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Produção de bovinos: desafio mundial em equilibrar aumento da produtividade com uso de recursos naturais

A demanda mundial por alimentos continuará aquecida nos próximos anos, e a expectativa é que o Brasil se mantenha em posição de destaque nas exportações de produtos do agronegócio. Com o aumento da demanda, é possível manter a produção mundial de bovinos ou aumentar o ritmo e ainda refletir as crescentes preocupações sobre o uso de recursos naturais? Esta foi uma das questões centrais abordadas na 11° Conferência de Ovinos e Bovinos do Agri benchmark, rede global de economistas e especialistas em setores-chave da agropecuária mundial, realizada em junho, em York, na Inglaterra.

A demanda mundial por alimentos continuará aquecida nos próximos anos, e a expectativa é que o Brasil se mantenha em posição de destaque nas exportações de produtos do agronegócio. Com o aumento da demanda, é possível manter a produção mundial de bovinos ou aumentar o ritmo e ainda refletir as crescentes preocupações sobre o uso de recursos naturais? Esta foi uma das questões centrais abordadas na 11° Conferência de Ovinos e Bovinos do Agri benchmark, rede global de economistas e especialistas em setores-chave da agropecuária mundial, realizada em junho, em York, na Inglaterra.

Os pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, que representam o Brasil na conferência desde 2006, indicam que a pecuária de corte no País precisa investir em tecnologias que elevem sua produtividade para se manter em posição de destaque no mundo.

A rede Agri benchmark analisa a rentabilidade da produção agropecuária em 29 países (Figura 1). As pecuárias bovina de corte e suína bem como a soja, o milho, o girassol e o trigo do Brasil são apresentados nesses comparativos com dados do Cepea em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Figura 1: Países-membros do Agri benchmark; Pecuária bovina brasileira é representada por dados do Cepea desde 2006.

Fonte: Agri benchmark

A produção global de carne bovina continua a enfrentar grandes mudanças. A crescente demanda impulsiona os preços e a concorrência por terra com outras culturas valoriza as áreas agricultáveis. Nos últimos dez anos, a diferença de preços e custos entre os países têm se estreitado. Algumas nações da Ásia, Oriente Médio e Norte da África, assim como a Rússia, juntaram-se ao grupo de países com custo e preços elevados, com consequências para a competitividade e fluxos comerciais globais. No Uruguai, onde o custo da terra aumentou sete vezes em dez anos, assim como na Argentina, há um deslocamento da produção de bovinos e ovinos para áreas marginais como consequência da expansão da soja, milho e trigo.

Para aumentar ou manter a produção de ovinos e bovinos, os países produtores precisam se tornar mais produtivos em área, mão de obra e performance animal. Os resultados do Agri benchmark apontam que existem duas principais formas para esse avanço: o aumento da produtividade dos sistemas a pasto, tanto cria quanto recria e engorda e a finalização do gado a pasto em confinamento no período de terminação.

Em muitos países, os aumentos recentes de produção já têm sido impulsionados pelo aumento da produtividade, muitas vezes acompanhados da redução do rebanho. A Nova Zelândia é um exemplo disso, de 1990 a 2013 o rebanho bovino reduziu 19%, mas a produção de carne bovina aumentou 20% – os dados deste ano são estimativas. Os participantes do congresso concordaram que alcançar melhor produtividade e maior produção não é apenas uma questão de tecnologia e pesquisa, mas também de acesso dos produtores à educação e ao conhecimento.

O mundo precisa cada vez mais de alimentos, e a carne, no Brasil, concorre em área com culturas como cana-de-açúcar, soja e milho. Há 10 anos, o pecuarista brasileiro não tinha essa limitação nas fronteiras agrícolas e a terra era mais barata. Na conferência, observou-se que a diferença entre os países com custos mais baixos e mais altos está diminuindo, reduzindo a vantagem do Brasil. Apesar disso, em valores reais o País continua muito competitivo. Em 2012, o custo para se produzir 100 kg de carcaça na China foi quase três vezes superior ao brasileiro. Na Europa, duas vezes maior e, nos Estados Unidos, uma vez e meia. A médio e longo prazos aumentar a produtividade é muito importante.

Segundo levantamentos do Cepea, em parceria com a CNA, propriedades típicas dos cinco sistemas produtivos da pecuária nacional – cria, cria-recria, recria-engorda, ciclo completo e engorda –, em 13 estados incluídos na pesquisa, a taxa de lotação vai de 0,48 Unidade Animal (UA – 450 kg peso vivo) por hectare (Pará/cria) a 2,98 UA/ha (São Paulo/engorda). Caso as fazendas brasileiras tivessem, em média, 1 UA/ha, o rebanho aumentaria em 28%; se a média chegasse a 1,5 UA/ha, o acréscimo seria de 88% e, no caso de atingir 2 UA/ha, o avanço seria de 149%. Isso sem a necessidade de abertura de novas áreas.

A pecuária de corte brasileira sem dúvida tem apresentando avanços produtivos, mas existe ainda um longo caminho a ser percorrido para se aproximar dos países com melhores taxas. A boa notícia é que com planejamento os desafios propostos podem ser alcançados pelo Brasil. Aumento da produtividade dos sistemas a pasto e finalização do gado em confinamento no período de terminação são práticas cada vez mais adotadas por pecuaristas competitivos. No contexto atual, produzir mais com menos não é mais uma escolha.

Por Sergio de Zen, professor da Esalq/USP e pesquisador do Cepea/Esalq/USP e Mariane Crespolini dos Santos, analista de mercado do Cepea/Esalq/USP.

1 Comment

  1. celso de almeida gaudencio disse:

    A escolha do sistema de produção sempre será como sempre foi da demanda econômica. A prioridade será sempre atender a demanda interna. Aumentar o grau tecnológico com insumos importados e tributados depende inúmeras variáveis a ser consideradas. No presente caso a pecuária em todas as formas deve diminuir de tamanho e não o contrário, diante de restrições sanitárias e ambientais, impondo cotas de exportação para os países autores dessas exigências. Desse modo, deixar o maior espaço possível para agricultura menos vulneráveis ao embate ambiental e analisar depois o que é mais danoso para natureza. No sistema misto lavoura-pasto é a lavoura que tecnicamente leva vantagem sobre a melhoria dos atributos do solo, não é a lavoura e sim o adubo que mais contribui com a pastagem no sistema. Não existe pasto degradado e sim pastagem de baixa produção forrageira sob solo com limitação química. Tudo o mais é lero…