Existe uma crença generalizada que o clima é um empecilho para produção de feno, porém, um dos grandes produtores de feno no mundo é a Inglaterra, que possui clima relativamente "ruim" em termos de insolação e temperatura. Logicamente que há necessidade de uma programação muito mais detalhada, tanto em relação às condições climáticas (dias sem chuva), quanto ao dimensionamento dos equipamentos e das áreas a ser cortadas para obtenção de fenos de boa qualidade.
Introdução
A qualidade do feno, que é uma forragem conservada através da desidratação, reduzindo-se o seu teor de umidade de 65 a 85% para 10 a 15%, através de processos naturais ou não, que visam conservar o seu valor nutritivo (da planta que lhe deu origem), tem sido discutida em inúmeros artigos (O que avaliar para comparar um feno de qualidade, parte 1 e parte 2, O profissionalismo na produção e comercialização de feno; O profissionalismo na comercialização de feno). Entretanto, nos parece interessante avaliar com mais detalhes o processo de produção do feno e seus pontos críticos para que a qualidade desejada possa ser realmente atingida.
O feno possui algumas vantagens interessantes, tais como:
– É tecnicamente versátil, ou seja, tanto grandes quanto pequenos proprietários rurais podem produzi-lo;
– É facilmente transportável (manuseio), principalmente para os fardos retangulares;
– É versátil do ponto de vista de armazenamento;
– Não depende de processos fermentativos, como a silagem;
– É comercializável;
– Não se estraga no fornecimento, pois é um produto estável em contato com o oxigênio (estabilidade aeróbia).
Influência do Clima
Existe uma crença generalizada que o clima é um empecilho para produção de feno, porém, um dos grandes produtores de feno no mundo é a Inglaterra, que possui clima relativamente “ruim” em termos de insolação e temperatura. Logicamente que há necessidade de uma programação muito mais detalhada, tanto em relação às condições climáticas (dias sem chuva), quanto ao dimensionamento dos equipamentos e das áreas a ser cortadas para obtenção de fenos de boa qualidade. Os melhores períodos para fenação são realmente o outono e a primavera, períodos de “meia estação”, porém volto a repetir, é possível produzir feno em qualquer época do ano. Segundo dados da CATI, 50% dos dias de verão são sem chuva.
Tanto a Amazônia, quanto regiões litorâneas ou próximas a barragens (grandes represamentos de água) são inapropriados devido aos altos valores de umidade relativa do ar (UR%). A Tabela 1 mostra a importância da UR% na desidratação do feno. Portanto, uma das ferramentas mais importantes para um produtor de feno é o acompanhamento das previsões de tempo, hoje disponíveis em vários meios de comunicação, inclusive Internet.
Velocidade do vento, temperatura e umidade relativa do ar são parâmetros climáticos importantes para sistemas de produção de feno, havendo inúmeros dias que, mesmo sem chuva, continuam sendo inapropriados para produção de feno. Quanto à secagem artificial, embora reduza a dependência do clima, ainda é considerada, no Brasil, economicamente inviável, devido ao alto custo energético e ao relativo baixo valor nutritivo de nossas forrageiras. Eventualmente pode ser uma alternativa para fenos de alfafa.
Tabela 1 – Porcentagem de umidade relativa do ar e umidade de equilíbrio do feno.
Considerada a rainha das plantas forrageiras devido ao seu alto valor nutritivo, a alfafa não é uma das plantas mais indicadas para o processo de fenação por ser uma leguminosa. Essa família de plantas forrageiras possui uma ligação da folha com o caule muito frágil, o que acarreta grandes perdas de material ao longo do processo de desidratação a campo. Em processos de desidratação artificial ou a sombra essas perdas são minimizadas, porém, aumentam-se consideravelmente os custos de produção, conforme comentário anterior. As gramíneas, ao contrário das leguminosas, possuem folhas com forte ligação ao caule através de bainhas envolventes, o que garante menor possibilidade de perdas se o processo de desidratação for adequadamente conduzido. As plantas mais apropriadas pertencem à espécie Cynodon dactylon, incluindo-se o coast-cross, tifton (68,78 ou 85), grama estrela, etc., porém inúmeras outras podem ser utilizadas para esse fim. Essas plantas são caracterizadas por alta produção de matéria seca, excelente relação haste: folha, alta resistência ao corte, boa velocidade e vigor de rebrota, desidratação rápida, entre outras características desejáveis.
A definição do estágio de maturação adequado para o corte é de fundamental importância para produção de fenos de alta qualidade e boa produtividade por área. Estágios avançados aumentam a quantidade de feno produzido por área, porém, reduzem sua qualidade. Estágios precoces melhoram a qualidade do feno, porém, reduzem a produção total. O que se busca, na maioria das vezes, é um ponto intermediário que propicie boa qualidade (mínimo de 12% PB e máximo de 75% FDN) para o feno produzido, mas que alie boa produtividade e viabilidade econômica para o negócio. O amadurecimento do mercado consumidor pode levar a um aprimoramento do processo, desde que os maiores custos de produção possam ser absorvidos.
O processo de fenação
O processo de fenação pode ser dividido em:
1 Produção forrageira (manejo agrícola);
São itens importantes dessa fase: a escolha da planta forrageira, formação adequada do estande, manutenção da fertilidade do solo, já que a extração de nutrientes é muito elevada, controle de plantas daninhas (inclusive uso adequado do período de carência de herbicidas), identificação do estágio de maturação ideal para corte, previsão climática e planejamento e dimensionamento das áreas de corte.
2 Corte ou ceifa (Figura 1);
O corte pode ser manual ou mecânico, utilizando-se diferentes tipos de equipamentos disponíveis, tais como: alfange, colhedora de forragens, ceifadora / segadora (discos, barra ou tambor), com sistema condicionador ou não.
3 Secagem ou desidratação;
Fase que requer enorme cuidado, pois as perdas podem ser muito elevadas. São utilizados ancinhos afofadores e enleiradores. Pode ser dividida em três etapas: Primeira – água de superfície (fase de fácil desidratação, de 80-85% de umidade para 65%); Segunda – fase de difícil desidratação devido ao fechamento dos estômatos, de 65% para 30% (de umidade) e Terceira – fácil desidratação devido à morte das células, reduzindo-se de 30% para 10 a 15% de umidade.
4 Recolhimento e armazenamento (enfardamento);
O feno produzido pode ser armazenado a granel ou ser enfardado em fardos retangulares ou cilíndricos de diversos tamanhos. O enfardamento é interessante pela facilidade de manuseio e redução drástica do volume. As perdas nessa fase são menores, porém não menos importantes.
5 Fornecimento ou Alimentação;
Fase normalmente ignorada, porém de suma importância, já que as perdas podem ser consideráveis. O valor nutritivo do feno deve ser compatível com o desempenho animal desejado. Podem ser fornecidos íntegros ou picados / moídos.
Comentário do autor: dentro da filosofia que temos adotado, gostaríamos de, mais uma vez, salientar a importância do produtor adquirir tecnologia e possuir uma visão mais ampla do sistema de produção de feno e da inserção deste na propriedade e no agronegócio, seja para produzir e comercializar o feno ou produtos como carne e leite. O processo de fenação depende muito de planejamento, previsão de tempo e dimensionamento de máquinas e áreas, portanto, requer profissionalismo tanto quanto outras atividades, ou mais. O controle de dados eficiente permitirá que a experiência adquirida ao longo dos anos evite a repetição dos mesmos erros, havendo, a cada ano, incremento de produtividade e lucratividade, e que eventuais anos ruins (preços, clima, política, financiamentos, etc.) sejam enfrentados com solidez e elasticidade.
Fonte:
ANDRADE, J. B. Produção de Feno. Nova Odessa: Instituto de Zootecnia, 1999. 34 p. (Boletim Técnico, 44).
LAVEZZO, V. Disciplina de Forragens Conservadas do Curso de Pós-graduação da FMVZ da USP, campus de Pirassununga, SP. 1997.
2 Comments
Muito Bom dia Sr João Demarchi.
Com toda certeza o assunto tratado é de extrema importância e valor.
Estou em busca de informações sobre o processo de fenação da Brachiaria MG 5, temos uma área bem grande cultivada com esta espécie, e estamos buscando maximizar nossa produção por hectare. Estamos estudando um possível investimento para iniciar tal atividade e gostaria de saber se o senhor pode nos ajudar, informando nos melhor sobre essas possibilidades.
Gostaria de saber mais a respeito dos produtores de feno no Brasil, e se possivél mostrar as fazendas produtoras, essa materia serve de exemplo. Parabéns pela materia Dr. João José de Abreu, continue assim que senhor vai longe. Um forte abraço.Jesse Said