Edson Espíndola, do CTC Embrapa Campo Grande, explica que no ano passado foi criado um programa oficial do Governo Federal para a remuneração por qualidade, mas essa remuneração depende de EGF (Empréstimo do Governo Federal) que até agora não foi estabelecido. No próximo dia 24 haverá uma reunião do Fórum Permanente da Cadeia Produtora de Couro e Calçados, em Novo Hambugo, onde este assunto deverá ser novamente abordado, a fim de cobrar providências das autoridades.
Entretanto, o projeto Na Trilha da Bioseguridade, desenvolvido pelo Senar, em parceria com a Embrapa de Campo Grande, mostra os benefícios que o país tem quando investe na qualidade da carcaça e da carne. Aproveitando a penetração desse projeto, que procura atingir cerca de 630 fazendas de médio e pequeno porte, Edson Espíndola sugere que ao mesmo tempo se trabalhe a qualidade do couro. “Queremos usar a educação continuada para mostrar os efeitos e melhorias que o produtor pode ter se investir no manejo adequado do rebanho”. São coisas simples como usar arame liso em vez de arame farpado, quando chegar a hora de reformar ou recolher pedaços de árvores e galhos que possam machucar o couro, além da marcação a ferro nas pernas e na cara do animal e não na parte nobre do couro. O que traria mais custo mesmo para o produtor seria apenas a vermifugação.
Segundo Edson, o maior problema dos produtores rurais é o desestímulo. “Muitas empresas ainda não pagam pelo couro de qualidade e o produtor acaba não se motivando”, diz ele. Robinson Paulisch, assessor do Senar-MS diz que o produtor rural geralmente reclama que não vale a pena investir na produção de um couro com qualidade se o frigorífico não recompensa por um produto melhor. “Mas o que nós temos falado para o produtor é que uma das partes precisa começar, porque o frigorífico também não vai pagar a mais por um couro de baixa qualidade”.
No entanto, alguns curtumes estão dispostos a pagar pelo couro de qualidade. A Braspelco, de Uberlândia-MG, tem desenvolvido um trabalho de parceria com frigoríficos e proprietários rurais que visa o rastreamento do couro e a remuneração direta ao produtor. Segundo Carlos Obregon, diretor técnico da empresa, o ideal é que o animal seja precoce e sem marcas, ou com a marcação prevista pela ABNT e que essa avaliação seja feita com o animal ainda em pé. De acordo com Obregon, a Braspelco paga 8% sobre o valor do couro e 10% quando se trata do boi orgânico do Carrefour, com quem a empresa tem parceria. “É um relacionamento baseado na confiança. O objetivo é que este projeto sirva de referencial para que o pecuarista seja recompensado por aquilo que faz de bem”. “A cadeia precisa perceber que um couro de má qualidade arrecada um ICMS muito baixo e toda a sociedade acaba deixando de ganhar por causa disso. Além do mais, o couro de boa qualidade pode ser exportado, trazendo divisas para o país”, afirma Robinson Paulisch.
Fonte: Thais de Alckmin Lisbôa, para o BeefPoint