Pecuaristas discutem opção de assumir comercialização de carne já que frigoríficos não remuneram qualidade diferenciada
Assumir a comercialização do produto junto ao mercado varejista, eliminando o principal intermediário do setor, o frigorífico. Este é um dos conselhos que os técnicos da Emater, da Secretaria de Agricultura do Paraná e do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) têm dado aos pecuaristas que querem produzir e fornecer ao consumidor carne de melhor qualidade, além de obterem uma remuneração mais justa para o produto.
O motivo seria a falta de compromisso dos frigoríficos com os programas de qualidade. Segundo os técnicos, a maioria das empresas não valoriza a matéria-prima que recebe, não segue à risca as normas de qualidade e acaba pondo todo o trabalho a perder.
Padrão de qualidade
O pesquisador do Iapar, José Luiz Moletta, observa que, para manter o padrão de qualidade da carne, é preciso seguir uma série de técnicas e cuidados que vão desde a concepção dos bezerros ao acondicionamento da mercadoria nos balcões dos supermercados. Não adianta o pecuarista produzir um animal jovem e de boa linhagem genética, se for transportado ou abatido em condições estressantes, “a liberação de adrenalina vai comprometer a maciez da carne”, explica.
Outro fator importante é o resfriamento adequado. A carne deve permanecer 24 horas na câmara fria para a temperatura interna do produto chegar a um grau. Isto garante a conservação do produto, sem perder a qualidade. Na maioria dos frigoríficos, as condições e a forma de abate ainda são arcaicas. Um exemplo é o uso de marreta ao invés da pistola pneumática no abate. A maioria também não obedece o tempo correto de resfriamento, congelando demais ou de menos o produto.
”Temos batalhado muito para fazer os produtores entenderem a necessidade de se produzir carne com o padrão de qualidade que um número cada vez maior de consumidores exige e de adotarem tecnologias modernas de produção para garantirem a viabilidade econômica das propriedades. Os pecuaristas ainda estão em fase de aprendizado. Já os frigoríficos sabem o que é correto, mas muitos não cumprem”, diz Moletta.
Parcerias
Em seminários e palestras sobre produção de carne de melhor qualidade, os produtores têm sido incentivados a formar parcerias comerciais para fornecer com regularidade carne de alto padrão para comerciantes varejistas.
Todas as fases de produção são controladas pelos próprios produtores e o frigorífico entra apenas como prestador de serviço, sendo obrigado a fazer o abate de acordo com as exigências do cliente. Uma dessas parcerias já funciona na região de Guarapuava. A proposta foi apresentada esta semana aos pecuaristas da região de Umuarama durante um seminário sobre qualidade de carne na Expo-Umuarama 2002.
Desafios e vantagens
Convencer e ensinar os pecuaristas a produzir o novilho precoce e carne de melhor qualidade é um dos grandes desafios da Emater. Segundo o coordenador estadual de pecuária de corte da Emater, o zootecnista Luiz Fernando Brondani, apenas 10% dos quase 100 mil pecuaristas do Estado produzem novilho precoce (prontos para o abate entre 18 e 20 meses) ou superprecoce (12 a 14 meses). Brondani estima que apenas 4% estejam produzindo o superprecoce, apesar das vantagens que o sistema de produção oferece.
Segundo Brondani, enquanto o boi à campo oferece uma rentabilidade média de R$ 80,00 por hectare ao ano, o superprecoce alcança R$ 310 ha/ano. A taxa de desfrute gira em torno de 44%, quase quatro vezes maior que no sistema tradicional, 17%. De acordo com o zootecnista, os entraves e dificuldades são muitos, mas os pecuaristas paranaenses terão de investir em produtividade e qualidade, principalmente os pequenos e médios (com propriedades de até 100 hectares), que representam quase a metade do total. ”Estes correm o risco de não conseguir se manter na atividade”, alerta.
Projeto viabiliza pecuária para pequenos
A Emater tenta expandir a produção de novilho superprecoce no Paraná através do Programa de Curta Duração, lançado há cinco anos. O programa adotou o modelo de produção desenvolvido por um de seus extensionistas, o zootecnista João Carlos Barbi, em Tapejara, na região de Umuarama. Barbi adaptou técnicas de confinamento para pequenos produtores e sugeriu mutirões e condomínios entre propriedades vizinhas para reduzir custos e investimentos.
Os pecuaristas que adotaram o modelo estavam prestes a abandonar a pecuária porque não conseguiam mais pagar nem as despesas básicas das propriedades. Hoje fazem o ciclo completo de produção, dobraram o plantel na mesma área e continuam aumentando o número de animais na medida em que vão reformando as pastagens. A renda operacional líquida desses produtores hoje gira em torno de R$ 390 por hectare/ano.
”Nosso objetivo era, além de viabilizar a pecuária de corte nas pequenas propriedades, torná-la tão rentável quanto as outras duas principais culturas exploradas em Tapejara, a mandioca e a cana-de-açúcar”, disse o zootecnista. Os produtores de mandioca têm uma renda operacional líquida de R$ 370 e os de cana, R$ 220. Aproximadamente 200 pecuaristas do Noroeste do Estado já aderiram à pecuária de curta duração. A região concentra o maior rebanho do Estado, cerca de 1,5 milhão de cabeças.
Fonte: Folha de Londrina (por Vânia Moreira), adaptado por Equipe BeefPoint