O governo está estudando liberar a comercialização de produtos veterinários manipulados. Foi criado um grupo de trabalho para discutir a instrução normativa que vai autorizar a venda destes produtos. A proposta é que até setembro a comercialização esteja regulamentada.
Alguns segmentos de produtores rurais e a indústria veterinária são contra, pois o que está em jogo é um mercado de US$ 550 milhões e a sanidade dos rebanhos de animais para produção que vierem a utilizar estes produtos.
“Vai ser muito difícil controlar a fiscalização destes produtos”, alega o presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte, Sebastião Guedes. Segundo ele, o temor do setor produtivo é de que o uso de produtos manipulados possa deixar resíduos nos alimentos, além de não haver a rastreabilidade desses medicamentos. “Os produtores têm receio por causa da fiscalização e da possibilidade de resíduo”, diz o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira, lembrando o caso da detecção de nitrofurano no frango no ano passado.
O coordenador de produtos veterinários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Ricardo Pamplona, diz que o uso de produtos manipulados é muito freqüente em animais de pequeno porte, por isso a prioridade de governo vai ser na regulamentação da venda para este público. Segundo ele, o grupo de trabalho ainda não chegou a uma conclusão sobre as conseqüências do uso destes produtos em animais de corte como bovinos, aves e suínos. Uma das idéias propostas pelo grupo é fazer uma lista da matéria-prima permitida para a formulação dos medicamentos, de modo a não haver risco de resíduo nos alimentos. Por isso, a manipulação para animais de grande porte deve ser regulamentada posteriormente aos pequenos.
“Ao erradicar doenças e combater outras, cada vez mais nossos clientes vão exigir maiores controles e carnes com menos resíduos”, afirma o presidente do Sindicato Nacional Indústria de produtos para Defesa Agrícola (Sindan), Emílio Salani. Por isso, ele acredita que será preciso uma fiscalização rígida, além da maior consciência do produtor quanto aos prazos para o abate após o uso dos medicamentos. Segundo ele, quanto maior o princípio ativo, mais tempo pode ser preciso para o resguardo do animal. “Ou temos critérios claros para regulamentar ou podemos colocar a produção brasileira sob risco”, avalia.
Salani diz que um dos temores do setor é quanto à fiscalização, pois hoje, apenas 96 de um universo de 460 laboratórios são associados ao sindicato.
“É importante tudo o que vier para baratear os custos. Como tem larga linha de produtos para uso humano, por que não para animais?”, avalia o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), José Adão Braum. Mas ele ressalva que toda essa produção deve ser acompanhada de rigorosa fiscalização do Mapa.
“Nenhum produto é utilizado na avicultura sem que tenhamos informações, pois já tivemos problemas com formulações”, diz Ariel Mendes, diretor-técnico da União Brasileira de Avicultura (UBA). Segundo ele, por causa das exportações há uma série de produtos que não podem ser usados na criação das aves. Mendes diz que é preciso garantia de qualidade, eficiência e que o produto não esteja na lista dos ingredientes vetados pelos consumidores.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Neila Baldi), adaptado por Equipe BeefPoint