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Produção animal em capim-Tanzânia diferido

A sazonalidade de produção de forragem é um fato já bem conhecido de técnicos e produtores. De modo geral, cerca de 80% da produção anual de forragem no Brasil Central ocorre no período das “águas”, quando as condições climáticas (principalmente, temperatura e pluviosidade) são mais favoráveis ao desenvolvimento das plantas.

O planejamento da propriedade, com o objetivo de adequar a oferta à necessidade de forragem, é essencial para se obter sucesso na atividade. Durante a fase de planejamento, o produtor deve determinar a forma de utilização das áreas de produção (adubação, diferimento, conservação de forragem, cana-de-açúcar, etc) a fim de atender a demanda por alimentos do rebanho a ser mantido na propriedade. O diferimento (vedação) do pasto é uma das ferramentas mais simples e de menor custo que podem ser utilizadas neste sentido.

Canto et al. (2002) conduziram um experimento no noroeste do Paraná com o objetivo de avaliar o potencial de produção animal em uma área diferida de capim-Tanzânia. O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso com duas repetições. Foram testadas quatro alturas do pasto: 20, 40, 60 e 80 cm. As áreas foram vedadas de 13/05/1999 a 23/07/1999 e depois pastejadas por novilhos da raça nelore suplementados com sal proteinado (100 g/animal.dia de sal com uréia) durante 58 dias. A área experimental foi implantada em setembro de 1998 e começou a ser manejada nas alturas estudadas em dezembro de 1998.

O ganho de peso vivo observado pelos autores variou de 135 a 195 kg/ha e a taxa de lotação de 1,8 a 3,2 UA/ha (tabela 1), não havendo efeito das alturas testadas sobre estas variáveis. O ganho médio diário por animal reduziu com o aumento da altura do pasto (figura 1), provavelmente devido ao efeito da estrutura das plantas sobre o consumo de forragem e a idade e qualidade da forragem consumida. A digestibilidade “in vitro” média da forragem foi de 58,5%. Os autores concluíram que: o ganho médio diário aumenta com a redução da altura do pasto; não houve correlação entre ganho médio diário e massa de lâminas de folhas verdes, no entanto, houve correlação entre ganho médio diário e ganho de peso acumulado com massa de forragem total e verde; na região Noroeste do Paraná, pastagens de capim-Tanzânia, diferidas após o período reprodutivo, devem ser mantidas em alturas de 40 a 60 cm.

Tabela 1: Ganho de peso vivo e taxa de lotação animal em pastagens diferidas de capim-Tanzânia.


Figura 1: Ganho médio diário de novilhos Nelore em função da altura do pasto de capim-Tanzânia diferido em um período de 58 dias de avaliação.


Comentários dos autores: O diferimento de pastagens é uma ferramenta bastante útil no planejamento de sistemas de produção animal. Como mostra o trabalho de Canto et al (2002), esta tecnologia permite o aumento de lotação e melhor desempenho animal no período de “inverno”. As áreas destinadas ao diferimento devem ser vedadas, de modo geral, no terço final da estação de crescimento o que, na maior parte do Brasil Central, corresponde ao mês de fevereiro. No trabalho de Canto et al. (2002), a vedação do pasto foi feita em maio, pois, na região em que foi desenvolvido, as chuvas são melhor distribuídas (a pluviosidade média observada pelos autores em uma estação meteorológica a cerca de 17 km de distância da área foi de 127; 127; 100; 0; 52,4 mm no meses de maio, junho, julho e agosto, respectivamente). Além disso, a vedação em maio permitiu que o pasto fosse diferido após o período reprodutivo, o que pode trazer benefícios em termos de qualidade e aproveitamento da forragem. Devido ao seu hábito de florescimento, os capins do gênero Panicum (capim-Colonião, capim-Tanzânia, capim-Mombaça, etc) não são os mais adequados para a prática do diferimento. Os perfilhos destes capins, normalmente, florescem no mês de maio, determinado o aumento da relação haste:folha e a redução da qualidade da forragem. Como na maior parte do Brasil Central, o diferimento deve ser feito por volta do mês de fevereiro (antes do período reprodutivo), a qualidade da forragem no momento da utilização (inverno) em áreas de Panicum será muito baixa e as perdas muito elevadas. Desta forma, sempre que possível, no momento do planejamento da propriedade, deve-se dar preferência ao diferimento de outros capins como, por exemplo, daqueles dos gêneros Cynodon e Brachiaria.

Bibliografia

CANTO, M.W.do; CECATO, U.; ALMEIDA JÚNIOR, J. et al. Produção animal no inverno em capim-Tanzânia diferido no outono e manejado em diferentes alturas de pasto. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.31, n.4, p.1624-1633, 2002.

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