárias para serem estocadas e usadas no futuro: os estoques de intervenção atingiram o volume de cerca de 259 mil toneladas no meio de dezembro de 2001. Desde então, nenhuma compra foi feita. O esquema de Compra Especial, designado a facilitar o mercado de carne bovina de uma situação de superfornecimento, retrocedeu cerca de 165 mil toneladas até o fim de 20016.
Gráfico 1 – Impacto das medidas relacionadas à EEB e à febre aftosa na produção de carne bovina e de vitelo (milhões de toneladas)
A produção líquida deverá aumentar em 2002 e 2003, enquanto a produção de carne bovina deverá retornar às condições mais normais, com aumento dos preços e sem esquema de destruição em vigor a partir de março de 2002 (exceto o OTMS no Reino Unido). Entretanto, o impacto estimado de algumas medidas especiais decididas em junho de 2001 como parte do plano de carne bovina (Council Regulation (CE) No1512/2001 de 23/07/2001) foi levado em consideração. Isso se refere em particular à redução na taxa de densidade dos estoques (de 2 para 1,8 unidades animais por hectare) e algumas medidas temporárias (como uma pequena redução no teto especial de recompensa e as limitações no esquema de suckler cow premium, em 2002 e 2003).
Também foi assumido que o esquema OTMS no Reino Unido será mantido até março de 20047. Isso significa que a partir de 2004, cerca de 200 mil toneladas de carne bovina por ano que foi anteriormente destruída será colocada no mercado a cada ano8. A produção de carne bovina e de vitelo deverá aumentar para 7,7 milhões de toneladas em 2004 e então, declinar levemente nos próximos anos, à medida que o ciclo de produção de carne bovina atinja seu mínimo no ano de 2005/06, de cerca de 7,6 milhões de toneladas. A produção de carne bovina deverá, então, apresentar um leve aumento, atingindo o volume de 7,75 milhões de toneladas, em 2009.
Seguindo a queda do consumo de 5% em 2000, uma redução de 7,6% foi observada no ano de 2001 de forma que o consumo caiu cerca de 12% quando comparado com 1999. Com base na evolução registrada em 1996, a crise da EEB e o mais recente consumo estimado de carne bovina a expectativa é que ocorra uma recuperação mais rápida do que a originalmente estimada e um retorno à tendência de decréscimo de longo prazo já em 2003.
Gráfico 2 – Impacto do medo gerado pela EEB no consumo per capita de carne bovina e de vitelo (em quilos de equivalente em carcaça)
As importações de carne bovina da UE, após o decréscimo registrado em 2001, deverão aumentar para 400 mil toneladas em 2003, e então, continuar crescendo levemente durante o período de médio prazo analisado, o que está de acordo com os recentes acordos de “duplo-zero” com os 10 CEECs9.
Diferentemente da situação de 1996, as exportações de carne bovina foram fortemente influenciadas pela recente crise gerada pela EEB, com um grande número de países impondo embargos unilaterais à carne bovina da UE. Além disso, os focos de febre aftosa no Reino Unido e em outros Estados Membros prejudicaram durante um certo período as exportações de carne e de produtos lácteos da UE. Com a reabertura de alguns mercados chave, notavelmente o mercado da Rússia, as exportações totais de carne bovina rapidamente se recuperaram e atingiram o volume de cerca de 500 mil toneladas em 2001 (incluindo o comércio de animais vivos). As exportações totais estão agora projetadas para se recuperar e atingir o volume de 740 mil toneladas no ano de 2003 e 2004 e então, declinar levemente e se adaptar à situação do fornecimento.
Tabela 2 – Projeções para o mercado de carne bovina e de vitelo na UE, 2000-2009 (em 1000 toneladas equivalente em carcaça)
As hipóteses e projeções expostas acima sugerem que, devido à baixa produção em 2001, a prorrogação assumida do esquema OTMS no Reino Unido até março de 2004, a rápida recuperação no consumo de carnes e o impacto das medidas especiais adotadas em 2000 e 2001, o equilíbrio do mercado de carne bovina da EU provavelmente não irá piorar nos próximos anos. Os estoques de intervenção poderão ser utilizados já em 2003 e não há expectativa de compra no período analisado10. As variações nas exportações deverão ser suficientes para arcar com as subidas e descidas cíclicas da produção.
Gráfico 3 – Projeções para o mercado de carne bovina e de vitelo na UE, 1991-2009 (milhões de toneladas)
A excepcional situação do mercado de carne bovina em 2001 impediu a análise e as projeções e exigiu várias hipóteses críticas. No lado da demanda, baseado na experiência da crise gerada pela EEB em 1996, o consumo de carne bovina deverá se recuperar em mais de 3/4 depois da queda ocorrida nos anos 2000 e 2001. Isso é confirmado pelos dados disponíveis e pelas estimativas dos Estados Membros, mas assume uma contínua e gradual melhora no consumo sem, no entanto, considerar o risco de qualquer outro medo relacionado aos alimentos em médio prazo.
Do lado do fornecimento, com exceção do grande impacto dos esquemas de destruição e das medidas de controle da febre aftosa, deverá ocorrer o fim do OTMS no Reino Unido em março de 2004, com cerca de 200 mil toneladas de carne bovina por ano sendo colocada na cadeia de alimentos a partir de 2004. Do lado das exportações, a previsão é de que as exportações consigam eliminar do mercado os ciclos de altos e baixos na produção. Entretanto, experiência recente mostrou que barreiras unilaterais e, muitas vezes não justificadas, são suficientes para reduzir drasticamente as exportações da UE. Além disso, a dependência da UE do mercado da Rússia expôs as exportações de carne bovina européias a riscos associados com a situação econômica deste país.
2.2. Outras carnes
Carne suína
O mercado de carne suína, assim como todo o setor de animais domésticos da UE, foi afetado por algumas circunstâncias extraordinárias que estão tendo maiores conseqüências em curto prazo e deverão influenciar a evolução do setor em médio prazo.
O novo medo relacionado a EEB surgido no setor de carne bovina europeu, que gerou uma substituição da demanda por esta carne para outros tipos (principalmente carne de aves), beneficiou parcialmente o setor de carne suína e contribuiu com o aumento dos preços neste mercado. Depois de um decréscimo na produção registrado em 2000 (-2,4% comparado com 1999), que seguiu um período de sobre-oferta e de baixos preços, ocorrido em 1998 e 1999, o setor de carne suína foi beneficiado por um período de bons preços e de margens razoáveis e, pelo menos em alguns Estados Membros, começaram a surgir os primeiros sinais de investimentos e de melhoria dos rebanhos.
A recente crise de EEB, assim como ocorrido em 1996, teve um impacto positivo no consumo de carne suína e, então, sustentou os altos níveis dos preços. Entretanto, entre as medidas que foram colocadas em prática imediatamente na UE contra a EEB, a barreira temporária no uso de proteínas animais na alimentação de suínos e aves afetaram levemente os preços das rações animais e as margens dos produtores.
No início de 2001, o surgimento da febre aftosa no Reino Unido e na Irlanda, França e Holanda perturbaram o setor de carne suína da UE. Animais abatidos e destruídos por razões sanitárias nas áreas que faziam contato com as regiões de focos (cerca de 580 mil suínos foram abatidos e destruídos dentro do Esquema de Disposição do Bem-Estar dos Animais Domésticos no Reino Unido) afetaram a produção de carne suína em 2001, a atingiu o volume de cerca de 17,5 milhões de toneladas.
A produção de carne suína deverá aumentar em cerca de 2% em 2002, após os desenvolvimentos positivos dos preços aos produtores e às margens no último ano, e levando em consideração o impacto negativo dos recentes focos esporádicos de Febre Suína Clássica na Espanha, Alemanha, Luxemburgo e França. Entretanto, uma parte deste aumento da produção ocorrerá em 2003, quando a produção deverá atingir o volume de 18,1 milhões de toneladas (+1 % comparado com o ano anterior).
No longo prazo, a expectativa é que ocorra uma certa expansão, mas em taxas mais lentas do que no passado. A produção de carne suína, que deverá ser guiada principalmente pela demanda (interna e externa) é deverá, assim, continuar com seu crescimento, atingindo o volume de 18,7 milhões de toneladas até o final do período analisado.
A queda no consumo per capita de carne bovina, que vem sendo registrada desde novembro de 2000, vem apresentando um impacto positivo no consumo de carne suína (mas claramente menor do que no de carne de aves). Para o ano de 2002, o consumo de carne suína deverá aumentar cerca de 1,5%. Em médio e longo prazo, o consumo de carne suína deverá ser, de forma geral, positivo, uma vez que a carne suína deverá continuar sendo favorecida pelos consumidores, embora claramente menos do que a carne de aves. O consumo per capita deverá aumentar de 43,7 quilos em 2001 para cerca de 45,6 quilos em 2009.
As importações deverão aumentar em médio prazo, seguindo os compromissos de aumento do acesso aos mercados permitidos sob os acordos de duplo zero com os 10 CEECs. Comparadas com o nível relativamente baixo em 2001, devido às restrições às exportações que seguiram o surgimento de febre aftosa na Europa, as exportações deverão ser maiores em 2002 e 2003, devido às grandes disponibilidades domésticas. Entretanto, as exportações deverão se adaptar à situação do fornecimento, e então, contrair-se um pouco em 2004, aumentando levemente em médio prazo, de acordo com a maior produção da EU e do crescimento do mercado internacional.
Carne de aves
Nos últimos anos, o setor de carne de aves vem mostrando um desenvolvimento mais sustentado do que os setores de carne bovina e suína, com uma taxa de crescimento média de cerca de 3,2% entre 1995 e 1998. Entretanto, o ano de 1999 mostrou, pela primeira vez em muitos anos, uma redução na produção de carne de aves (-0,5% comparado com 1998), principalmente devido à redução da produção na França, à crise da Dioxina na Bélgica e ao surgimento da infuenza aviária na Itália. As conseqüências destas crises foram sentidas também em 2000, com uma produção quase estável, comparada com a de 1999.
O novo medo gerado pela EEB no setor de carne bovina que, assim como na crise de 1996, foi traduzido em uma substituição da demanda a outros tipos de carnes, vem beneficiando principalmente o setor de carne de aves (o consumo aumentou 6,8% em 2001, comparado com 2000). A produção de carne de aves foi mais rápida do que a de carne suína em responder a este fato, com um aumento estimado em torno de +3,7% em 2001, comparado com o ano anterior.
No médio e longo prazo, as previsões para a produção de carne de aves são relativamente menos positivas do que no passado. O recente forte aumento nas importações de carne de aves (+407 mil toneladas entre 1999 e 2001) claramente prejudicou o potencial de produção da UE, enquanto a maioria do crescimento do consumo foi satisfeita pela carne de aves importada do Brasil e da Tailândia. Além disso, cada vez mais mercados tradicionais das exportações da UE estão sendo tomados pelos mesmos competidores nos mercados mundiais de carne de aves, limitando as possibilidades de exportação européia.
Os preços mais competitivos com relação às demais carnes e a forte preferência por parte dos consumidores, entretanto, deverão continuar exercendo um papel em favor desta carne. O consumo per capita está projetado para aumentar de 23,7 quilos em 2001 para cerca de 25,2 quilos em 2009. Esta evolução está de acordo com o crescimento de longo prazo no consumo que vem sendo observado no passado. Depois de um forte aumento registrado nos últimos anos, as importações deverão continuar aumentando na UE, mas a um ritmo mais lento, em médio prazo. Este aumento continuado nas importações de carne de aves deverá levar, nos próximos anos, a uma posição onde a UE poderá se tornar um importador líquido de carne de aves.
Carne de ovinos e caprinos
A produção de carne de ovinos e caprinos na UE foi fortemente afetada pela epidemia de febre aftosa (mais de cinco milhões de ovinos foram abatidos e destruídos devido a esta epidemia) e caiu cerca de 9,6% em 2001. No médio e longo prazo, depois de uma prevista recuperação gradual, uma leve tendência de queda em ambos, na produção e no consumo per capita, é esperada. Desde o início de 2002, o setor de ovinos e caprinos é governado por novas regras pelas quais a recompensa era concedida com uma taxa fixa, isto é, sem estar ligada às flutuações de preços no mercado. O primeiro impacto estimado desta reforma indica que, com o atual alto nível dos preços e a previsão de pagamentos diretos, deverá haver um incentivo ao reabastecimento do rebanho de ovinos após a epidemia de febre aftosa.
As importações de ovinos e caprinos deverão aumentar levemente em resposta ao uso um pouco dos compromissos de acesso aos mercados garantidos por outros países, bem como ao possível impacto do aumento das cotas sob o acordo de duplo zero com os 10 CEECs.
2.3. Consumo total de carnes
Comparado com a crise de 1996, que se traduziu em uma estabilidade em curto prazo no consumo total de carnes na UE, o recente surgimento de EEB no continente europeu causou uma marcada redução neste consumo total no ano 2000 (-1,9%). Isso ocorreu devido ao fato de que ambos, suínos e aves, estavam em fase de baixa produção e não estavam preparados para se beneficiar com a queda no consumo de carne bovina.
O consumo total de carnes na UE em 2001 deverá ficar em níveis quase iguais aos de 2000. A queda aguda no consumo de carne bovina e ovina (respectivamente -7,8% e -8,1%) foi quase inteiramente compensada pelo consumo de carne de aves, que, de acordo com as ultimas estatísticas disponíveis, aumentou 6,5% em 2001. O medo gerado pela EEB e os rompimentos dos comércios causados pela febre aftosa também beneficiaram o consumo de carne suína, que aumentou cerca de 0,7% em 2001.
Tabela 3 – Consumo per capita total de carnes na UE, 2000-2009 (kg/pessoa)
O gráfico a seguir mostra a evolução do consumo per capita de carnes na UE no período de 1973-200111 e apresenta projeções de médio prazo até o ano de 2009.
Gráfico 4 – Consumo per capita de carnes na UE, 1973-2009 (kg por pessoa)
Como pode ser visto no gráfico, há uma tendência de longo prazo de grande consumo per capita de carnes que começou a se reduzir no início da década de 1990. O grande aumento no consumo de carnes de 1998 e 1999 e aquele esperado para 2002 parece estar em contradição com o conceito de que o consumo de carne, em geral, está saturado.
As previsões para o consumo total de carnes na UE que estão apresentadas neste documento foram estabelecidas sem a imposição de nenhuma restrição geral e refletem a evolução projetada para os tipos individuais de carnes apresentados acima. De acordo com estas projeções dos setores individuais, o consumo total de carnes na UE deverá aumentar de 88,5 quilos por pessoa em 2001 para cerca de 94 quilos por ano em 2009.
A carne suína, com uma participação de 50%, é de longe a carne preferida dos consumidores da UE, seguida pela carne de aves, que registrou uma participação de cerca de 25%, que ultrapassou o consumo de carne bovina e de vitelo desde 1996. As projeções feitas até o ano de 2009 indicam um firme aumento na participação da carne de aves com um correspondente declínio nos outros tipos de carnes.
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1 – Para uma descrição detalhada sobre a crise de 1996, as medidas introduzidas e o impacto na produção e no consumo, consulte o documento “Prospects for the Agricultural Markets 2000-2007“, de novembro de 2000, feito pela Comissão Européia, em Bruxelas.
2 – O esquema de “Compra para Destruição” foi designado para destruir toda carne oriunda de animais de mais de 30 meses de idade que não tivessem sido testados para EEB. Desta forma, garantia-se que toda carne de animais de mais de 30 meses de idade que eram colocadas na cadeia de alimentos tinha sido testada contra EEB e, ao mesmo tempo, retirava-se uma grande quantidade de carne bovina do mercado. Além disso, isso permitia um período transitório de seis meses para dar a possibilidade de todos os Estados Membros se equiparem para testar todos os animais de mais de 30 meses de idade. O esquema envolveu cerca de 730 mil animais de mais de 30 meses, principalmente na Irlanda e na França, que corresponderam à cerca de 240 mil toneladas de carne bovina. Este esquema foi totalmente substituído pelo esquema de “Compra Especial” que entrou em vigor em abril de 2001 e ficou em funcionamento até o final de março de 2002. Este esquema permitia que os Estados Membros comprassem e estocassem carne bovina oriunda de fêmeas de mais de 30 meses de idade e decidisse mais tarde se destruiria ou se colocaria o animal de volta no mercado, uma vez que a crise tivesse chegado ao final. Cerca de 205 mil toneladas de carne bovina entraram neste esquema (isto é, carne de cerca de 680 mil animais, principalmente vacas). Estima-se que cerca de um terço desta quantidade ainda esteja estocada, o restante sendo destruído imediatamente após o abate (cerca de 15 mil toneladas foram doadas para a Coréia do Norte como auxílio alimentar).
3 – Entre fevereiro e setembro de 2001, um total de 2030 casos de febre aftosa foi registrado no Reino Unido, comparado com 26 casos na Holanda, dois na França e 1 na Irlanda. O impacto da febre aftosa no mercado de carne bovina e carne de vitelo foi relativamente menos severo quando comparado com outros animais (por exemplo, cerca de cinco milhões de ovinos foram sacrificados e destruídos por causa da epidemia de febre aftosa).
4 – Para a parte já destruída, estimam-se cerca de 100 mil toneladas em 2001.
5 – Exceto as novilhas (+1,3% comparado com o ano anterior), como conseqüência de uma medida especial decidida em junho de 2001 como parte do chamado plano dos sete pontos (Council Regulation (CE) No 1512/2001 de 23/07/2001). Isso se relaciona à obrigação de manter um número mínimo de novilhas a fim de beneficiar o esquema chamado de suckler cow premium. Este esquema foi introduzido somente nos anos de 2002 e 2003, com condições especiais no Reino Unido. De acordo com as novas regras, um número mínimo de novilhas retidas precisa ser igual ou pelo menos 15% e no máximo de 40% do número total de animais nos quais este esquema é aplicado. Esta medida foi tomada com o objetivo de reduzir o número de vacas eleitas para a recompensa e então, reduzir o número de bezerros produzidos e, por conseguinte, a produção de carne bovina.
6 – Mais 40 mil toneladas foram compradas durante o prolongamento do esquema no primeiro quarto de 2002. O esquema espirou no final de março de 2002.
7 – Com base na informação disponibilizada no final de abril de 2002, parece que o Governo do Reino Unido não irá solicitar o fim do esquema em 2002 e, então, foi considerado que o esquema continuará por 2003 e até março de 2004.
8 – O esquema OTMS no Reino Unido retirou no mercado um pouco menos que um milhão de animais por ano entre 1998 e 2000, o que corresponde a aproximadamente 250 mil toneladas de carne bovina por ano. A expectativa é que, com a ausência deste esquema e seguindo os baixos preços dos animais de mais de 30 meses de idade, alguns desses animais serão retidos e então, nós presumimos que a remoção do esquema irá aumentar a produção em cerca de 200 mil toneladas por ano.
9 – A retomada das importações da América do Sul e a abertura de novas cotas de importação com nenhuma ou preferencialmente baixas tarifas poderão contribuir com o aumento das importações européias que contam tradicionalmente com países que produzem carne bovina de alta qualidade.
10 – A partir do dia um de julho de 2002 a intervenção foi substituída por um sistema de rede de segurança.
11 – Todos os dados se referem aos 15 países membros da UE. A fim de permitir uma visão de longo prazo, os dados desses 15 países nos antes que antecederam 1995 foram recalculados enquanto foram disponibilizadas as médias balanceadas para os EC9, EC12 e os dados individuais de Áustria, Suécia e Finlândia.
Elaboração: Juliana Santin