A aproximação da data-limite para a implementação da norma que estabelece a obrigatoriedade do rastreamento da carne bovina exportada para a União Européia provoca dois desdobramentos: uma corrida dos produtores para rastrear seus animais e o temor de que as exportações sejam afetadas pela medida.
Segundo determinação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a partir de 15 de julho somente carne de animais que estiverem cadastrados no Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov) há pelo menos 40 dias terão permissão oficial para exportar ao mercado europeu.
No ano passado, o Brasil exportou US$ 493 milhões para a União Européia em carne bovina in natura e industrializada. A cifra representa quase a metade do total das exportações do produto em 2002 (US$ 1,083 bilhão).
Diante do medo da perda desse mercado, dados da Associação das Empresas de Certificação e Rastreabilidade Agropecuária (Acerta) revelam que, desde o anúncio da medida, em 15 de maio deste ano, são rastreadas 30 mil cabeças por dia. No ano passado, a média diária não ultrapassava 10 mil cabeças.
Apesar do aumento do número de animais rastreados, ainda não há consenso no setor a respeito da viabilidade do cumprimento da medida.
“O mais adequado seria fazer a rastreabilidade por fazenda, não por animal. Isso é uma utopia”, disse o presidente da Associação do Novilho Precoce, Constantino Ajimasto Jr.
Um dos motivos para a descrença é que hoje, do total do rebanho bovino brasileiro, cerca de 180 milhões de cabeças, apenas cinco milhões estão cadastrados no sistema. Outro ponto é que o próprio modelo de cadastramento no Sisbov é contestado, já que nem todas as certificadoras informam em tempo real o número de animais cadastrados e abatidos, o que leva à defasagem dos dados.
Mais tempo
Para o presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), Carlo Lovatelli, o Mapa pode ser obrigado a dar mais um tempo para que os criadores brasileiros se adaptem às novas regras. Segundo ele, existe o risco de acontecer com a exigência da rastreabilidade a mesma coisa que vem acontecendo com a exigência de rotulagem em produtos que levem transgênicos: ficar mesmo é no papel até que o setor tenha corrido atrás do prejuízo.
O diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Enio Marques, disse que pode haver uma quebra nas exportações de carne para a União Européia logo após a data-limite para a rastreabilidade, que é 15 de julho. “É possível que isso cause uma lentidão nas exportações”, afirmou.
Segundo o presidente da Acerta, José Luiz Vianna, o custo com o qual o produtor tem que arcar para fazer a rastreabilidade dos animais está estimado em R$ 5 por animal.
De acordo com ele, o mercado de certificação e rastreabilidade pode chegar a movimentar R$ 900 milhões por ano, tendo em vista o tamanho do rebanho nacional. “Em 2007, todo o rebanho (para o mercado interno e externo) terá que ser rastreado”, disse.
Marques também partilha dessa opinião. Para ele, um enorme mercado se abrirá para as empresas certificadoras. Até agora, disse, são 19 empresas autorizadas pelo Sisbov a conceder o certificado de rastreabilidade, “todas grandes empresas brasileiras”, afirmou.
Fonte: Folha de S.Paulo (por Alessandra Milanez e Cíntia Cardoso), adaptado por Equipe BeefPoint