Síntese Agropecuária BM&F – 13/11/03
13 de novembro de 2003
Consultoria em grupo
17 de novembro de 2003

Programa procana

Introdução

O programa de Cana do Instituto Agronômico de Campinas começou a ser reestruturado, entre 1990 e 1992, pelos pesquisadores Peri Figueiredo e Marcos Landell. As ações foram organizadas com ênfase no melhoramento genético. Em 1992, os pesquisadores formaram um grupo fitotécnico, que reunia representantes de usinas sucroalcooleiras para discutir temas relacionados a área de produção.

Aos poucos os pesquisadores começaram a perceber reais necessidades do setor, e foram ampliando a relação com os usineiros e também com outras áreas de pesquisa do próprio Instituto. Com o estímulo da cadeia produtiva foi criado, em 1994, um novo programa, ainda mais amplo, para a cana-de-açúcar, que encontrou na Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola, a FUNDAG, uma parceria para realizar a captação de recursos financeiros, que segundo Landell, foi a forma de viabilizar o novo programa da cana.

Atualmente, o PROCANA, como é denominado, conta com oito pesquisadores, três agrônomos e cinco técnicos agrícolas, que estão distribuídos nas estações experimentais das regiões de Piracicaba, Ribeirão Preto e Jaú. Através desta parceria com a FUNDAG está sendo possível manter contratos com 37 empresas que estão envolvidas no processo de desenvolvimento e seleção de novos cultivares que possam trazer ganhos para a atividade. Esta participação do setor privado no financiamento de pesquisa representa a principal fonte de recursos para os trabalhos que são desenvolvidos no PROCANA.

A principal meta do programa é o melhoramento genético visando cultivares mais produtivas, com maior riqueza em açúcar e com características que ofereçam vantagens econômicas. Outros estudos, como adubação, climatologia e fitopatologia também fazem parte do programa. Com o PROCANA novos serviços estão sendo gerados e oferecidos as usinas, como o AMBICANA, que possibilita a caracterização dos ambientes de produção. Livro e CD apresentam a interação dos solos com o manejo das diferentes variedades de cana-de-açúcar; e o SANICANA, que ensina os produtores a controlar corretamente as pragas e os nematóides que atacam a cultura.

Novas Variedades

Em 1997, o PROCANA lançou quatro novas variedades de cana-de-açúcar, duas delas ganharam maior destaque entre os produtores do Estado de São Paulo e já estão sendo plantadas. A IAC 87-3396 foi a mais aceita pelos agricultores por ser mais rústica, bem resistente a seca e a solos de baixa fertilidade e oferecer um alto teor de sacarose e uma alta produtividade. Segundo Landell estima-se que o cultivo desta variedade atinja, atualmente, 50 mil hectares no Estado de São Paulo. Segundo Landell o volume ainda é pequeno, mas pelas vantagens que oferece acredita que o cultivo possa evoluir chegando a 200 ou 300 mil hectares.

Outra cultivar que está sendo plantada é a IAC 86-2210, uma planta precoce, com alta produtividade e teor de sacarose, mas que ainda tem o plantio limitado. Esta variedade é mais exigente em relação ao tipo de solo e por isso acaba sendo menos estável, mas não deixa de ser uma ótima opção para os produtores mais capitalizados. Segundo Landell essa variedade pode trazer excelentes resultados, desde que respeitadas as exigências de plantio. A IAC 86-2210 está presente em 10.000 hectares do Estado de São Paulo e a expectativa é que possa chegar a 100 mil hectares. Estima-se que a área cultivada em São Paulo, com todas as variedades lançadas pelo PROCANA, chegue a 80 mil hectares, 2,6% da área plantada no Estado de São Paulo. O índice pode ainda não ser expressivo, segundo Landell, mas há capacidade para se atingir, em 4 ou 5 anos, 20% da área de produção atualmente, o que corresponde à cerca de 800 mil hectares na região Centro-Sul.

O PROCANA em parceria com a FUNDAG também é responsável pelo desenvolvimento da Cana Forrageira, a primeira variedade com essa característica lançada no Brasil. A cana forrageira foi apresentada em 2002. Atualmente cerca de 3.000 produtores e pecuaristas adquiriram a cultivar. As principais características dessa cana são a sua alta qualidade e seu baixo custo de produção em comparação a silagem de milho ou sorgo. A cultivar tem grande capacidade de rebrota, por isso permanece mais tempo no campo. O agricultor ou pecuarista pode manter a lavoura por 6 a 7 anos e só depois renovar a cultura. Considerando que o custo de implantação da cana forrageira é em média de R$ 1.800,00 por hectare, normalmente R$ 150,00 abaixo das variedades industriais, a expectativa é que em 3 anos possa haver uma área plantada de 20 a 40 mil hectares, afirma Landell.

Atualmente o programa PROCANA prepara-se para lançar, pelo menos, mais três variedades. Todas com uma característica em comum, as plantas são bem eretas e de ótima adaptação à colheita mecanizada. A IAC 91-2195 é uma cana bastante precoce e de média a lata exigência em relação ao clima e solo. A cultiva IAC 91-5155 tem um período de colheita mais longo, de maio até outubro, além de ser uma planta rústica. A IAC SP 93-6006 é uma variedade indicada, principalmente, para regiões mais frias, onde existe carência de cultivares adequadas. A planta também é rústica e bem adaptada a solos de baixa fertilidade.

Com esses novos lançamentos, além de apresentar ao setor os resultados do trabalho desenvolvido pelo PROCANA, a intenção é oferecer melhores condições produtivas para o cultivo de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, que é de grande importância para o país, sendo que o Brasil é o maior produtor mundial, sendo que a região Centro-Sul concentra 80% da produção nacional e deve colher, na safra 2003-2004, 287,9 milhões de toneladas, 6,54% acima do volume obtido na temporada passada. De acordo com a União da Agroindústria Sucroalcooleira do Estado de São Paulo, ÚNICA, a produção de açúcar no Centro-Sul deve chegar a 18,1 milhões de toneladas e a de álcool a 12,65 bilhões de litros.

COMENTÁRIO DO AUTOR: Aproveitamos este artigo para salientar a importância da iniciativa privada no financiamento de pesquisa no Brasil. Comparado com outros países, o percentual proveniente desta fonte ainda é muito pequeno, precisando de forma urgente ser incrementado. A parceria entre uma instituição de pesquisa (IAC), uma fundação de apoio sem fins lucrativos (FUNDAG) e diversas empresas do setor privado ligadas ao setor sucroalcooleiro é um exemplo bem sucedido de como pode ser produtivo para ambos os lados, realmente uma parceria. O lançamento de novas cultivares é sempre aguardado com muita ansiedade pelos pecuaristas e agricultores, mas não podemos deixar de salientar que esse processo de multiplicação é lento, portanto é muito difícil a obtenção de grandes quantidades para plantio, sendo necessário a compra de pequena quantidade para ser multiplicada na própria unidade agrícola ou região. Enquanto isso devemos utilizar as variedades existentes na região e fazermos um bom trabalho agrícola no manejo do canavial para que ele seja realmente produtivo, de baixo custo e perpetue durante 6 a 7 anos com eficiência. Fazendo uma analogia, não adianta nada termos uma Ferrari no campo e não dispormos de um bom motorista e de estradas que permitam que esse veículo desenvolva todo o seu potencial de velocidade. Conforme escrevemos em artigo anterior, é importante continuar utilizando as variedades industriais mais produtivas da região e aplicar toda tecnologia disponível, tanto na produção quanto no balanceamento de rações.

Fontes:

INFORMATIVO FUNDAG, 1, agosto de 2003, pg 1-2
LANDELL, M. G. A.; CAMPANA, M. P.; RODRIGUES, A. A.; CRUZ, G. M.; ROSSETO, R.; FIGUEIREDO, P. et al.. A variedade IAC 86-2480 como nova opção de cana-de-açúcar para fins forrageiros: manejo da produção e uso na alimentação animal. Boletim Técnico IAC 193 – Série Tecnologia APTA – Instituto Agronômico (IAC), Campinas, 2002. 36 p.

Os comentários estão encerrados.