Abate de bovinos e aquisição de couro crescem no 1º trimestre de 2025
11 de junho de 2025
Indicador do Boi DATAGRO – Boletim de 11-junho-2025
12 de junho de 2025

Produzir sem desmatar: um compromisso com a Amazônia

Imagem: Roberto Coelho/TEDxAmazônia.Fonte: http://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2025/06/07/pecuaria-especulacao-imobiliaria-pecurista-fazendeiro-desmatamento-amazonia.htm?cmpid=copiaecola

“Sim, eu sou pecuarista. Mas sou ambientalista também.”

Com essa frase, dita durante o TEDxAmazônia, um evento pré-COP30 realizado em Belém, sede da conferência internacional em novembro, Mauro Lúcio resume não apenas sua identidade, mas um chamado — um compromisso pessoal e coletivo com o futuro da Amazônia. Presidente da Associação de Criadores do Pará (Acripará), Mauro é mineiro de nascimento e paraense por convicção. Há mais de quatro décadas, escolheu viver e trabalhar na Amazônia. Lá criou sua família, ergueu seu negócio e construiu uma missão: provar que é possível produzir carne bovina de forma rentável, legal e sustentável, sem desmatamento.

A origem de um problema e a virada de chave

Durante a sua palestra, Mauro traça uma linha do tempo que ajuda a entender como a pecuária chegou a ser associada ao desmatamento da Amazônia. Nos anos 1960, 70 e 80, o governo incentivou a ocupação da região Norte como forma de integrar a Amazônia ao restante do Brasil. O chamado era claro: abrir áreas, produzir, gerar emprego e desenvolver a região. Era o que se conhecia como “frente pioneira”.

Mas a realidade mudou. A partir dos anos 1990, o desmatamento passou a ter outra motivação: a degradação do solo causada por práticas produtivas ineficientes. Era mais barato abrir novas áreas de floresta do que recuperar pastagens antigas. Foi nesse contexto que Mauro Lúcio enfrentou um momento decisivo.

Em 2002, ao olhar para sua fazenda, viu que ela estava em estágio avançado de degradação. Tinha apenas 20% de sua área total aberta e nenhuma viabilidade real dentro do modelo de produção que vinha sendo praticado.

“Ou eu melhorava a pecuária, ou eu deixaria de ser pecuarista”, relembra Mauro.

Guiado pela fé, pela responsabilidade e pelo desejo de fazer diferente, Mauro iniciou um processo profundo de transformação. Buscou conhecimento, apoio técnico e orientação científica. Passou a investir em recuperação de pastagens, aumento da fertilidade do solo, manejo sustentável e uso de tecnologias apropriadas para a realidade amazônica.

A pecuária não precisa desmatar

Mauro é categórico: a pecuária não precisa de novas áreas de floresta. A produtividade das áreas já abertas pode ser multiplicada com conhecimento e manejo adequado.

“O que falta não é terra. O que falta é conhecimento, acesso à tecnologia, políticas públicas e um novo olhar sobre o nosso papel como produtores.”

Ele explica que o modelo de desmatamento por degradação foi predominante até o início dos anos 2000, mas hoje, a maior parte do desmatamento na Amazônia tem outro motivador: a especulação imobiliária rural.

Segundo Mauro, muitas áreas são desmatadas não para produzir, mas para valorizar o preço da terra. “A floresta em pé ainda vale menos que a área aberta. E isso está errado”, afirma.

Além disso, ele denuncia que propriedades abertas ilegalmente continuam sendo vendidas e transferidas com facilidade — algo impensável para um carro com irregularidades, por exemplo. “Se um carro com uma multa não pode ser transferido, como permitimos que uma fazenda fora da legalidade seja?”, questiona.

A floresta como aliada da produção

O projeto de Mauro Lúcio não é apenas de denúncia. É também de proposição e esperança. Ele acredita que a solução está na valorização da floresta em pé, no fortalecimento de um modelo de produção que una preservação e produtividade, e no combate ao que chama de “preguiça institucional” — a ineficiência em aplicar a legislação ambiental que já existe.

Com práticas corretas, a pecuária pode gerar mais resultados econômicos em menos área, reduzindo a pressão por abertura de novas terras. Ao aumentar a produtividade das áreas já abertas, é possível criar uma pecuária mais eficiente, mais lucrativa e, acima de tudo, mais justa — especialmente para os pequenos produtores, que muitas vezes não têm acesso à assistência técnica e informação de qualidade.

“O que enriquece não é a terra desmatada. É o conhecimento. É a tecnologia aplicada com respeito à floresta.”

A mensagem que vem do coração

Mauro Lúcio encerra sua fala com um apelo tocante: “Quando o problema é grande, precisamos de muitas pessoas para resolver. A pecuária pode — e deve — ser parte da solução. Mas isso só é possível se estivermos juntos.”

Ele não se apresenta como um herói ou um visionário solitário. Mas como parte de um esforço coletivo. Uma ponte entre dois mundos que pareciam inconciliáveis: a produção de carne e a preservação da floresta. Mauro acredita que é possível — e necessário — fazer diferente.

E mais: acredita que esse novo modelo de produção pode levar dignidade, renda e qualidade de vida a milhares de famílias que vivem na Amazônia e dependem da terra para sobreviver.

Um Brasil que respeita e cuida da Amazônia

A história de Mauro Lúcio é o retrato de um novo Brasil rural. Um país que aprende com os erros do passado, que reconhece o valor da ciência e do diálogo, e que aposta na conciliação entre produção e conservação. Um país onde pecuaristas também são ambientalistas. Porque amar a terra é cuidar dela.

Fonte: TEDxAmazônia e UOL.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *