Por Ana Rita Araújo Nogueira1, Gilberto Batista de Souza1, Cristina Maria C. Picchi1,Patricia Menezes Santos1 e Marco Antonio Alvares Balsalobre2
Conhecer a qualidade dos alimentos é essencial para a formulação adequada da dieta dos animais. Para isso, o técnico ou produtor pode utilizar dados médios encontrados em tabelas ou enviar amostras dos alimentos para laboratórios de análise bromatológica. A elaboração de tabelas de qualidade dos alimentos, por sua vez, depende da sistematização dos resultados de análise bromatológica de um grande número de amostras.
Durante o III Encontro Nacional Sobre Métodos dos Laboratórios da Embrapa – MET, que ocorreu em 1997 na Embrapa Pecuária Sudeste, o grupo de discussão sobre Nutrição Animal, se conscientizando da necessidade de haver maior controle de qualidade e precisão dos dados analíticos gerados por laboratórios que executam análises de alimentos, estruturou e operacionalizou o Programa Colaborativo Interlaboratorial (PCI).
No primeiro ano o PCI contou com quatorze membros participantes e contemplou as seguintes determinações: matéria seca (MS); digestibilidade “in vitro” da matéria seca (DIV-MS); extrato etéreo (EE); proteína bruta (PB), fibra em detergente ácido (FDA) e fibra em detergente neutro (FDN). Tais determinações não estavam incluídas em outros Programas ou Ensaios de Proficiência no Brasil. Durante os 4 primeiros anos, a coordenação ficou centralizada na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, MS e, desde então vem sendo coordenada pela Embrapa Pecuária Sudeste.
Atualmente em sua 7ª edição, a estrutura e normatização do programa seguem protocolo internacional harmonizado para ensaio de proficiência em laboratórios analíticos e conta com a participação de 36 laboratórios, sendo 16 unidades da Embrapa, 14 instituições de ensino superior e 6 instituições de pesquisa estaduais, com representantes de todas as regiões brasileiras.
De forma geral, os materiais de ensaio distribuídos no programa são similares quanto ao tipo dos materiais rotineiramente analisados (volumosos, concentrados e mistura mineral) e são avaliados os resultados referentes às seguintes determinações: matéria seca (MS), digestibilidade “in vitro” da matéria seca (DIV-MS), fibra em detergente ácido (FDA), fibra em detergente neutro (FDN), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), lignina e cinzas, além de Ca, P, Mg, K, Cu, Fe, Mn, S, Na e Zn. A produção de amostras de referência certificadas também está prevista por este programa de laboratório, com vista à exatidão e precisão dos resultados analíticos.
São distribuídas 16 amostras para cada participante durante o ano, sendo quatro a cada trimestre. O envio dos resultados para a Coordenação é realizado via internet (www.cppse.embrapa.br), com o acesso controlado por senha. Nessa área restrita, o responsável pelo laboratório digita os resultados obtidos em sua determinação e pode, depois de fechado o lote, consultar seu desempenho nas avaliações estatísticas. A adoção desse sistema quase totalmente informatizado, implica em menor manuseio de dados pela Coordenação, redução de riscos de erros de digitação e maior confiança nos dados informados, já que o campo da página estipula quais resultados devem ser apresentados em duplicata e quais as unidades de representação dos dados. A agilidade também é garantida, pois o envio de dados por correio pode atrasar o fechamento da avaliação. Desde 2003 o programa é divulgado pela página do INMETRO (www.inmetro.gov.br)
Para o próximo ano, conforme acordado durante o IX MET organizado pela Embrapa Agrobiologia em novembro/2004, serão inseridos ensaios relacionados às determinações das frações de nitrogênio, em função do aumento da demanda por esse tipo de análise. Com o objetivo de adequação do programa às normas da ISO-IEC 43, o PCI passará a ser denominado “Ensaio de Proficiência para Laboratórios de Nutrição Animal” e a coordenação continuará sob responsabilidade da Embrapa Pecuária Sudeste.
Entre seus objetivos estão a redução da variabilidade entre os resultados fornecidos por diferentes laboratórios, assegurando a uniformidade e comparabilidade das medições, gerando maior confiança dos analistas no fornecimento dos resultados aos clientes dos laboratórios.
A importância de um programa deste tipo para um laboratório de análises é fundamental, pois auxilia na validação e interpretação dos resultados quanto à repetibilidade e a reprodutibilidade, conferindo confiança e credibilidade. Permite também a comparação de resultados entre instituições semelhantes, favorecendo a redução do coeficiente de variação entre laboratórios para uma mesma análise química. A repetição de amostras aleatoriamente ao longo do ano, dá condições de monitorar esses dois fatores, pois possibilita o acompanhamento do desempenho do laboratório ao longo do ano. Todas as instituições participantes se beneficiam da qualidade dos resultados gerados.
A produção no campo, a nutrição do rebanho e a tomada de decisão na agropecuária são altamente dependentes das informações fornecidas pelos laboratórios. Novos métodos de análise, aprimoramento de outros e inserção de novas tecnologias na rotina também podem nascer de um trabalho conjunto, da troca de informações e do trabalho em equipe, como esse que aqui é apresentado.
Comentário: Os resultados de análise laboratorial são uma ferramenta importante para a tomada de decisão nos mais diversos sistemas de produção e erros nos seus resultados podem determinar grandes prejuízos para o produtor. Dessa forma, é importante que técnicos e produtores enviem suas amostras para laboratórios confiáveis e que façam parte de programas de controle de qualidade. Os ensaios de proficiência para laboratórios de solos (ex: IAC, Embrapa) já são bem conhecidos pelos técnicos e produtores. O Programa Colaborativo Interlaboratorial, que envolve laboratórios de análise bromatológica, veio suprir a necessidade de maior controle nas análises dos alimentos utilizados para nutrição animal. Agora, técnicos e produtores também podem optar por laboratórios de nutrição animal que façam parte de um programa sério de controle de qualidade.
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1 Embrapa Pecuária Sudeste
2Bellman e B&N consultoria