Devido a perguntas originadas pelos dois radares anteriores, pretendemos, nesse terceiro artigo, descrever o processo de obtenção de raspa e tentar esclarecer algumas dúvidas.
A utilização de raspas de mandioca deve ser considerada como uma alternativa na alimentação de bovinos, podendo ser utilizada também para outros animais, principalmente devido ao baixo custo e à possibilidade de substituição de ingredientes mais caros da ração. O plantio da mandioca e a produção de raspas tornam-se interessantes por garantir uma fonte de energia através da raiz, subprodutos originários de seu processamento, e também uma fonte de proteína através das folhas, durante períodos de escassez e ou preços elevados de outros ingredientes, como milho e sorgo. Outro fator muito importante em relação à mandioca é a resistência dessa planta a condições adversas do meio ambiente, principalmente má distribuição de chuvas.
A produção de raízes varia entre cultivares utilizados e regiões de plantio, podendo atingir valores acima de 35 toneladas/hectare. Considerando-se teor de 30-40% de matéria seca nas raízes, seria possível obter, dependendo da época, 11-12 toneladas/hectare de raspas de mandioca.
A produção de raspas é feita a partir da raiz integral, inclusive com resíduos de solo (minerais) aderidos à casca. As raspas podem ser obtidas através de picadeiras de capim ou através de máquinas específicas que permitem a obtenção de um produto de melhor qualidade.
Com a utilização de picadeiras de capim, diferentes tamanhos e formatos de partículas são obtidos em função do sistema de corte dessas máquinas, dificultando um processo de secagem uniforme. As raspas processadas nesse sistema vão ter cor escura, devido à fragmentação da casca das raízes e ao resíduo de solo aderido a elas. A capacidade de produção diária vai depender da capacidade da máquina. Após picada, as partículas deverão ser expostas ao sol em terreiros de cimento, onde permanecem por 3 a 4 dias até atingirem 12-13% de umidade. A camada de raspa espalhada no terreiro deverá ter de 3 a 5 cm de espessura, e o material deverá ser revirado 2 vezes ao dia para adiantar o processo de secagem. Camadas grossas irão permitir a fermentação do material, bem como o aparecimento de fungos. Em caso de chuvas, o material deverá ser coberto com lonas, evitando o aumento de umidade. A tabela abaixo mostra a composição química de raspas obtidas com picadeiras de capim.
Tabela 1. Composição química da raspa de mandioca obtida em picadeiras de capim
A produção de raspa utilizando-se de máquinas apropriadas, permite a obtenção de fragmentos de 4 a 5 cm de comprimento, 1 cm de largura e 3 a 4 mm de espessura, proporcionando uma raspa de melhor qualidade. As partículas menores permitem maior exposição ao ar, melhorando o processo de secagem. Nessas máquinas as raízes são colocadas numa moega e levadas ao sistema de corte por gravidade. O sistema de corte é composto por um disco com aberturas onde estão as lâminas de corte. As partículas de raspa cortadas, dependendo do peso e do tamanho (densidade), são arremessadas a distâncias diferentes, sendo possível separar pelo menos dois tipos de raspa, uma de melhor qualidade e outra de qualidade inferior, com maior quantidade de casca e resíduos minerais. O material obtido nesse sistema apresentará uma secagem mais rápida, sendo que, se colocadas em terreiros com uma camada de 3 a 5 cm, estarão secas em 2 a 3 dias. A tabela 2 apresenta a composição química de raspas obtidas com máquinas específicas.
Tabela 2. Composição química de raspas obtidas com máquinas específicas
A polpa é a porção da raiz com maior quantidade de amido, sendo assim, as máquinas específicas produzirão uma raspa com maior quantidade de amido por separar parte das cascas. Porém, os cultivares variam bastante em relação à quantidade de amido, sendo o fator principal na quantidade de amido da raspa.
Armazenagem de raspas de mandioca
As raspas a serem armazenadas deverão ter até 12-13% de umidade, podendo ser ensacadas e armazenadas por até 1 ano em ambiente seco. As raspas não devem ser armazenadas em silos. As raspas poderão ser transformadas em farinha (custo de moagem) para posterior utilização na formulação de rações.
Referências bibliográficas:
CORRÊA, H. Raspa de mandioca em nível de fazenda. Inf. Agropec., v. 13, p. 58-61, Belo Horizonte, 1987.
MARQUES, J.A.; PRADO, I.N.; ZEOULA, L.M.; ALCADE, C.R.; NASCIMENTO, W.G. Avaliação da mandioca e seus resíduos industriais em substituição ao milho no desempenho de novilhas confinadas. Rev. Soc. Bras. Zootec. V. 29 (5), p. 1528-1536, 2000.