Execução e o Sisbov
25 de agosto de 2005
Brasil: a vitrine da sanidade mundial
29 de agosto de 2005

Projeções para o mercado mundial de carne bovina: 2005-2012

As projeções de mercado para os principais produtos agrícolas nos 25 países que fazem parte da União Européia (UE) foram estabelecidas sob uma série de suposições específicas. De acordo com o relatório “Prospects for Agricultural Markets and Income 2005 – 2012” divulgado em julho de 2005 pela Comissão Européia, haverá uma recuperação gradual no crescimento econômico no bloco europeu e um fortalecimento do dólar norte-americano em médio prazo.

Os mercados mundiais de commodities agrícolas deverão mostrar uma crescente demanda e comércio. As políticas comerciais deverão ser governadas pelo Acordo para Agricultura da Rodada do Uruguai e nenhum acordo bilateral foi considerado. Assumiu-se no relatório que todos os compromissos comerciais serão cumpridos.

Especificamente com relação ao setor de carnes, este deverá voltar a uma situação mais normal na UE após extremas condições de mercado nos últimos anos, quando foi atingido pela segunda onda de medo pela Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), ou doença da ‘vaca louca’, e pelo surto de febre aftosa em 2001 e gripe de frango em 2003.

O consumo de carne bovina e de vitelo na UE-25 se recuperou rapidamente após a crise da EEB e foi maior que a produção em 2003 pela primeira vez em 20 anos. Esta deverá se manter durante o período analisado à medida que a produção deverá decrescer para cerca de 7,6 milhões de toneladas até 2012, de acordo com a redução estrutural do rebanho leiteiro e com o impacto da introdução do pagamento único para fazendas. Uma menor oferta doméstica e uma firme demanda deverão manter os preços da carne bovina a níveis relativamente altos, atraindo mais importações com tarifas totais, especialmente da América do Sul.

O consumo geral de carnes deverá aumentar de 87,4 quilos por pessoa em 2004 para cerca de 89 quilos até o ano de 2012. O consumo de carne suína, que representa cerca de 50% do consumo total de carnes na UE, é, de longe, o preferido entre os consumidores europeus, seguido pela carne de aves, que tem uma participação de cerca de 27%, ultrapassando a carne bovina e de vitelo desde 1996.

As estimativas de rendimentos foram compiladas com base nessas projeções de mercado e nas perspectivas financeiras para a UE durante o período de 2005-2012. Essas projeções de rendimento de médio prazo revelam um panorama especialmente favorável à medida que o rendimento agrícola na UE-25 crescerá em 11,7% entre 2004 e 2012 em termos reais e por unidade de trabalho.

Este ganho irá, entretanto, mascarar as diferenças entre os 15 países que já eram membros da UE antes da ampliação do bloco e os 10 novos membros. Enquanto o rendimento agrícola na UE-15 mostrará um desenvolvimento modesto com um crescimento de 4% durante o período de 2004-2012, a previsão é de uma tendência mais pronunciada e positiva nos novos Estados Membros onde este aumentará firmemente em 50,4% durante o período projetado (quando comparado com o ano de 2003, ou seja, antes do aumento do bloco, o rendimento agrícola por unidade de trabalho nos novos Estados Membros aumentará em 137%).

Além dos desenvolvimentos geralmente positivos de preços, este crescimento no rendimento será apoiado pela implementação da Política Agrícola Comum (PAC), a integração em um único mercado e mais significante pelo severo aumento nos subsídios concedidos aos produtores agrícolas nos novos Estados Membros (na forma de pagamentos diretos e fundos de desenvolvimento rural que tem o objetivo de facilitar e promover a reestruturação e modernização do setor agrícola e das áreas rurais).

Mercados Agrícolas Mundiais

Os desenvolvimentos em curto prazo dos mercados agrícolas mundiais têm sido recentemente marcados pelas amplas flutuações de preços de 2003 e 2004. Em médio prazo, os mercados mundiais agrícolas deverão ser essencialmente apoiados pelo aumento na demanda por alimentos direcionada por uma melhoria no ambiente macro-econômico, maior população, urbanização e mudanças nos padrões dietéticos.

Os mercados de carnes, que atualmente estão alterados pelas restrições comerciais após doenças animais (especialmente gripe do frango no sudeste da Ásia e EEB na América do Norte) deverão ser caracterizados por uma expansão na produção, consumo e comércio, com os preços mundiais de carnes mostrando um fortalecimento moderado. As projeções para aumento na demanda por carnes vão surgir principalmente de ambientes macro-econômicos favoráveis de crescimento sustentado do rendimento, especialmente na Ásia e na América Latina.

O comércio mundial de carnes aumentará e os preços permanecerão firmes em médio prazo, à medida que se espera um crescente consumo em países que são importadores líquidos com possibilidades limitadas de proporcionalmente e competitivamente aumentar a oferta doméstica (em quantidade e qualidade).

Os preços no mercado mundial de carnes deverão reduzir um pouco após um grande aumento relacionado à ausência de importantes exportadores nos mercados mundiais devido a doenças animais (EUA e Canadá no mercado de carne bovina e Tailândia no de carne de aves).

Previsões para os mercados agrícolas da UE

Esta parte do relatório sumariza os principais resultados e suposições das projeções de médio prazo para os mercados de alguns produtos agrícolas e para o rendimento do setor na UE para o período de 2005-2012.

Os resultados apresentados são baseados em dados e outras informações disponíveis no final de maio de 2005 e constituem uma atualização das projeções de médio prazo publicadas em dezembro de 2004. Em particular, as projeções levam em consideração desenvolvimentos de curto prazo previstos para 2005 nos mercados domésticos e mundiais.

Essas projeções foram estabelecidas sob uma série de suposições específicas, sendo que as mais importantes envolvem políticas agrícolas e comerciais, bem como previsões para o ambiente macro-econômico e para os mercados mundiais de commodities agrícolas.

Setor de carnes

Carne bovina e de vitelo

O mercado da UE para carne bovina e de vitelo foi fortemente alterado pelos medos relacionados à EEB de 1996 e 2000/2001 e pelas medidas que foram tomadas em resposta a estas crises. Estima-se que no período entre 1996 e 2004, mais de oito milhões de animais foram abatidos nos esquemas de abates e cerca de seis milhões de bezerros foram sujeitos a esquemas de fornecimento de emergência em um esforço para manter a oferta o mais próximo possível do decadente consumo.

Além disso, o mercado foi abalado pelos abates relacionados aos surtos de febre aftosa no Reino Unido e, em menor extensão, na Holanda, França e Irlanda, em 2001, de cerca de 850 mil bovinos, essencialmente no Reino Unido.

O impacto dessas medidas reforçou a redução estrutural no rebanho bovino da UE devido à constante redução no rebanho leiteiro relacionada ao efeito conjunto das constantes cotas de leite e aumento na produção leiteira.

Estima-se que, entre 1990 e 2004, o rebanho leiteiro da UE decresceu cerca de 30%. O rebanho de vacas paridas, que se desenvolveu fortemente durante os anos noventa, vem declinando levemente desde o ano 2000, à medida que a Agenda 2000 da reforma da PAC introduziu restrições mais severas às densidades dos estoques.

Desde então, o número de vacas paridas caiu em cerca de 0,5 milhões de cabeças o que, juntamente com o declínio estrutural do rebanho leiteiro, fez com que o rebanho bovino total caísse em mais de 1,6 milhão de animais em três anos. Todos esses fatores tiveram um impacto profundo na produção de carne bovina, que caiu em quase 5% entre 1999 e 2004.

A produção de carne bovina apresentou um certo aumento em 2004 devido ao crescimento nos abates ocorrido no final do ano em alguns Estados Membros que aplicaram o desacoplamento dos pagamentos de intervenção a partir de 2005 (em dezembro de 2004 os abates foram 10% maiores do que a média dos últimos anos).

A produção de carne bovina deverá continuar aumentando levemente em curto prazo, após a retirada do esquema de mais de trinta meses (Over Thirty Months Scheme – OTMS) – proibição da entrada de quaisquer produtos provenientes de bovinos com idade superior a 30 meses em qualquer alimento ou cadeia alimentar – no Reino Unido a partir de 2006 (em primeiro de dezembro de 2004, o governo do Reino Unido anunciou o começo de uma transição em direção à retirada do OTM para animais nascidos após o reforço na barreira imposta às rações animais em agosto de 1996 e sua substituição por um sistema de testes de bovinos para EEB.

Quaisquer mudanças no esquema doméstico de OTM não deverão entrar em efeito antes da metade de 2005, significando que a carne bovina de animais de mais de trinta meses de idade possivelmente entrará na cadeia de alimentos somente em 2006) e dada a limitada remoção do estoque de animais de criação relacionada à introdução do desacoplamento dos pagamentos diretos aos produtores de carne bovina em 2005.

Com relação a isso, a introdução do pagamento único desacoplado às fazendas deverá ter um impacto significante no setor de carne bovina. Combinado com um leve aumento relativo nos preços dos cereais usados nas rações, a projeção é de redução dos incentivos para sistemas de produção intensiva de carne bovina e geralmente redução na produção de sistemas de produção não lucrativos, gerando uma redução geral na produção de carne bovina da UE. Em médio prazo, a produção de carne bovina deverá cair cerca de 7,6 milhões até 2012, uma redução de cerca de 420 mil toneladas com relação a 2004.

O consumo de carne bovina na UE rapidamente retornou aos níveis de antes da EEB e, desde 2003, o consumo tem sido maior que a produção. Este status de importador líquido deverá persistir durante todo o período de 2005-2012.

O aumento da UE ocorrido em maio de 2004 não resultou em alterações dramáticas no mercado de carne bovina. Ao contrário, o aumento do comércio entre os velhos e os novos Estados Membros levou ao aumento dos preços nos novos membros sem levar a maiores aumentos de preços também nos 15 países que já faziam parte do bloco europeu, que enfrentam baixas disponibilidades.

O aumento do bloco não deverá ter um profundo impacto nessas projeções, à medida que os novos Estados Membros contribuem somente com cerca de 8% da produção de carne bovina e de vitelo e 6% do consumo da UE-25. A produção de carne bovina nos novos Estados Membros se origina quase que completamente do rebanho leiteiro.

Mesmo tendo sido observado um crescimento limitado nos números de vacas paridas nos últimos anos, o rebanho de corte dos novos Estados Membros deverá continuar representando uma participação limitada do rebanho total (menos de 5%) durante o período projetado.

O aumento no fluxo comercial (tanto de animais vivos como de carne bovina) dos novos Estados Membros para os 15 membros antigos desde o aumento do bloco, com seu impacto na disponibilidade de carne bovina e aumento de preços, acentuou o declínio no consumo de carne bovina e de vitelo nos novos Estados Membros, com o consumo per capita caindo para 6,7 quilos em 2004.

Durante os últimos 10 anos, o consumo de carne bovina caiu dramaticamente nos novos Estados Membros (até 50%) de acordo com a forte redução na produção de carne bovina. O consumo de carne bovina deverá estagnar em médio prazo à medida que o potencial aumento estimulado pelo crescimento no nível de rendimento será amplamente balanceado pelo aumento sustentado nos preços para carne bovina observado desde a ampliação do bloco e pela baixa preferência dos consumidores europeus por carne bovina.

Os preços no mercado de carne bovina aumentaram substancialmente nos novos Estados Membros desde a ampliação do bloco, com aumentos variando entre 10% e 30%. Espera-se que o estreito mercado dentro da UE possa resultar em preços firmes durante todo o período projetado.

Previsões para o mercado de carne bovina da UE (em milhões de toneladas), 1991-2012


Uma firme demanda e uma estreita oferta doméstica deverão resultar em preços firmes durante o período projetado, atraindo mais importações entrando com tarifa total, especialmente de cortes de carne bovina de alta qualidade da América do Sul.

As importações totais de carne bovina deverão atingir 0,6 milhões de toneladas no final do período projetado. As exportações extra-UE-25 serão mais e mais reduzidas pela menor disponibilidade doméstica e menor competitividade (os altos preços domésticos e o forte euro deverão enfraquecer a competitividade nas exportações de carne bovina da UE) e, depois de um possível leve aumento em 2006 graças ao aumento temporário na disponibilidade relacionado ao fim do OTM no Reino Unido, as exportações deverão continuar com sua tendência de queda, caindo para quase 100 mil toneladas até 2012.

Consumo total de carnes

O medo gerado pela EEB em 2000/2001 levou a uma redução muito mais marcada no consumo de carne bovina da UE (-12%) do que aquele de 1996 (que levou a uma estabilidade em curto prazo no consumo total de carnes), resultando em uma redução no consumo total de carnes de 2%. Tanto o setor de carne suína como de aves estão em uma fase de baixa produção e não estão prontos para se beneficiar totalmente da queda do consumo de carne bovina.

A ampliação do bloco ocorrida em 2004 com o acréscimo de 10 novos Estados Membros resultou na redução do consumo per capita de carnes na UE-25 à medida que menos carne é consumida nesses novos membros.

Particularmente, muito menos carne bovina é consumida nos novos Estados Membros (7 quilos per capita comparado com os 20 quilos nos 15 membros antigos da UE em 2004). O consumo de carne bovina e de vitelo nos novos Estados Membros deverá permanecer estável em baixos níveis à medida que um possível aumento devido ao crescimento no nível de rendimento será amplamente compensado pelo aumento nos preços relacionados à ampliação do bloco e às baixas preferências dos consumidores por carne bovina.

O gráfico a seguir mostra a evolução do consumo per capita de carnes na UE durante o período de 1973 a 2004 (todos os dados de antes de 2004 se referem aos 15 países que já eram membros do bloco antes da ampliação) e apresenta projeções de médio prazo para os anos seguintes, até 2012.

Para permitir uma visão gráfica de longo prazo, os dados dos 15 países da UE nos anos de antes de 1995 foram recalculados como média ponderada dos dados disponíveis para Comunidade Européia 9 e Comunidade Européia 12 e os dados individuais da Áustria, Suécia e Finlândia.

A tendência de longo prazo de alto consumo per capita de carnes começou a cair no início dos anos noventa, mas grandes aumentos no consumo de carne em 1998, 1999, 2002 e 2003 parecem ser contraditórios com a idéia de que o consumo de carnes, no geral, está saturado.

As previsões para o consumo geral de carnes na UE que estão apresentadas neste relatório foram estabelecidas sem impor nenhuma redução geral e reflete a evolução projetada dos tipos individuais de carnes. De acordo com essas projeções por setores individuais, o consumo total de carnes na UE-25 deverá aumentar de 87,4 quilos per capita em 2004 para 89 quilos até o ano de 2012.

Consumo per capita de carnes na UE, 1973-2012 (quilos/pessoa)


Previsões para os mercados agrícolas mundiais

Esta parte do relatório tem o objetivo de fornecer uma visão geral das previsões de longo prazo para os mercados mundiais para alguns produtos agrícolas. Apesar de a Comissão Européia ter desenvolvido suas próprias previsões de mercado para a UE, as previsões dos mercados mundiais são principalmente estimadas com base em relatórios e projeções divulgados por diferentes organizações internacionais, especialistas e instituições estrangeiras, especialmente com base em dois grupos de projeções de médio prazo para os mercados agrícolas internacionais.

O primeiro é proveniente do Instituto de Pesquisa de Políticas Agrícolas e Alimentícias (Food and Agricultural Policy Research Institute – FAPRI), com unidades da Universidade de Missouri-Columbia e Universidade do Estado de Iowa, que fornecem análises e previsões econômicas para o Congresso dos EUA (FAPRI Outlook).

O segundo grupo de projeções consiste nas previsões de médio prazo da Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (Organisation for Economic Co-operation and Development – OECD), que refletem informações fornecidas por seus membros, bem como uma análise independente do Secretariado OECD.

Em alguns casos, são feitas referências a dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), produzidos pelo World Agricultural Outlook Board.

Essas projeções constituem as mais recentes e amplas projeções agrícolas de longo prazo disponíveis até o momento. Entretanto, é necessário enfatizar que essas foram realizadas no final de 2004 e/ou começo de 2005 com base nas informações disponíveis no final de 2004.

Desta forma, elas não levam em total consideração os desenvolvimentos mais recentes sobre a situação geral econômica e nos mercados agrícolas, como um possível impacto do segundo caso de EEB nos EUA.

Apesar de essas projeções considerarem mudanças recentes nas políticas domésticas nos principais países produtores (como a implementação da reforma da PAC na UE, em 2003), elas assumem uma continuação dos atuais acordos da OMC. Desta forma, alguns assuntos importantes foram avaliados com base nas últimas informações pela Comissão Européia durante a elaboração deste relatório.

Setor de carnes

As perspectivas de médio prazo para os mercados de carnes são de maior produção, consumo e comércio. Esse aumento no consumo de carnes será apoiado principalmente pelo favorável ambiente macro-econômico de crescimento sustentado no rendimento, em particular nas economias emergentes da Ásia e da América Latina, e pelas mudanças nos padrões dietéticos em muitas regiões.

À medida que ocorrerá uma maior demanda em muitos países importadores líquidos, o comércio mundial aumentará e os preços mundiais mostrarão um crescimento moderado. As projeções da FAPRI mostram um crescimento sustentado no comércio de carne bovina de quase 1,7 milhão de toneladas durante o período de 2004-2012 (isto é, de quase 50%), com a maioria do crescimento ocorrendo em Ásia, México e Egito, enquanto a Rússia mostrará somente um crescimento moderado desde a introdução das cotas sujeitas a tarifas em 2003.

Previsões para importações líquidas de carne bovina, 1995-2012 (1000 toneladas)


Ref.: FAPRI (importações mundiais líquidas) e OECD (região comercial da OECD).

Depois de preços bastante altos registrados nos dois últimos anos, principalmente devido às alterações no comércio relacionadas à EEB na América do Norte, os preços da carne bovina deverão reduzir gradualmente e se estabilizar em médio prazo em torno de US$ 1.600 a tonelada.

Os preços permanecem apoiados por uma forte demanda de importação, embora as mudanças estruturais no mercado mundial de carne bovina, a emergência de novos países exportadores e o aumento da competição com carnes devam conter as tendências de alta nos preços da carne bovina.

As perspectivas de médio prazo para carnes mantêm seu foco nas carnes bovina, suína e de aves. A maioria das organizações internacionais fornece previsões caracterizadas pelo crescimento da produção, consumo e comércio, bem como dos preços mundiais das carnes, mostrando um fortalecimento moderado, muitas vezes com características divergentes.

O comércio mundial de carnes aumentará e os preços permanecerão relativamente altos durante o médio prazo mesmo depois dos déficits relacionados a doenças animais, à medida que o crescente consumo é esperado em países que são importadores líquidos com limitadas possibilidades de aumentar proporcionalmente e competitivamente a oferta (em quantidade e qualidade).

Previsão para as importações mundiais de carnes, 2004-2012 (1000 toneladas)


Essas projeções contam bastante com a suposição de que a recuperação das recentes desacelerações econômicas se transformará em crescimento econômico sustentado em médio prazo. Elas também assumem que as recentes alterações nos mercados mundiais de carnes causadas por questões sanitárias, como aqueles que afetaram os mercados no Japão, Sudeste da Ásia, Brasil, Argentina, Canadá, EUA e UE nos últimos anos, não ocorrerão durante o período projetado.

A ocorrência de crises sanitárias e/ou de segurança alimentar poderia alterar significantemente as tendências futuras nos mercados internacionais de carnes aumentando a segmentação do mercado e limitando acessos a alguns potenciais exportadores.

Previsões para os preços mundiais de carnes, 1996-2012 (US$/t)


Os surtos de doenças animais dos últimos anos – especialmente na UE e na Argentina – juntamente com o surgimento de EEB no Canadá e nos EUA reforçaram a tradicional divisão entre os mercados Pacífico e Atlântico, com importantes conseqüências políticas e de mercado. O impacto dos casos de EEB na América do Norte ainda pode ser sentido no comércio mundial de carne bovina, com a redução nos envios dos EUA (principalmente ao Japão) e os conseqüentes efeitos positivos em outros exportadores de carne bovina, principalmente Austrália, mas também no comércio de carne suína e de aves.

De acordo com as projeções da OECD e da FAPRI, a produção mundial de carne bovina deverá aumentar durante o período de 2004 a 2012. A OECD e a FAPRI antecipam uma taxa média de crescimento anual entre 0,6% para a região da OECD e 1,3% para o mundo todo. Contrário à área de fora da OECD, os países desenvolvidos apresentarão somente um aumento moderado na produção de carne bovina.

No entanto, em nível de país, mudanças substanciais na produção de carne bovina estão projetadas pela OECD. Elas incluem fortes aumentos no Canadá e um desenvolvimento mais moderado na produção dos EUA. Com relação às previsões para o setor de carne bovina dos EUA, a FAPRI prevê uma expansão moderada no próximo ciclo pecuário dos EUA depois da baixa atingida em 2004.

Com relação à região de fora da OECD, todas as projeções mostram um firme aumento na produção de carne bovina no Brasil (entre 1,8% e 2,4% por ano em média nos próximos sete anos, de acordo com a OECD e a FAPRI), na Argentina (entre 0,6% e 1,8% por ano em média, respectivamente) e China (onde ambas as agências previram uma excelente taxa anual de crescimento de 3,8%).

As previsões para a Rússia são confusas, com a OECD projetando um aumento de 8,5% nos próximos sete anos e a FAPRI prevendo um decréscimo de 15%.

O consumo global de carne bovina deverá aumentar gradualmente em cerca de 1,6% ao ano em média segundo as projeções da FAPRI com relação ao crescimento do rendimento, especialmente nas economias emergentes. Em muitos países desenvolvidos, o consumo per capita de carne bovina deverá estagnar ou cair, uma vez que os consumidores substituirão a carne bovina por suína ou de aves.

Previsões para produção mundial de carne bovina, 1996-2012 (milhões de toneladas)


Ref.: OECD – dados para a região da OECD; FAPRI: dados de países selecionados.

Em contraste, após um declínio em curto prazo no final dos anos noventa relacionado à deterioração da situação econômica, a demanda por carne bovina deverá aumentar durante o período projetado em países da Ásia (principalmente China, Índia, Indonésia, Japão e Tailândia) e, em menor extensão, na América Latina (Brasil, Argentina e México).

Na Ásia, o consumo de carne bovina deverá aumentar gradualmente de níveis relativamente baixos, em resposta ao crescimento populacional, desenvolvimento econômico e maior renda disponível que deverá levar a mudanças nos hábitos alimentares em direção a um estilo mais ocidental.

A OECD não espera que o crescimento na demanda por carne bovina na China gere um crescimento significante nas importações, uma vez que a previsão é de que o consumo adicional de carne bovina seja suprido pela maior produção doméstica devido à política comercial da China.

Ao contrário, a FAPRI prevê um aumento nas importações líquidas de carne bovina pela China até o final do período projetado (300 mil toneladas) devido a alguns cortes às tarifas de importação de carnes da China por causa de sua entrada na OMC.

Além disso, o consumo adicional de carne bovina deverá criar mercados adicionais para os principais exportadores deste produto, à medida que as limitações na capacidade de produção de alimentos animais (em termos de terra e área de forragem) em muitos países da Ásia deverão reduzir o crescimento da produção doméstica.

Previsões para as importações líquidas de carne bovina pelos principais países importadores, 2004-2012 (1000 toneladas)


A FAPRI prevê que o comércio total de carne bovina deverá aumentar em 1,7 milhão (isto é, quase 50%) durante o período de 2004-2012. Grande parte do crescimento nas importações deverá ocorrer em Ásia, México, Egito e Rússia.

As importações de carne bovina da Ásia (particularmente Japão, Coréia do Sul, Taiwan e Filipinas) deverão continuar crescendo durante a próxima década. As importações de carne bovina do Japão deverão aumentar gradualmente durante o médio prazo, quando a recuperação no consumo após o medo gerado pela EEB ultrapassará o crescimento na produção doméstica.

As projeções da OECD mostram que as melhorias na eficiência e na competitividade no setor de produção animal da Rússia somente permitirão um aumento gradual na produção doméstica, que será insuficiente para responder completamente ao aumento no consumo doméstico, gerando, desta forma, importações adicionais.

Segundo as previsões da FAPRI, o aumento gradual nas importações de carne bovina da Rússia será relacionado com um declínio na produção doméstica, que ultrapassará a esperada queda no consumo de carne bovina em médio prazo.

A FAPRI espera que uma recuperação gradual nas exportações dos EUA após a crise da EEB absorva 75% do crescimento na demanda mundial de importação. Outros produtores de baixo custo, como Brasil e Argentina, também mostrarão ganhos em curto prazo, graças à substancial e oportuna reconstrução do rebanho.

A Austrália e a Nova Zelândia também deverão aumentar suas exportações. Assim como no ano passado, a OECD prevê um cenário diferente, com o Canadá devendo expandir sua produção em 35% e, desta forma, sua participação no mercado mundial de carne bovina.

Se alguns fatores podem ser esperados para exercer alguma pressão para baixo nos preços da carne bovina (incluindo mudanças estruturais no mercado mundial de carne bovina, emergência de novos importantes exportadores e aumento na competição por outras carnes), uma sustentada demanda de importação – especialmente no mercado Pacífico – combinada com um crescimento limitado na produção de carne bovina deverá contribuir para apoiar os desenvolvimentos do preço no mercado em médio prazo.

Depois de preços muito altos registrados nos dois últimos anos, principalmente devido às alterações comerciais relacionadas à EEB na América do Norte, os preços da carne bovina deverão cair gradualmente e se estabilizar em médio prazo em torno de US$ 1.600 por tonelada.

Alguns assuntos importantes

Se as previsões para os mercados agrícolas durante os próximos sete anos parecem relativamente favoráveis, elas claramente permanecem sujeitas a certas incertezas. Com relação a isso, podem ser identificadas quatro áreas de incertezas:

  • Perspectivas econômicas;
  • Limite para crescimento da produção;
  • Política e ambiente comercial; e
  • Alterações relacionadas a doenças animais.

Perspectivas econômicas

As projeções de médio prazo da FAPRI, OECD e USDA dependem muito e criticamente de um robusto e sustentável crescimento econômico que é esperado em médio prazo em muitas regiões em desenvolvimento (particularmente China, Sudeste da Ásia, América Latina, África do Norte e Oriente Médio).

Uma forte e sustentável expansão econômica, o crescimento populacional, a urbanização e mudanças dietéticas nessas regiões constituem as principais forças direcionadoras por trás da projetada recuperação na maioria dos mercados agrícolas, à medida que todos deverão aumentar sua demanda global por alimentos e estimular o sólido crescimento no mercado mundial.

Uma previsão de forte e amplo crescimento nos países desenvolvidos se combinará com uma rápida recuperação em muitas economias emergentes em direção a uma expansão sustentada para determinar um estágio para um prolongado período de grande crescimento em quase todas as regiões do mundo, sem pressões inflacionárias significantes.

Suposições do USDA para crescimento real anual no PIB, 2004-2012 (%)


Entretanto, fontes significantes de risco para a sustentabilidade e durabilidade da recuperação econômica permanecem. Elas se referem especialmente à instabilidade desenvolvida no final dos anos noventa nos EUA e na economia global, com grandes contas correntes e déficits orçamentários nos EUA e excedentes em outros países, menor taxa de economia pessoal nos EUA, aparente desvalorização do dólar norte-americano e supervalorização do euro, e os níveis relativamente altos de dívidas corporativas e domésticas em uma série de países.

Esses desequilíbrios têm sido estimulados em grande parte por um crescimento relativamente rápido nos EUA com relação a outros países. Também existem preocupações com relação a mercados financeiros, que podem ainda incluir expectativas relativamente otimistas para lucratividade corporativa e ritmo de recuperação, e sobre o Japão, onde a situação econômica continua representando uma fonte de sérias preocupações.

Além disso, ainda existem riscos específicos na previsão de médio prazo. A volatilidade nos preços do petróleo pode se tornar um risco potencial para recuperação, especialmente se a situação de segurança no Oriente Médio piorar ainda mais.

Depois de uma forte desvalorização nos últimos anos, mudanças significantes nas taxas de câmbio nos países da América Latina poderão afetar significantemente o comércio e os mercados agrícolas.

Uma redução nos desequilíbrios globais e um sistema macro-econômico de suporte também se mostram necessários para garantir a confiança dos investidores e manter um crescimento firme e estável nos próximos anos.

Um crescimento econômico em um ritmo mais lento poderá levar à menor demanda e menor comércio de alimentos e, conseqüentemente, a menores previsões de preços mundiais. O maior impacto adverso deverá ocorrer em produtos agrícolas com valor agregado, como carnes, produtos lácteos e alimentos processados, que são direta e indiretamente sensíveis a mudanças no rendimento. Uma menor demanda para esses produtos poderá, por sua vez, fazer uma pressão de baixa nos preços dos grãos.

Potencial de crescimento na oferta agrícola

O aumento moderado projetado no comércio e nos preços em médio prazo, um dos principais resultados das projeções, permanece fortemente condicionado à capacidade de ajuste na oferta agrícola e à rápida expansão da demanda por alimentos em algumas regiões do mundo.

Assim como ocorreu nas últimas décadas, grande parte do crescimento na produção de grãos deverá ser direcionada pelo aumento na produtividade à medida que o potencial para adição de terra é visto como limitado na maioria das regiões – com notável exceção para Argentina, Brasil, Austrália, México e Rússia – devido à expansão das áreas urbanas, pressão nos recursos agrícolas e meio-ambiente e limitações climáticas. Os aumentos projetados não parecem suficientes para reverter esta tendência.

Se o crescimento total na produtividade de cereais poderá ser de forma geral comparável durante os próximos sete anos ao crescimento dos anos noventa, este deverá permanecer significantemente menor do que na década anterior. Entretanto, as previsões para níveis mais favoráveis de preços e aumento na confiança nas importações de alimentos em algumas regiões podem gerar mais pesquisas para renovação nos ganhos em produtividade (em termos de maior adoção de variedades e métodos de produção agrícola melhorados, aumento nos investimentos em estrutura agrícola, estocagem, transporte e sistemas de comercialização).

Neste contexto, a administração política e o desenvolvimento em alguns importantes países produtores – como China, Rússia e Índia – e países exportadores – como UE e EUA – poderão também ter implicações de longo alcance para o nível futuro na oferta agrícola mundial.

Ambiente político e comercial

As mudanças futuras nas políticas agrícolas e comerciais, bem como uma nova rodada de negociações comerciais multilaterais podem ter importantes implicações nas previsões de médio prazo para a produção, consumo, comércio e preços agrícolas, bem como no funcionamento dos mercados agrícolas.

Elas incluem especialmente a reforma na PAC da UE de 2003 (impacto da implementação do Pagamento Agrícola Único e da reforma de algumas organizações comuns de mercado), a recente ampliação da UE com adição de 10 novos Estados Membros e a futura ampliação com a entrada de dois países (Bulgária e Romênia), além da emergência de novas questões relacionadas à qualidade alimentar e meio-ambiente.

Questões sanitárias e de saúde animal

Uma série de surtos de doenças animais tem afetado importantes países produtores e exportadores nos últimos anos (EEB na UE, Japão, Canadá e EUA; influenza aviária no Sudeste da Ásia e América do Norte; febre aftosa na UE e América do Sul; doença de Newcastle nos EUA).

A maioria das projeções assume condições normais relacionadas a doenças animais em médio prazo. Isso significa que se assumiu que as atuais epidemias vão diminuir e se tornar rapidamente sob controle e que não aparecerão novas doenças durante o período projetado.

A recente experiência mostrou que, seja qual for a escala das epidemias – alguns surtos foram limitados a poucos casos – seu impacto nos mercados foi dramático, com alteração nos padrões de produção e nos fluxos comercias e efeito pronunciado nos preços nos mercados.

Desta forma, qualquer surgimento de doenças animais no futuro, que é mais provável do que assumir a ausência desses surtos, poderá ter repercussões drásticas e significantes no comércio e nos preços do mercado mundial, mesmo se limitados a uma região definida.

Referências bibliográficas

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